Crítica: Hip-Hop Evolution - 2a Temporada

Ano passado lançamos aqui no site o Garimpo Netflix: Hip-Hop no qual, além de eu pagar um pau tremendo para a série “Atlanta” (cuja 1a temporada está na Netflix e ela toda no Fox Premium), eu também indiquei a primeira temporada de Hip-Hop Evolution. Os metaleiros Sam Dunn e Scott McFadyen, veteranos de documentários musicais focados no rock e no metal, resolveram pegar a mesma fórmula consagrada por “Metal Evolution”, no qual o próprio Dunn apresentava a evolução e os vários estilos do heavy metal, e transpô-la para o hip-hop.

Para tanto, eles recrutaram o rapper canadense-queniano Shad para servir de apresentador, orelha e tiete dos nomes antológicos que seriam entrevistados, tudo na intenção de se fazer um apanhadão da história do hip-hop desde seus primórdios até o momento atual em que é possivelmente o estilo musical mais popular e influente do mundo. Shad, por ser um cara de fora dos EUA, foi uma escolha acertada, pois ele traz um senso de admiração e respeito por tudo aquilo que talvez se perdesse em alguma outra figura do rap americano.

Depois de estabelecer a fundação do hip-hop na 1a temporada, os 4 episódios de 45 minutos desta segunda saem de Nova Iorque e exploram como o rap começara a influenciar as comunidades negras no país, demonstrando que a música, como qualquer outro aspecto cultural, tem um caráter inegavelmente local, sendo influenciada pelo espírito de determinado lugar. Isto fica muito claro quando se percebe a forma que a Flórida pegou o hip-hop meio bobão do início e o transformou numa máquina de putaria agressiva que viria, inclusive, a dar origem ao funk carioca no final dos anos 80. Vejam só:

I met this bitch standing on the block – Conheci uma danada no meu prédio
She’ll suck on my dick if I buy her a rock – Ela chupa meu pau se eu comprar crack para ela
Got the pussy got the pussy – Passei a rola passei a rola
She got jacked she got jacked – Gozei nela gozei nela
Punched her face punched her face – Soquei a cara dela soquei a cara dela
And I took my money back – E peguei a grana de volta

Além da Flórida com 2 Live Crew e Uncle Luke, a 2a temporada também dá uma volta por Houston e Too Short, creditado como responsável pela obsessão que o hip-hop tem com cafetões, pela Bay Area do norte da Califórnia de onde saíram gente como MC Hammer (que eu nem sabia que era considerado hip-hop) e Tupac Shakur, possivelmente o maior artista da história do rap, e volta a Nova Iorque. Aqui é mostrado como alguns grupos como A Tribe Called Quest e De La Soul estavam mudando a cara do rap com suas influências mais eruditas e, finalmente, chegamos a Nas, Notorious B.I.G. e ao mitológico Wu Tang Clan, responsáveis por trazer um pouco do foco de volta à costa leste.

Se a 1a temporada focou nos anos 70 e 80, esta segunda teve seu foco no final dos 80 e início dos 90, deixando claro que ainda vem mais coisa por aí afinal, já que foi a partir de gente como Tupac, Biggie, Dr. Dre e Snoop Dogg mais ou menos por essa época que o hip-hop se tornou a febre mundial que é já há mais de duas décadas.

Trata-se de um documentário muito bem feito, que vai bem fundo em nomes desconhecidos do grande público para fazer um retrato embasado de toda a cultura hip-hop, valendo-se do depoimento de ilustres desconhecidos e de gente gigantesca como P. Diddy, LL Cool J e Chuck D para ilustrar esta história. O problema, que já vem da 1a temporada, é aquela sensação que fica de que eles talvez estejam exagerando a importância de várias das coisas mostradas ali, já que em cada episódio tem pelo menos umas 4 pessoas que são “o mais foda rapper” de tal lugar, de tal estilo e por aí vai. Fica-se com uma sensação meio chapa branca, de que a coisa toda foi feita sem muito senso crítico, mas muito mais para dar uma pelada no saco dos nomes apresentados.

Ainda assim, Hip-Hop Evolution cumpre com louvor seu papel de educar e instruir as pessoas acerca deste gênero musical relativamente recente, mas já arraigado indelevelmente no patrimônio cultural mundial.

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