Crítica: Making a Murderer - Parte 2
“O raio não cai duas vezes no mesmo lugar” reza o senso comum. Mas Steven Avery é a prova viva que depõe contra a regra do povo. Como vimos na parte 1 de Making a Murderer (inclusive, presente em nosso Assista!), este homem fora condenado por um crime que não cometera e, após anos e anos na prisão, um vestígio de DNA trouxe sua liberdade de volta. Pouco tempo depois, enquanto processava o estado em US$ 36 milhões por suas perdas inestimáveis de milhares de dias encarcerado, um outro crime fora ligado à sua pessoa e, em uma velocidade inacreditável, ele foi condenado à prisão perpétua. Na primeira temporada desta série de 10 episódios, as diretoras Moira Demos e Laura Ricciardi nos mostraram os diversos furos em todo o processo criminal que levara Steven Avery de volta ao confinamento. Agora, em sua segunda parte, apresentam a continuação dessa jornada em busca de comprovação da inocência.
A segunda temporada inicia mostrando a reação das pessoas em relação a esta história apresentada ao mundo por meio da Netflix. Muitos foram aqueles que começaram um apoio mundial à figura de Avery e, nos Estados Unidos, algumas manifestações foram registradas em favor do prisioneiro. Em uma delas, os contrários ao apresentado pela produção gritam “Não deixe a Netflix definir o que você pensa”. Muito embora a construção narrativa de Demos e Ricciardi deixe muito claro que algo criminoso fora feito pelos investigadores e promotoria em relação ao réu, ainda há aqueles que o vêem como o culpado. Mas estamos falando de uma sociedade que ainda hoje acredita que Lee Harvey Oswald foi quem largou o pipoco no Kennedy, não é?
O grande turning point desta temporada é o momento em que Steven arruma uma nova advogada. Com histórico de quase 20 casos nos quais ela conseguiu reverter a sentença, libertando condenados, Kathleen Zellner é a típica advogada badass para botar qualquer estereótipo do Cinema ficção no chinelo. A mulher é tão poderosa, segura e precisa em suas ações que passa a dominar a narrativa de toda a segunda temporada, desde sua primeira aparição, entre a conclusão do primeiro e início do segundo episódios. Ela começa a buscar furos de provas implantadas (as quais nos foram apresentadas na primeira parte da história) e reconstitui o cenário, quase como se pudesse entrar na mente daqueles agentes que armaram para cima de Steven. E as tiradas e saídas da mulher são algo de te fazer ficar inquieto na cadeira. A cada nova investida dela toda a narrativa por trás do suposto crime de Avery vai ficando mais e mais absurda, de forma que a cada episódio falamos com inabalável certeza “agora o cara sai!”.
No entanto, o sistema é muito maior que tudo e vai engolindo cada ação dessas sem nem deixar vestígio. Em ambos os casos, seja o de Steven Avery, seja o de Brendan Dassey (o sobrinho condenado como cúmplice, em outra ação para além do absurdo, em uma atitude claramente coercitiva e documentada da polícia), os advogados vão se enchendo de esperança – mais ainda os familiares que sofrem com o sem-número de prejuízos perpetrados por um sistema de justiça corrupto – e minguando embasbacados por decisões inesperadas e absurdas. Tal qual bonecos que se inflam com ar, como se alimentados com vida, e murcham diante de um furo que os fazem esvaziar.
Longe de lançar qualquer conclusão sobre o caso, ficamos de frente para mais uma situação em que, a cada passo, o destino de ambos os condenados injustamente são afunilados pelos erros e propósitos malditos daqueles que se utilizam de seu poder para marcar uma posição pessoal. O sistema não existe em prol do indivíduo; o Estado não é uma máquina para administrar conflitos; e seus indivíduos seguem sem liberdade e com injustiça para todos.
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