Crítica: Operação Final (Operation Finale)
Após a 2a Guerra Mundial e a instauração do Estado de Israel, uma forte sede de justiça (e vingança) se formou no povo judeu contra aqueles que haviam perpetrado o holocausto anos antes e escaparam ilesos. Ainda que os principais artífices de tudo – Hitler, Goebbels, Himmler e Goering – houvessem se suicidado, alguns nomes de grande importância do III Reich ainda estavam soltos por aí. Spielberg já havia falado a respeito dessa sede de vingança judia, que culminou com a criação pelo Estado de Israel de verdadeiros grupos de caça a ex-nazistas foragidos por todo o mundo em seu excelente “Munique” (que está em nosso Top 10 – Filmes Dirigidos por Steven Spielberg), valendo-se da sua hoje famosa Mossad e do Shin Bet para encontrar e, em geral, executar estes criminosos de guerra.
Em 1960, contudo, o nome que havia sido encontrado em Buenos Aires era grande demais para ser simplesmente morto. Era necessário capturá-lo, julgá-lo pelas leis israelenses e televisionar o julgamento para o mundo todo, de modo a conferir ao povo judeu uma catarse que os muitos mortos na surdina até então não traziam.
Este nome era o de Adolf Eichmann, o idealizador e executor da famigerada “Solução Final“. Caso você não saiba do que se trata, é um favor que você faz a si mesmo, à sua família e a todo o mundo clicar ali no link para entender do que se trata. A título de resumo e a grossíssimo modo, foi Eichmann, o über burocrata, quem fez as contas e percebeu que tinha judeu demais em campos de concentração e matá-los à bala gastaria muito dinheiro, então seria necessário, pela primeira vez na história da humanidade, industrializar o assassinato, fazer da morte de milhões de judeus uma eficiente e mais econômica linha de montagem.
Operação Final trata justamente do descobrimento, captura e do cativeiro deste sujeito que motivou a filósofa Hannah Arendt, após analisar detidamente o seu julgamento televisionado ao mundo todo, a cunhar a expressão, hoje largamente usada, da “banalidade do mal”. Tentando trilhar um caminho que o leva pelo gênero thriller de espionagem, acompanhamos as situações reais, ainda que inacreditáveis, pelas quais os agentes israelenses tiveram que passar para conseguir capturar Eichmann, o que se mostrava necessário porque uma mera denúncia ao governo argentino não era opção em função da notória dificuldade em se extraditar nazistas da Argentina.
Temos aqui, portanto, um caso real cujo desenrolar tem contornos fortes de ficção nos quais ninguém acreditaria não tivessem eles acontecido de verdade. Um prato cheio para um thriller de tirar o fôlego, com reviravoltas que sequer precisariam ser inventadas por algum roteirista e momentos de tensão que se escreveram sozinhos em 1960.
Contudo, o diretor Chris Weitz (de bons filmes como “Um Grande Garoto” e “Uma Vida Melhor”, mas também de merdas fumegantes como um dos filmes da Saga Crepúsculo) fracassa na tentativa de imprimir qualquer tensão ao seu longa, fazendo com que este não funcione como um thriller, mas tão somente como uma boa recriação de um momento chave na história recente do povo judaico. Cabe lembrar que até pouquíssimo tempo atrás nada se sabia sobre aquela que se chamou Operação Finale e que dá nome ao filme no seu original.
Tendo como ponto alto as atuações sempre seguras de Oscar Isaac como Peter Malkin – um dos artífices da captura e tido como um dos maiores nomes da história do Mossad – e de Sir Ben Kingsley como Adolf Eichmann, destacando-se aqui os momentos do filme em que há um jogo mental entre os dois durante o cativeiro de Eichmann na Argentina, o longa se mantém competente no que se refere ao retrato fiel do que aconteceu. O seu principal problema vem de sua tentativa muitas vezes até mesmo meio infantil de imprimir uma tensão em situações que não têm nada de tensas e que mais tarde se mostram como algo que não traria qualquer consequência a justificar o sentimento de tensão.
Assim, funcionando muito bem como uma reencenação de luxo extremo de uma operação que culminou no julgamento que redefiniu ao mundo conceitos de certo e errado, Operação Final se pretende um thriller, mas em momento algum consegue causar qualquer tensão ao espectador.
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