Crítica: Dá Licença, Saúde (Sick Note) - 1a e 2a Temporadas
Nesse final de semana, a NETFLIX liberou as duas temporadas de Dá Licença, Saúde, série britânica original da Sky One, que conta com pequenos episódios – 14 de 20 minutos – e um elenco com alguns rostos conhecidos. Dito isso, sinto-me na obrigação de avisar da temática da obra, que pode ser delicada para algumas pessoas, especialmente considerando o tom com o qual é abordada. Temos aqui uma comédia que a todo instante aborda comportamentos e perspectivas sobre pessoas com câncer e como seus amigos e parentes orbitam a sua volta após saber o diagnóstico.
Caso você esteja ok com isso, conheça Daniel Glass (Rupert Grint), um enrolão que fica encostado na casa da namorada Beca (Pippa Bennett-Warner) e falta ao trabalho constantemente – aproveitando-se da legislação trabalhista que pune o empregador e que faz do Reino Unido apenas a 5a maior economia do mundo – na seguradora de saúde We Cover, para ficar jogando playstation em casa. Ao consultar um médico sobre uma “torção” no cotovelo – fugindo da uma possível demissão – para ganhar uns dias extras de folga, ele recebe o diagnóstico de câncer no esôfago, com expectativa de vida na casa dos 6 meses.
A notícia impacta Daniel e a todos que o achavam um merda, que agora passam a tratá-lo como nunca. Seus patrões não querem mais demiti-lo, inclusive dando mais dias de folga e um horário flexível, sua namorada que ia deixá-lo, agora o ama loucamente e seus amigos ficam mais presentes, incluindo os virtuais. Até que seu médico, Iain Glennis (Nick Frost), descobre que trocou os resultados do exame – pela enésima vez – e, ameaçado de demissão, corre atrás de Daniel para entregar a notícia sobre sua saúde e fazer com que ele assine um documento isentando o médico e o hospital do erro cometido. Óbvio que ele não aceita assinar e começa um jogo de chantagem que vai carregar a 1a temporada nas costas. Em troca de fingir que está tratando Daniel, o mesmo não processará o hospital. Todos ganham. O médico mantém seu emprego e Daniel continua com os benefícios diretos e indiretos por 6 meses, até ser “miraculosamente” curado do câncer.
Isso tudo ocorre no 1o episódio e, com alguns diálogos engraçadíssimos, em especial do CEO da We Cover, Kenny West (Don Johnson), parecia que a série ficaria nessa punheta de falsidade constante e como mudamos nossas atitudes perante o sofrimento alheio. Porra nenhuma.
Já no 2o episódio descobrimos podres das pessoas que cercam Daniel e ocorrem situações que comprometem sua mentira, mudando a cara da série completamente. A começar pela sua relação com o médico, que agora passa a entrar em questões criminais graves e divertidíssimas. Sua namorada e melhor amigo também criam situações que tornam muito difícil sustentar a aparência do seu tratamento, levando sua mentira a tomar proporções faraônicas. Quanto mais Daniel ganha notoriedade, mais elaborada fica a trama, em particular no seu trabalho, onde ele passa a assumir um novo e importante papel.
Dá Licença, Saúde triunfa na desgraça e no péssimo comportamento do ser humano. Todos os seus melhores momentos ou envolvem personagens fazendo algo desonesto ou envolvem crimes que beiram o hediondo, e isso tudo fazendo piada o tempo todo com câncer, como por exemplo gente falando “passa a bola” para pedir a palavra a uma pessoa que perdeu um dos testículos por conta da doença. Cruel? Sim. Engraçado? Certamente.
A 2a temporada segue a mesma linha, adicionando o amigo virtual agora em carne e osso. Essencialmente não há uma ruptura entre as temporadas, sendo a transição quase imperceptível. Porém, há uma leve queda na qualidade, principalmente pela perda do melhor personagem dos episódios inciais, que sempre se destacava em todas as suas cenas por ser um misógino daqueles bem cafajestes e que pratica asfixia autoerótica.
Em suma, caso você esteja procurando alguns momentos de diversão um tanto descompromissados, Dá Licença, Saúde vale seu tempo. Inclusive, recomendo fortemente que você assista alguns episódios dublados, que foram gravados com muitos palavrões e bem localizados, com gírias e piadas bem adaptadas ao público brasileiro.
Leave a Comment