Crítica: A Escuridão (The Darkness)
Há um tema recorrente na produção cinematográfica hollywoodiana que, por ser tão caro a todos nós, simplesmente não se esgota e nem parece que se esgotará: a família. O conceito de família é explorado por desde aquele que é, na minha opinião, o maior filme de todos os tempos – “O Poderoso Chefão” – até por coisas lamentáveis, mas rentabilíssimas, como toda a franquia “Velozes e Furiosos“. Nos filmes de terror, a família também é explorada com bastante frequência, basta olha para o clássico “Poltergeist” e para o mais recente e espetacular “A Invocação do Mal”, que está em nosso Top 10 – Filmes de Terror.
A Escuridão, filme de 2016 mas que só é lançado no Brasil oficialmente hoje pela Netflix, trilha também este caminho ao nos mostrar a aparentemente perfeita família Taylor. Inicialmente, está lá a estrutura de família nuclear tão cara aos americanos. O pai provedor, a mãe que fica em casa cuidando dos filhos, a adolescente chegando à maioridade e o pré-adolescente semi-problemático. É a partir desta alegoria que a obra de Greg McLean se desenvolve com os mesmos lugares comuns de sempre, o que não é obrigatoriamente um problema e aqui tampouco se mostra como um deles.
Os Taylor estão acampando no Grand Canyon quando Mike (David Mazouz), o caçula que tem um caso forte de autismo, se perde numa caverna aparentemente selada há séculos. Lá dentro, ele, sendo autista e personagem de filme de terror, toma a lastimável decisão de levar consigo umas pedras que obviamente não deveriam ser removidas de onde estavam e com isso carrega de volta para casa uma maldição que não só abalará as estruturas de sua família, como também lembrará a todos que aquela família aparentemente perfeita é qualquer coisa menos isso.
Ainda que timidamente, há aqui um leve comentário social sobre a validade da estrutura familiar como a conhecemos, o que poderia talvez ter rendido uma obra com maior estofo e carga emocional. De todo modo, o filme se concentra mesmo no desenvolvimento da maldição que cai sob aquela família e, principalmente, em tentar ser uma cópia semi-descarada dos sucessos mais recentes de seus produtores, em especial de “Sobrenatural”, de James Wan.
Mesmo sem fazer qualquer esforço para ser original, A Escuridão ainda tem algum mérito ao entender que seu papel ali é o de assustar o espectador e introduzir medo durante a sua hora e meia de exibição. E isto é feito com alguma competência, em especial na cena final em que os brancos americanos precisam se fiar em uma curandeira indígena para resolver todos os seus problemas e que é sem dúvida alguma o ponto alto do filme. Infelizmente, ela é seguida por um epílogo que redefine o adjetivo genérico, assemelhando-se mais a uma propaganda de empreendimento imobiliário do que qualquer outra coisa.
James Wan inaugurava com “Sobrenatural” uma nova era do terror, uma na qual o uso de um elenco robusto é a regra – seguida aqui com nomes como Kevin Bacon, Radha Mitchell e Paul Reiser – e na qual os sustos não acontecem com gratuidade. A Escuridão segue isso quase que à risca, em especial no que tange o bom elenco escalado, mas é prejudicado por ser derivativo e por muitas das escolhas da direção. Contudo, se você estiver neste final de semana depois do halloween querendo só tomar um susto ou outro, A Escuridão será uma boa pedida.
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