Crítica: Fortuna Maldita (Sebelum Iblis Menjemput)
De um mês para cá, mais ou menos, a Netflix passou a investir no lançamento de alguns filme de terror da Indonésia em seu acervo brasileiro. Resenhamos aqui “O Terceiro Olho“, “Kuntilanak” e hoje, o novo Fortuna Maldita, aguardando, ainda, um quarto para terça-feira próxima. Apesar do gênero ter seus lugares comuns, independente do local de produção, parece-me que os asiáticos flertam mais intimamente com um modo um tanto mais visceral de se contar a história, utilizando-se de elementos, por vezes, trash e splatter. Relembrando os dias iniciais do ocidental Sam Raimi, a obra de Timo Tjahjanto vai com tudo nesses recursos.
Vaidade e ambição são das características humanas as mais imperativas. Lesmana (Ray Sahetapy), homem já vivido, realiza um ritual satânico (ou qualquer coisa que o valha para o mundo oriental) para ter fortunas e mais fortunas ao longo da vida. Sacrifícios são requisitados em troca por parte do mochila de criança de olho puxado. No entanto, sem aprofundar na vida de Lesmana e apenas fazendo um resumão a partir de corte e colagem de jornais, o filme nos apresenta que algo ocorrera com o pacto e o velho agora se tornara pobre. Toda aquela riqueza o fizera montar uma nova família, afastando sua filha Alfie (Chelsea Islan), fruto do primeiro casamento, de si próprio. Contudo, acometido por algum problema sério e inexplicável após a derrocada, ele recebe a visita dela, que revisita velhos traumas de infância. Dessa vez, ao lado dos seus “semi-irmãos” e da madrasta, com os quais não tem qualquer ligação.
Indo para a casa de campo, onde tudo começara, os familiares iniciam uma exploração da habitação, quando, sem perceber, libertam uma entidade pavorosa, disposta a possuir cada um deles e destruí-los no melhor estilo Zé do Caixão. A história contada no primeiro ato retorna tão-somente no terceiro ato, atropelando-nos com uma hora de cenas nojentas e bizarras, que parecem nos levar para lugar nenhum. Como se o enredo – que não é ruim – fosse mera justificativa para o show de horrores que gasta quase dois terços da obra. Mas é meio o que se esperar de um filme de terror, não? Um show de horrores. Eu gostaria de algo além, no entanto.
A tentativa de Timo Tjahjanto de realizar uma obra de terror que se assume a superação de um conflito familiar a partir de todo o trauma (re)vivido – o que poderia, no duro, resultar em uma obra bem interessante – falha exatamente pelo fato de ter abandonado o enredo principal para focar não em susto ou medo, mas em nojeira e baldes de maquiagem e efeitos (ruins, diga-se de passagem). A obra tinha material para se sustentar por si só, não precisando desses recursos para causar algo em seu espectador. Mas as decisões do roteiro e da direção preferiram ser marcantes por elementos que tonaram o título em mais um filme de terror raso, flertando com a falta de sentido.
Leave a Comment