Crítica: O Método Kominsky (The Kominsky Method)

Estamos todos ficando velhos. Eu estou. Você está. Charlie Harper também estaria se não tivesse morrido devido a desentendimentos com Chuck Lorre, o cabeça por trás de O Método Kominsky,e lançamento desse final de semana na Netflix. Ele mesmo. O camarada que assina a produção de “Two and a Half Men”, “The Big Bang Theory”, “CSI”, “Dharma & Greg” (só eu vi esse?) e participou de uma maneira ou de outra de várias séries e desenhos animados (ele esteve em Muppet Babies!!!). Nessa curta temporada de 8 episódios – que parecem durar mais que seus 30 minutos – somos apresentados a Sandy Kominsky (Michael Douglas), um ator que teve seus 15 minutos de fama e hoje ganha a vida como professor de teatro, e Norman Newlander (Alan Arkin), seu agente e melhor amigo.

Michael Douglas and Alan Arkin in The Kominsky Method (2018)

Se isso te lembra “Californication”, então você está quase certo. Sandy é muito próximo do que se poderia esperar de um Hank Moody de cabelos brancos e digo isso da melhor maneira possível. Tudo está lá: o humor ácido, as tiradas inteligentes, as referências “de outros tempos” e o contraste com a geração atual, a bebida, as mulheres (ok, uma mulher… ele é um idoso) e a dificuldade de lidar com o fracasso. Como Charlie Sheen atuando como Charlie Harper – ou seja, ele mesmo -, Sandy é como Michael Douglas atuando como o Michael Douglas que todo mundo achava que Michael Douglas era, só que 30 anos depois. E sua atuação está brilhante. Ele convence como o ex-mas-não-tão-ex-assim-pegador que se esforça demais pra parecer não estar envelhecendo, das roupas – tentando mostrar aquele coroa “muderninho” que segue a última moda do inicio dos anos 2000 – ao carro, um Mercedes Benz conversível dos anos 60 provavelmente reminiscente da época das vacas gordas. Sandy pode ser um cretino egocêntrico e irresponsável por vezes, mas é aquele tipo de amigo que se quer ter pelo resto da vida. É interessante ver na tela aquele teu camarada daqui há 30 anos.

Michael Douglas, Alan Arkin, and Susan Sullivan in The Kominsky Method (2018)

Norman, por outro lado, de Charlie Runkle não tem nada. É um daqueles velhinhos extremamente bem sucedidos e meio escroto com todo mundo. Fala o que pensa e fodam-se as opiniões. Privilégio de quem não deve nem virá a dever nada a ninguém. Dono de uma grande empresa de representação de artistas, Norman inicia a série tendo que repensar a vida (sem spoilers) e rever todas as suas relações. Desanimado com o trabalho, deprimido com uma daquelas bolas curvas que a vida te joga e sobrecarregado com a filha junkie de meia idade, ele tenta encontrar algum equilíbrio pra não perder a sanidade. O humor sarcástico de Sandy e a total ausência de humor de Norman são o carro chefe da história, fazendo-nos perguntar como diabos duas pessoas tão diferentes se tornaram amigos. Não apenas isso, a história de Sandy é uma engraçada e leve, enquanto a de Norman é mais séria e introspectiva. Ao longo da temporada essas diferenças são o que permitem que nos vejamos (ou “pre-“vejamos) no lugar dos personagens. O que nos mostra a maneira diversa como a vida acontece pra diferentes pessoas, olhando-se do fim para o início e permitindo uma certa reflexão sobre o que são escolhas e o que é simplesmente sorte.

Michael Douglas and Jenna Lyng Adams in The Kominsky Method (2018)

A série é escrita com leveza e editada e dirigida com tanta habilidade que cada curto episódio parece um filme com começo, meio e fim. Ela explora a terceira idade como tema central, sem cair em muitos clichês. Os velhinhos tradicionais de andadores e bengalas contando causos da guerra do Vietnã não estão lá. São idosos ativos, inteligentes, com senso de humor e um passado que justifica tal humor e inteligência. Idosos de 2018, com vida sexual ativada por viagra e vontade de retomar a carreira engavetada. Todos os temas estão lá: o câncer de próstata, a morte, a perda das capacidades mentais, a relação com os filhos, etc.. Tudo com sensibilidade e humor, tornando-a agradável de assistir. Eu ri, chorei, pensei um pouco na vida. Em oito episódios? Um feito e tanto.

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