Crítica: O Método Kominsky (The Kominsky Method)
Estamos todos ficando velhos. Eu estou. Você está. Charlie Harper também estaria se não tivesse morrido devido a desentendimentos com Chuck Lorre, o cabeça por trás de O Método Kominsky,e lançamento desse final de semana na Netflix. Ele mesmo. O camarada que assina a produção de “Two and a Half Men”, “The Big Bang Theory”, “CSI”, “Dharma & Greg” (só eu vi esse?) e participou de uma maneira ou de outra de várias séries e desenhos animados (ele esteve em Muppet Babies!!!). Nessa curta temporada de 8 episódios – que parecem durar mais que seus 30 minutos – somos apresentados a Sandy Kominsky (Michael Douglas), um ator que teve seus 15 minutos de fama e hoje ganha a vida como professor de teatro, e Norman Newlander (Alan Arkin), seu agente e melhor amigo.
Se isso te lembra “Californication”, então você está quase certo. Sandy é muito próximo do que se poderia esperar de um Hank Moody de cabelos brancos e digo isso da melhor maneira possível. Tudo está lá: o humor ácido, as tiradas inteligentes, as referências “de outros tempos” e o contraste com a geração atual, a bebida, as mulheres (ok, uma mulher… ele é um idoso) e a dificuldade de lidar com o fracasso. Como Charlie Sheen atuando como Charlie Harper – ou seja, ele mesmo -, Sandy é como Michael Douglas atuando como o Michael Douglas que todo mundo achava que Michael Douglas era, só que 30 anos depois. E sua atuação está brilhante. Ele convence como o ex-mas-não-tão-ex-assim-pegador que se esforça demais pra parecer não estar envelhecendo, das roupas – tentando mostrar aquele coroa “muderninho” que segue a última moda do inicio dos anos 2000 – ao carro, um Mercedes Benz conversível dos anos 60 provavelmente reminiscente da época das vacas gordas. Sandy pode ser um cretino egocêntrico e irresponsável por vezes, mas é aquele tipo de amigo que se quer ter pelo resto da vida. É interessante ver na tela aquele teu camarada daqui há 30 anos.
Norman, por outro lado, de Charlie Runkle não tem nada. É um daqueles velhinhos extremamente bem sucedidos e meio escroto com todo mundo. Fala o que pensa e fodam-se as opiniões. Privilégio de quem não deve nem virá a dever nada a ninguém. Dono de uma grande empresa de representação de artistas, Norman inicia a série tendo que repensar a vida (sem spoilers) e rever todas as suas relações. Desanimado com o trabalho, deprimido com uma daquelas bolas curvas que a vida te joga e sobrecarregado com a filha junkie de meia idade, ele tenta encontrar algum equilíbrio pra não perder a sanidade. O humor sarcástico de Sandy e a total ausência de humor de Norman são o carro chefe da história, fazendo-nos perguntar como diabos duas pessoas tão diferentes se tornaram amigos. Não apenas isso, a história de Sandy é uma engraçada e leve, enquanto a de Norman é mais séria e introspectiva. Ao longo da temporada essas diferenças são o que permitem que nos vejamos (ou “pre-“vejamos) no lugar dos personagens. O que nos mostra a maneira diversa como a vida acontece pra diferentes pessoas, olhando-se do fim para o início e permitindo uma certa reflexão sobre o que são escolhas e o que é simplesmente sorte.
A série é escrita com leveza e editada e dirigida com tanta habilidade que cada curto episódio parece um filme com começo, meio e fim. Ela explora a terceira idade como tema central, sem cair em muitos clichês. Os velhinhos tradicionais de andadores e bengalas contando causos da guerra do Vietnã não estão lá. São idosos ativos, inteligentes, com senso de humor e um passado que justifica tal humor e inteligência. Idosos de 2018, com vida sexual ativada por viagra e vontade de retomar a carreira engavetada. Todos os temas estão lá: o câncer de próstata, a morte, a perda das capacidades mentais, a relação com os filhos, etc.. Tudo com sensibilidade e humor, tornando-a agradável de assistir. Eu ri, chorei, pensei um pouco na vida. Em oito episódios? Um feito e tanto.
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