Crítica: Operação Overlord (Overlord)

Desde o trailer na San Diego Comic-Con, Operação Overlord criou um hype em volta de seu lançamento e não é para menos. Temos aqui um filme de ação e terror envolvendo monstros e se passando na 2a Guerra Mundial, produzido pelo sempre competente J.J. Abrams. Embora pareça redundante a dobradinha nazistas e monstros, a premissa de localizar uma ficção com seres da cultura pop no evento recente mais importante da humanidade e meticulosamente documentado abre portas para liberdades artísticas que, se exploradas de forma competente, podem proporcionar divertidas horas de entretenimento.

Esse é o caso aqui. No longa, acompanhamos um regimento de paraquedistas no “Dia D” com uma importantíssima missão: derrubar uma torre de rádio instalada em uma igreja atrás das linhas inimigas que impede a força aérea dos aliados de dar suporte ao desembarque das tropas nas praias francesas. Ou seja, é uma missão de elevado grau de importância, com tempo reduzidíssimo para ser realizada e com nível de dificuldade beirando o impossível.

Com um início de missão parcialmente comprometido, alguns soldados, dentre eles Boyce (Jovan Adepo), o típico bom menino que segue as regras das Convenções de Genebra, Tibbet (John Magaro), o carcamano malandrão das ruas que faz de tudo para salvar a própria pele e a dos amigos, e Ford (Wyatt Russell), o oficial comprometido com a missão e que não se importa com os meios, se veem num pequeno vilarejo francês ocupado por força alemães durante a noite. Ao serem ajudados por uma família local, eles percebem que algo muito além de uma simples ocupação está acontecendo ali e que a igreja retém mais mistérios do que o próprio Vaticano.

Operação Overlord explora a tensão do ambiente com muita competência, seja ele com cenas do oficial nazista Wafner (Pilou Asbæk) indagando moradores – o que é sempre explorado e trava o brioco ferozmente – ou com os momentos de terror em ambientes escuros envolvendo as experiências na igreja. Essa alternância entre gêneros e com cenas que despertavam ansiedades diferentes foi muito bem dosada e costurada. O longa só peca nas poucas nas cenas de ação em sua parte final, que deixam um pouco a desejar se comparadas com a abertura. Fica clara a opção de Julius Avery de seguir por um caminho menos pirotécnico para trilhar um linha mais comedida dentro do terror.

O grande destaque aqui está nas cenas de tortura e nas experiências conduzidas com brutalidade gráfica. Mesmo historicamente impreciso no que tange ao tipo de experiências realizadas, a denúncia desses atos hediondos contra judeus, ciganos e outros grupos considerados geneticamente inferiores e/ou indesejáveis perpetrados pelos nazistas deixa clara a completa falta de empatia em uma sociedade dirigida por um líder com um discurso radical e que via no fim a justificativa para os meios. Com um final um tanto clichezento, há um discurso em consonância com a posição das comunidades que sofreram durante esse período – em especial a judaica – em relação ao uso dos resultados dos experimentos obtidos ao custo de vidas, mas sem qualquer problematização. Embora não seja um filme político, esse final com diálogos edificantes com frases caricatas e de efeito não contribuiu positivamente com o todo.

Contudo, mais uma vez, J.J. Abrams produz uma obra de entretenimento em seu sentido mais lato. Operação Overlord diverte, impressiona, critica, assusta e te deixa tenso. Não é um filme epopeico com grandes batalhas, mas atende aos diversos gostos cinematográficos e que ficará contigo após subirem os créditos.

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