Crítica: Robin Hood - A Origem (Robin Hood)
Tirando a história de Jesus Cristo, e eu posso estar falando merda, nenhuma outra é tão conhecida quanto as fábulas do Rei Artur e de Robin Hood. Mesmo aqueles que não conhecem seus detalhes, sabem ao menos que o Rei Artur tinha uma espada chamada Excalibur e que Robin Hood era um ladrão que roubava dos ricos para dar aos pobres, sendo este último usado incansavelmente enquanto analogia para qualquer porra que remotamente remonte a um ladrão gente boa. Além disso, por serem ambas de domínio público, elas também foram adaptadas inúmeras vezes para o cinema, desde o magistral “Excalibur”, de John Boorman, até o divertidíssimo e provavelmente datado “Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões”, estrelado por Kevin Costner quando ele era relevante e responsável por ensinar às pessoas que everything I do I do it for you.
Eu estou aqui basicamente te enrolando e fazendo analogias entre essas duas lendas inglesas porque me dói muito dizer que, com este Robin Hood – A Origem, elas agora têm mais uma similaridade. O longa aqui resenhado se junta ao lamentável “Rei Arthur: A Lenda da Espada” fazendo de ambos duas verdadeiras desgraceiras em forma de filme, e este ainda tem a pachorra de deixar um final em aberto para uma possível continuação, coisa que provavelmente não acontecerá diante da resposta óbvia das bilheterias a esta que é das maiores bobagens que vi nos últimos tempos. E eu vi “Crô em Família“.
A falta de imaginação em Hollywood tem atingido níveis que levam ao seguinte processo: 1º) executivo de Hollywood, enquanto participava de alguma orgia regada a cocaína e demais psicotrópicos, vê o Kevin Costner num canto e se lembra que não fazem um filme do Robin Hood há anos; 2º) o mesmo executivo resolve fazer uma enésima versão, mas dessa vez, todo antenadinho nas redes sociais, ele encomenda um roteiro a um roteirista iniciante porque “ora, meu caralho, é a história de Robin Hood, basta que o sujeito dê uma modernizadinha nela pra gente pegar a galerinha do LOL”; 3º) não lê a caralha do roteiro e arruma um diretor de TV qualquer para fazer Cinema; 5º) exige, embora esteja com o cu no mão em função da hashtag metoo, que haja “representatividade” e que seja feita uma criticazinha a Donald Trump. A julgar pelo resultado do processo, eu diria que é algo bem parecido com o movimento peristáltico.
Já no começo o filme te pega pelo colarinho, cospe na sua cara e te chama de imbecil. Ele quer nos fazer crer que, no século 13, um Lorde e senhor de terras seria obrigatoriamente recrutado a lutar nas Cruzadas, recebendo em casa uma cartinha como se ele fosse à Guerra do Vietnã. Chegando à terra santa, Robin então é imediatamente alvejado pelo que parece uma metralhadora giratória de flechas que atravessa pilastras de pedra maciça, tudo isso enquanto o diretor tenta recriar frame por frame uma cena de “Falcão Negro em Perigo” com gente usando arco e flecha. A gente suspira e segue em frente, mas, voltando à Nottingham, encontra uma cidade miscigenada, com vários cidadãos negros NA INGLATERRA DO SÉCULO 13, e com uma indústria que lembra a refinaria de petróleo chamada REDUC aqui na aprazível vizinhança dos Campos Elíseos em Duque de Caxias.
A tal modernização não para por aqui. As roupas são todas do tipo slim, transadinhas e apertadinhas no corpo sarado de todos os atores. O linguajar da galera é como o de hoje. As mulheres têm voz ativa entre a nobreza e podem até mesmo dar uma zoada humilhante no xerife metido a fodão do pedaço sem tomar um soco no meio da cara do próprio marido. E, caralhos me mordam, o Robin Hood faz crossfit!!!
Esta tal modernização da lenda inclusive interfere no próprio aspecto técnico do filme para além do mero desenho de produção. Toda a fotografia é equivocada, com toda e qualquer cena que não seja ao ar livre sendo iluminada por luzes brancas e obviamente inexistentes num momento como aquele. Em uma cena específica, durante uma festa também esquisitíssima, essa iluminação ainda é complementada por uma trilha sonora de uma música eletrônica que fica totalmente fora de tom, dando-nos a entender que estamos possivelmente vendo algum filme daqueles pornô europeus que se inspiraram em “De Olhos Bem Fechados” e que vocês sabem exatamente do que estou falando mas terão vergonha de admitir.
Até mesmo o elenco, que conta com boas peças, parece perdido e impotente diante da tempestade de erros da produção. Curiosamente, um dos erros dessa versão, que é o de escalar Jamie Foxx como um personagem que classicamente nada tem a ver com ele, acaba também sendo seu único acerto, já que Foxx é um monstro no que faz e consegue por breves momentos colocar sua cabeça para fora desse dilúvio de bobagens que é Robin Hood – A Origem.
O filme é tão esquecível que eu estou até mesmo com dificuldade de me lembrar de tudo para falar a respeito, mas acabo de me lembrar de mais duas coisas que são fundamentais para dar algum sopro de vida para este tipo de filme: as cenas de ação e os efeitos especiais. Mais uma vez, erro atrás de erro em um nível que faz com que seja incompreensível como é que gastaram 200 milhões de dólares nisso. A ação aqui é toda picotada e sem foco, filmada displicentemente, e os efeitos especiais são inacreditavelmente derivativos, sem criatividade ou até mesmo esmero técnico, parecendo por vezes coisas feitas há uns 15 anos. Ou seja, nem no que deveria ser seu foco o filme consegue ser minimamente passável.
Escrever estas linhas já está me fazendo mal. Eu fui ao cinema com vontade de gostar disso. Eu lia tudo que podia sobre Robin Hood quando moleque e estava até mesmo ok com o fato de que esta obra seria uma reinvenção do mito, mas, puta que me o pariu, o que fizeram aqui foi basicamente uma coisa que tem nada ou pouco a ver com o mito de Robin Hood e meteram seu nome no meio para tentar faturar em cima da fama. E isso tudo seria ok se o que fizessem fosse bom, mas não é o caso. Trata-se do filme mais esquecível do ano e é bom que assim seja, pois perder duas horas no cinema assistindo já é demais.
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