Garimpo Netflix: Distopia
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
A busca por mundos perfeitos, sem conflitos, em que todos vivam bem e que, juntos, consigam promover o bem maior da sociedade talvez seja o que mais permeia o imaginário da maior parte dos indivíduos. Esse desejo gera o conceito de utopia – este inalcançável universo sem defeitos. Quão Admirável seria um Mundo Novo desses, de forma que a plena satisfação individual fosse resultado da harmonia mais perene advinda do todo!
Quase como uma fórmula de causa e efeito, a utopia, ao tentar ser colocada em prática, gera a sua própria negação. Gera distopia. O oposto da perfeição objetivada torna-se o objetivo encontrado. A então plenitude dá lugar aos conflitos mais gerais, colocando indivíduos contra indivíduos, fazendo a sociedade como um todo ruir. Todos contra todos, em uma horda de caos pronta para produzir destruição.
“É isso o que a distopia gera dentro das crenças mais sombrias?
Levando a utopia para longe, a verdade distorcida faz você se perder
Com o tempo, você chegará a ver
Privado da esperança que foi construída na unidade”
(Mille Petrozza)
– Filhos da Esperança (Children of Men), de 2006, dirigido por Alfonso Cuarón
Um prédio abandonado e praticamente destruído pelas marcas do tempo. Sem uso, as paredes descascam e a poeira se acumula, tentando esconder aquilo que, por milênios, fora considerado um templo do saber. O personagem de Clive Owen revela o que era o local: uma escola. Porém, no universo descrido pelo fabuloso diretor Alfonso Cuarón, as escolas não existem mais, pelo simples fato de que absolutamente todas as mulheres tornaram-se inférteis. E sem novas gerações, a escola é desnecessária. Sem novas gerações, o futuro é desnecessário.
Esta história ocorre no ano de 2027, em um conto de agonia e desespero, que passa a tomar contornos de esperança quando uma mulher aparece milagrosamente grávida. Às escondidas, em meio ao caos instalado, ativistas tentam ajudar no transporte dela para um santuário. Quando a sociedade parece ruir, o milagre da vida é o bastante para encher cada indivíduo com novo vigor ao conseguir vislumbrar o amanhã, uma outra vez.
– O Livro de Eli (The Book of Eli), de 2010, dirigido por The Hughes Brothers
Neste conto pós-apocalíptico, a velha máxima se mantém: todos contra todos com o caos instalado. A natureza humana em seu estado mais puro, isto é, o de egoísmo, cobiça, avareza. “O homem é o lobo do próprio homem”, já dissera Thomas Hobbes. E dentro deste escopo, estamos de frente para uma sociedade que se pretende desarmônica e auto-destrutiva.
Em meio a esses escombros, um homem solitário (Denzel Washington) atravessa a América, protegendo um livro que guarda o segredo para a salvação da Humanidade. E isso é o bastante para que um alvo seja colocado nele, já que a posse desta obra pode mudar rumos (e, certamente, muda!). Fé e determinação é o que, de fato, nos leva a caminhar, dia após dia, vencendo as mazelas que se apresentam insistentes a cada passada. E é isso que o guardião do livro terá dentro de si para conseguir chegar em seu destino.
– OtherLife, de 2017, dirigido por Ben C. Lucas
Quantas vezes nos foi sedutor pensar que o corpo humano pudesse funcionar tal qual uma máquina? Que algo que se demora anos e anos a aprender pudesse, simplesmente, ser inserido como a instalação de um software em um computador? Ou, ainda mais simples, que se pudesse ter tantas experiências de vida, sem precisar se deslocar um passo para o lado? Nesse sentido, a obra de Ben C. Lucas propõe uma espécie de “droga”, gerada por algoritmos, que induz a realidades virtuais, nas quais a mente assume a experiência como verdadeira. No entanto, os donos da empresa fabricante não concordam no real uso deste material poderoso.
Ren (Jessica De Gouw), a criadora, tenta recriar experiências para que seu irmão acorde após anos de um acidente que o tirou os sentidos. Mas a nobreza de sua busca gerará consequências para aqueles que veem nesta descoberta muitas outras possibilidades. Uma vez mais, a tentativa da perfeição só tenderá a gerar a sua oposição. E, novamente, o indivíduo será feito refém do desejo de harmonia plena, que jamais se configura como tal efetivamente.
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