Garimpo Netflix
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Esta semana no Garimpo eu resolvi dar uma vasculhada no catálogo da Netflix, como faço de tempos em tempos, em busca de 3 filmes completamente diferentes entre si, mas que tivessem em comum um inegável nível de excelência em sua execução e que conseguissem entreter ao mesmo tempo que propõem reflexões. Não foi por acaso, portanto, que as 3 obras indicadas esta semana tenham em comum 3 diretores já consagradíssimos e premiados pelo mundo todo.
Sem maiores delongas, vamos a eles. Não esqueçam de deixar a opinião de vocês nos comentários!
– 13 Assassinos (Jûsan-nin no shikaku), de 2010, dirigido por Takashi Miike
Com mais de 100 filmes dirigidos, Takashi Miike é dos mais prolíficos e cultuados diretores japoneses da atualidade. Seus fãs, ao contrário do que talvez você esteja inferindo de um diretor japonês, não são críticos de cinema esnobes que sabem listar toda a filmografia de Béla Tarr (quem?), mas, sim, pessoas como eu e você que gostam de ver vagabundo entrando na porrada, violência extrema e a eventual putaria. Oriundo de filmes merda feitos direto para o vídeo, Miike aos poucos conquistou notoriedade e orçamentos maiores com sua estética de violência, sendo reverenciado por gente graúda como Quentin Tarantino, que até mesmo fez uma ponta em Sukiyaki Western Django, um faroeste japonês, se é que você pode acreditar nisso, dirigido por Takashi.
Embora em geral Miike aposte em roteiros completamente despirocados como o do western oriental acima, 13 Assassinos é uma de suas obras mais sóbrias no que se refere ao realismo. Remake do filme homônimo de 1963 dirigido por Eichi Kudo, o longa é passado durante a época em que o shogunato estava em declínio, lidando com a falta de rumo (e de honra) que assolava os incontáveis samurais sem mestre que vagavam pelo país. Neste contexto, o Lorde Naritsugu, intocável por ser meio-irmão do Shogun, mata e estupra à vontade em suas terras. Farto disso e vendo que o futuro do país está em jogo por Naritsugu estar na linha de sucessão, um alto oficial do governo contrata o personagem do excelente Kôji Yakusho, ex-vassalo do Shogun, para secretamente para dar cabo de Naritsugu. Ele então arruma mais 12 pessoas e, juntos, partem em uma missão suicida que vai garantir a você 2 horas de muita violência e diversão.
– Logan Lucky: Roubo em Família (Logan Lucky), de 2017, dirigido por Steven Soderbergh
O fantástico diretor Steven Soderbergh é mais conhecido do público por filmes com um aspecto de entretenimento absurdo, como todos os da franquia “Onze Homens e um Segredo”, mas além disso ele já ganhou o Oscar de melhor diretor por “Traffic” e foi indicado outras duas vezes. Trata-se de um diretor que alterna um filme gigante para dar o leitinho das crianças e filmes independentes para satisfazer suas próprias ambições artísticas. Logan Lucky, por sua vez,consegue ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Se for para resumir bem resumidão mesmo, trata-se de “Onze Homens e um Segredo” estrelado por um monte de capiau daqueles que moram em um daqueles estados dos EUA com nome de gente, mas que elegeu Donald Trump e é, de fato, a força motriz do país. Mais uma vez se valendo de estrelas de grande nome em Hollywood como Channing Tatum, Daniel Craig e Adam Driver, Soderbergh, usando com maestria o excelente roteiro de Rebecca Blunt, monta uma estrutura clássica dos filmes de assalto, só que o que vão assaltar é todo o faturamento em dinheiro dos bares de um evento da Nascar, o esporte oficial do redneck americano. Desta vez, ao invés de ternos e gel no cabelo, o que temos são bonés de caminhoneiro, tatuagens escrotas e jeans esfarrapados. A sua qualidade geral, o pertinente comentário social, o esmero técnico e as estrelas do filme me fazem estranhar o porquê de ele não ter tido mais sucesso comercial, mas, não se engane, é divertidíssimo.
Confira a crítica completa do filme aqui
– Pagando Bem, Que Mal Tem? (Zack and Miri Make a Porno), de 2008, dirigido por Kevin Smith
Constante de nossa lista de Filmes de Natal, Pagando Bem não tem absolutamente nada de natalino. Trata-se de mais uma desculpa esfarrapada a permitir que Kevin Smith faça o que faz de melhor: escrever diálogos e escrutinar as relações humanas sem pudor ou floreios. Smith é o diretor de verdadeiras pérolas do cinema independente como “O Balconista” e “Procura-se Amy”, além de filmes maiores como “Dogma”. Apesar de ter feito também algumas bombas, Smith, nerd de carteirinha, costuma ir bem em sua obsessão por analisar as relações e é exatamente este o caso aqui.
O Zack e a Miri do título original, interpretados por Seth Rogen e Elizabeth Banks, são amigos desde os tempos da escola quando ambos eram meio que os losers que toda escola americana tem. Hoje, apesar de continuarem a ser dois merdas, eles ainda retêm aquela dignidade patética de quem se coloca como superior ao resto do mundo como forma de evitar olhar para si e perceber o quão merda sua vida é, o que é exatamente o caso. Depois de uma reunião da turma deles da escola, como também parece ser algo obrigatório nos EUA, e de terem a luz cortada da casa que dividem, os dois resolvem, por uma série de razões que prometo que fazem sentido, fazer um filme pornô estrelado por eles mesmo. Isso, evidentemente, vai dar muito pano pra manga, vai permitir a Kevin Smith escalar várias atrizes pornô no longa e também será hilário. É das melhores comédias disponíveis na Netflix e vai te ensinar o que é o leme holandês, o que por si só vale o seu tempo.
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