Crítica: Back Street Girls: Gokudolls - 1a Temporada

Com lançamento no Japão no meio do ano, o anime Back Street Girls: Gokudolls encontra seu caminho no ocidente na compra de direitos de distribuição pela NETFLIX. E que empreitada era apresentar essa obra para o público brasileiro, já que os dois pilares que sustentam sua argumentação, piadas e personagens são alienígenas à nossa cultura, embora tenhamos exemplos similares aqui.

Estamos falando da Yakuza – uma organização criminosa com regras muito definidas, calcadas na lealdade cega e envolta em muita tradição, incluindo tatuagens específicas que cobrem mais da metade do corpo dos seus membros – e de grupos de J-Pop, um conjunto de garotas que cantam e dançam músicas comercialmente grudentas para um público essencialmente masculino e punheteiro.

Eis que conhecemos nossos 3 protagonistas, Tachibana, Sugihara e Yamamoto, membros da Yakuza que cometeram algum erro e estão para ser severamente punidos. Ao se verem entre escolher a morte ou realizar uma operação de mudança de sexo – na Tailândia… por que será? -, para montar um grupo J-Pop com a finalidade de explorar esse filão e arrecadar dinheiro, nossos heróis transformam-se em Mari, Chika e Airi, respectivamente. Um ano após essa decisão, as meninas(?!) já estão fazendo sucesso, possuem uma legião fiel de fãs e estão entregando alguns dos diálogos mais engraçados do ano.

Uma escolha essencial para Back Street Girls: Gokudolls funcionar foi a forma como os roteiristas escolheram para explorar a personalidade de cada um do grupo. Todos os pensamentos que escutávamos eram com a voz masculina, eventualmente acompanhados com o seu antigo rosto no corpo transformado, enquanto as falas eram entregues com uma doce voz feminina com o vocabulário mais chulo que você pode imaginar. Era de uma escrotidão tão perfeita que parecia que eu estava falando com meus sócios do Meta em alguma reunião num podrão do Rio de Janeiro.

Inugane, o chefe deles, conduzia os 3 com punho de ferro, tratando-os literalmente como antes da operação, num estilo espalhafatoso igual ao J. Jonah Jameson (editor-chefe do jornal onde o Homem-Aranha trabalha), sempre gritando e falando as coisas mais absurdas possíveis. O que o trio aguentou dele em nome da honra e tradição foi muito além de apenas se apresentar em shows, passando por uma vivência em cativeiro além da abusiva, eventos com os fãs tarados e atividades com a mídia para promover seu trabalho que arrancaram risadas de rolar lágrima.

Contudo, mesmo com essa dinâmica extraordinária, temos em seus 10 episódios 3 probleminhas que prejudicaram o total da obra. O 1o, e mais grave, foi a falta de conhecimento dos personagens antes da mudança de sexo – que é entregue de forma muito espaçada e largada pelos episódios -, já com 5 minutos de anime com eles transformados. Não tive tempo de conhecer e me importar com eles desde o início.

O 2o, embora não tenha pesado tanto dado o tom, foi uma falta de objetividade. A série vai se desenrolando sem um norte, fazendo-se somente em cima do seu argumento para arrancar risadas. Associado a isso, temos uma falta de continuidade, quase como algo episódico, com somente o Grupo de Apoio Às Vitimas das Gokudolls fazendo uma reunião ou outra para, só no apagar das luzes, dar um desfecho aos personagens secundários que faziam o enredo andar lentamente.

Colocando isso de lado, nós temos uma obra com até bastante conteúdo, afinal estamos falando de homens héteros presos em corpos de mulheres gatíssimas, ao ponto deles sentirem tesão se olhando no espelho. Várias temáticas em voga são colocadas, mesmo que sem muita discussão, mas com um sub-texto interessante.

Você verá violência contra mulher, a indústria do entretenimento vendendo-os como pedaços de carne, a mídia martelando e condicionando como o comportamento feminino deveria ser e, até mesmo, os “amigos” que só querem tirar proveito da situação, molestando e constantemente se insinuando para o trio. É, dentro das limitações do gênero, uma verdadeira ode ao desafio de ser vista e tratada como mulher na sociedade moderna.

E por favor, quando forem assistir faça-o com a dublagem brasileira. É algo de cair o cu da bunda de tão engraçado, inclusive usando o termo que acabei de expressar. Além de muito bem localizado, pegando referências culturais nossas, a galera responsável entregou uma dublagem ao nível de outro anime da plataforma, o glorioso e prestigiado “One Punch-Man”. Confira ao trailer abaixo e caia dentro!

https://www.youtube.com/watch?v=S8WOOwTXCYA

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