Crítica: Batalhas (Battle)
Amalie (Lisa Teige) é uma jovem linda e rica na Noruega, aquele que é um dos melhores países do mundo sob qualquer prisma que se olhe para ele que não o clima. Sem ter preocupação alguma na vida, ela passa seus dias estudando dança contemporânea em alguma escola de dança aparentemente conceituada de Oslo até que um belo dia, um ex-aluno de sua professora sargentona aparece e surge uma oportunidade para todas as meninas da escola: uma delas será escolhida para fazer parte da companhia de dança do malandro. Todas elas, igualmente ricas e lindas, arrulham feito pombas diante da possibilidade e continuam vivendo suas vidas perfeitas, com seus namorados também perfeitos.
Tudo começa a ir para o proverbial caralho quando o pai de Amalie, por circunstâncias que são meramente jogadas, perde tudo e, da noite para o dia, eles são obrigados a sair do Leblon de Oslo para ir morar em alguma favela, só que, sendo de Oslo, ela parece mais o Leblon do Rio de Janeiro mesmo. E pronto. A partir daqui a gente já sabe quase que tin tin por tin tin o que vai acontecer. E não estaríamos errados, só que estamos na Noruega, então a coisa não poderia ser tão simples. Batalhas é, portanto, o “insira o nome do filme de dança americano aqui” da Noruega, seguindo a mesma estrutura narrativa que já conhecemos, mas com seus toques peculiares.
No caso em questão, o toque está na própria protagonista. Trata-se de uma criaturazinha vil, mentirosa, manipuladora e por quem é realmente difícil de torcer. Em um sub-texto interessante do filme, Amalie segue o sempre interessante arquétipo do filho que repete os pecados do pai, que, no caso, é aparentemente um destes empresários que vive de enrolar os outros. Ela, envergonhada do que ocorreu, mente para absolutamente todo mundo, sendo óbvio mais uma vez o que vai acontecer por causa desse monte de mentira. Apesar desse ser um toque interessante e que diferencia este longa dos demais do gênero, ele é também um tanto forçado, uma vez que ela não teria razão alguma para mentir, cercada de amor e compreensão dos amigos como é.
Num outro sub-texto também interessante e também explorado de forma superficial, está em voga aqui também a questão da imigração na Noruega, uma vez que a própria protagonista, em mais uma demonstração de sua asquerosidade, se apresenta extremamente racista com o grupo de amigos tão lindos quanto os anteriores, só que de cores levemente mais escuras. São eles, os imigrantes – e aqui tem de tudo, asiático, eslavo, hispânico e muçulmano – puros e verdadeiros, que mostrarão a Amalie como ser fiel a quem ela mesmo é e mudarão sua vida e aquele bla bla bla de sempre.
A grande lição do filme, contudo, jaz na dança como das mais universais formas de expressão. O problema aqui é como o filme escolhe fazer isso, tentando trazer a realidade da patricinha Amalie um contexto de hip-hop e breakdance que supostamente a tiraria de sua zona de conforto e a faria experimentar a liberdade de expressão que o jugo de sua professora sargentona jamais permitiria. Ocorre que a representação do break aqui é realmente muito pobre e eu posso falar disso enquanto um semi-especialista no assunto. O absurdo se torna insuportável quando, na batalha entre b-boys que é o clímax do filme, a música que toca para que eles dancem não é um hip-hop e sequer tem uma batida, elemento FUNDAMENTAL para se dançar break. Se um DJ faz uma porra desses em qualquer evento de break ali no viaduto de Madureira a porrada ia estancar violentamente. E nem vou entrar aqui nas coreografias de dança contemporânea destas mesmas batalhas, o que é também um outro absurdo.
Feitas todas estas críticas e adicionando a elas também o fato de haver algumas atuações pavorosas, Batalhas consegue ser suficientemente original dentro de sua proposta e se você gosta de filmes de dança, então certamente valerá sua hora e meia.
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