Crítica: Natal 5 Estrelas (Natale a 5 Stelle)

A estréia Netflix da semana com o pano de fundo natalino é, novamente, uma comédia. Mas dessa vez não é aquela romântica que vinha sendo comum de algumas semanas para cá. Natal 5 Estrelas é a típica comédia de costumes italianos, que fará muito mais sentido para quem conhece um pouco mais dessa cultura (o que não é difícil no Brasil, visto que, fora da Italia, é o país com mais italianos no mundo). Ainda assim, para quem não é íntimo desse grande país, não ficará nem um pouco perdido.
Próximo ao Natal (e a única coisa que justifica esse período é o fato de um personagem estar vestido de Papai Noel e o próprio título do filme, de resto a narrativa não traz nada sobre sentimentos natalinos ou ações típicas a este momento), o estadista italiano Franco Rispoli (Massimo Ghini) faz uma viagem de trabalho a Budapeste, para onde também foi sua rival política e amante, a senadora Rossi (pela bella Martina Stella). Objetivando desfrutar um momento a sós, tudo dá errado desde o princípio, quando, na janela do quarto presidencial do hotel, encontram o tal “papai noel” desmaiado. Evitando polícia e qualquer autoridade no cenário, para não permitir escândalos sexuais que venham a manchar o governo, as estratégias de se livrar daquilo vai os levando a uma bola de neve que se torna gigantesca.

Quase que inteiramente passado no cômodo – apesar de algumas outras cenas fora dali – o filme lembra um pouco o excelente “Depois de Horas” de Scorsese, mas evidentemente sem o brilhantismo deste italiano nascido em terras americanas, pelo explicitado anteriormente: a tentativa de gozar de uma noite romântica – tão somente isso e nada além disso – mas que se transforma em uma sequências de situações absurdas e fora de controle. A partir dessa estrutura narrativa, o diretor Marco Risi consegue fazer um apanhado crítico e irônico da Europa e, especialmente, da Itália. Escândalos do governo, o fato de a Itália ser levada menos à sério que outros países como a França e Alemanha (pelos constantes comentários do estadista protagonista em comparação a Macron e Merkel), o amor pelo futebol – e para quem prestou atenção ao áudio e não à legenda, o amor incondicional a Francesco Totti (este, sim, a personificação do futebol) -, a figura primorosa das mammas, críticas ao preconceito racial meio que inerente à cultura europeia, e tantos outros elementos. Nos cerca de 90 minutos de obra, é por esses caminhos que a história anda.
Apesar dos elementos serem engraçados por natureza, em especial no estilo italiano, e com aquela pitada sexualizada (que é mais um elemento desta cultura: até o mitológico Rocco Siffredi está lá, representando ele mesmo), notamos uma comédia pouco inspirada, que deixa a dever em muitos aspectos. A construção dos personagens é pobre e até mesmo a caricatura para a qual foram construídos não funciona plenamente em todas as gags propostas. Muito embora a bola de neve vá crescendo mais e mais com os erros ao longo daquele dia, a sensação não é a de sufocamento em relação ao cenário produzido. A empatia pelos protagonistas e a imersão em relação à história não são garantidas no desenvolvimento deste conto.

Mas, apesar das falhas de estrutura e, talvez, de uma história a priori menos interessante, Natal 5 Estrelas consegue garantir uma diversão por algumas cenas ou tiradas de seus personagens, agradando ainda mais àqueles que – como eu – desde a infância escutam e falam as expressões ditas pelos personagens na maior parte do tempo. Além disso, as críticas e ironias de Risi não deixam de ser pontuais e necessárias em um momento em que a Europa – e o mundo – não consegue dialogar externa ou internamente, resultando em uma bola de neve de situações erradas no cenário político internacional, com bufões escandalosos liderando potências e países mais fracos.
Leave a Comment