Crítica: O Chamado do Mal (Malicious)

Vivemos em uma época gloriosa para o terror. Ouso a dizer que pela 1a vez desde a sua criação, o cinema proporcionou o encontro da crítica com o gênero em uma série de longas de extrema qualidade técnica e que desafiam definições. Nós aqui do MetaFictions somos apaixonados por filmes de terror há décadas e em nosso Especial Halloween: 10 Filmes de Terror do Século XXI falamos muito sobre a temática, as obras marcantes do gênero e “linkamos” praticamente tudo o que já fizemos a respeito (e que não é pouca coisa).
Não é porque um filme não é inovador que ele é ruim. Dentro do terror há sempre aquela busca por uma nova tendência, porém, temos também os longas recheados de cenas clichês, que jogam com a expectativa do público, que, por sua vez, por já estarem condicionados com certas fórmulas, esperam determinados acontecimentos, sejam eles momentos de jump scares ou roteiros que apresentam quase que uma check list.

A isso nós damos a alcunha de clichê. E não é porque algo é clichê que é necessariamente ruim. Caso em questão, O Chamado do Mal. O longa já abre com a clássica cena de alguma merda prévia ocorrendo e estabelecendo que algo terrível ligado ao fato que acabamos de testemunhar será a fonte do mal que acometerá os próximos na fila. E de fato isso é o que ocorre.
Logo em seguida, conhecemos nossos protagonistas, um casal formado por um professor de universidade e sua esposa grávida que se muda para uma casa no interior dos EUA. Adam (Josh Stewart),o marido, incorpora o lado científico do clichê. Ele é professor de matemática na universidade local e aparenta ser aquela pessoa focada em objetivos a longo prazo na vida, sendo extremamente ético e perseverante no seu dia-a-dia. Já Lisa (Bojana Novakovic), a esposa, é a mais vulnerável e esotérica, caindo na mesmice falocêntrica do homem ser o racional e a mulher a emotiva.

Complementando o time, temos a irmã de Lisa, que entrega um presente de boas-vindas na casa nova que é o estopim de toda a cagada – uma caixinha comprada em uma venda de garagem e que lembra muito a premissa de “Possessão” do nosso Garimpo NETFLIX: Halloween – e também o Dr. Clark (Delroy Lindo), um professor de matemática e de atividades paranormais, cego (mais uma pra check list) e que será o elo entre o mundo dos mortos e o casal em necessidade.
Após sofrer um aborto, Lisa recebe o que no Brasil nós chamamos de encosto. Alguns fenômenos paranormais e visões começam a ocorrer, dando início a famosa dicotomia “essa casa está assombrada, precisamos sair daqui” e “meu amor, você sofreu um grande trauma, tudo está na sua cabeça”.

Contudo, apesar de estarmos dentro do cronograma clichê perfeito, o longa dá umas escorregadas ao colocar personagens construídos nas ciências ignorando visões que deixariam, no mínimo, o ateu mais fervoroso cagado. Caso eu tivesse me penteando no espelho e meu reflexo fizesse algo diferente do que eu estou fazendo, eu nunca mais olharia num espelho na vida.
Além disso, infelizmente, somos brindados com (de)efeitos especiais toscos, de um baixo orçamento a ponto de provocar risadas, atuações de personagens secundários que causaram constrangimento e um final sem pé nem cabeça, transformando uma obra que poderia ser um clichê didático num filme apenas ok.

Em suma, O Chamado do Mal é um filme direto e sem rodeio, que apresenta muitas falhas, mas acerta naquilo que propõe: criar dentro do terror algo familiar e comercialmente rentável.
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