Crítica: Quando os Anjos Morrem (Cuando los ángeles duermen)

A galera aqui do MetaFictions sabe que eu me encontro em determinadas posições em relação à diversas escolas do cinema pelo mundo. Eu sou um tremendo baba-ovo do cinema alemão e não é para menos. Nunca assisti um filme ou série do povo da cevada que não fosse espetacular ou bom, assim como eu também adoro o cinema animado oriental, sempre produzindo pérolas das mais diversas origens. Contudo, quando o assunto é cinema francês e britânico – mesmo sabendo da qualidade de algumas obras – eu já tendo a me esquivar, seja por babaquice generalizante minha ou pelo trauma de coisas terríveis que já assisti.

Mas quando o assunto é o cinema espanhol eu ainda me encontrava dividido, isso até eu ser escalado para realizar a crítica de Quando os Anjos Morrem. Não que essa boa película tenha batido o martelo quanto à qualidade dessa escola, mas ela me fez perceber a quantidade de boas películas que eu já assisti – começando lá na faculdade com o maravilhoso e necessário “A Língua das Mariposas” – originados dessa terra rica em diversidade. Só para listar o que o MetaFictions já produziu à respeito, temos a badalada série “La Casa de Papel“, o polêmico longa “Sob a Pele do Lobo“, os aterrorizantes “Verónica” e, citado em nosso Garimpo Amazon Prime: Terror, “[REC]“, tivemos um Garimpo NETFLIX dedicado somente ao Castellano, e, claro, a obra-prima “O Labirinto do Fauno” apareceu em nosso Top 10 – Filmes de Monstro.

E já gostaria de deixar logo claro que o longa em questão figurará entre os demais citados acima por conseguir entregar em 1h30mim o que muitos thrillers badalados não conseguiram: fazer jus ao gênero. A construção meticulosa cena por cena do seu primeiro terço, criando situações, à priori, corriqueiras e sem importância, para depois entrar numa espiral de ansiedade e tensão em seu final, me deixaram angustiado de tal forma de ter que dar uma pausa pra respirar e beber uma água. Eu não consigo lembrar de ter ficado assim assistindo um longa-metragem nos últimos anos e espero ter um bom hiato até o próximo.

Com uma premissa muito simples, somos conduzidos por nosso protagonista Germán (Julián Villagrán) em uma viagem de carro para não perder o aniversário da filha, realizada de madrugada e completamente exausto. Caso você assista Choque de Cultura, sabe que estrada reta é feita praquele cochilo maroto, né? Numa dessas nosso amigo aí acaba atropelando – ou assim achamos – uma pessoa, tendo como testemunha em choque Silvia (Ester Expósito), uma garota de 17 anos que estava fugida de casa e não sabe muito bem como reagir ao ocorrido.

Infelizmente, quanto mais eu revelar sobre a película menos intrigante e tensa ela será pra você. Porém, posso tomar algumas liberdades aqui. Sabe quando você está em uma situação que você pode não fazer nada e ainda assim sair prejudicado, mas se fizer algo (ruim) suas chances de ser pego diminuem? Essa é a exata situação de Germán, num embate entre se corromper moralmente para fugir de uma punição ou ficar em paz com a sua consciência e encarar uma punição severa. Ele sai de uma situação MUITO RUIM, em um conflito que apresenta uma situação clara dele se safar dizendo a verdade, mas a situação ruma descontroladamente por um caminho até chegar a uma encruzilhada, onde passamos de um cenário indefinido a vamos a outro sem retorno.

Contribuindo com a narrativa, aumentando o risco e a tensão de cada evento, temos a polícia local. Você talvez até venha a estranhar o empenho que um grupo de policiais teve a partir de uma ligação cortada, tentando desesperadamente encontrar quem a fez. No Brasil, caso a mesma situação ocorresse, muito provavelmente você sairia impune basicamente voltando ao seu carro e continuando como se nada tivesse acontecido. Lá, como na cena inicial, você é escoltado até um hotel para tirar um ronco e preservar a sua e a vida do próximo.

Contando com atuações sólidas, um ritmo bem equilibrado e um roteiro bem elaborado, Quando os Anjos Morrem me surpreendeu e certamente vai te conduzir por momentos que você rezará para nunca passar.

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