Crítica: Rajma Chawal

A NETFLIX vem apostando muito no cinema asiático e da Oceania em 2018. Além de inúmeras séries e longas sul coreanos, australianos, japoneses, chineses e indonésios, uma outra escola cinematográfica bem maior, indiana, começa a despontar no cenário global. Desde que “Quem Quer Ser um Milionário?“, vencedor de 8 Oscars em 2009 e “Lion – Uma Jornada Para Casa“, indicado em 6 categorias em 2017, começaram a mostrar para o grande público a realidade, diversidade e complexidade da sociedade indiana, os telespectadores começaram a olhar para as produções da 7a arte de Bollywood com outros olhos.

Além de ambos os longas terem o ótimo Dev Patel como protagonista, é importante ressaltar que essas obras foram produções que se passavam na Índia, mas com pouca ou nenhuma participação dela. Contudo, foi o suficiente para aguçar a nossa curiosidade e coçar o bolso da NETFLIX, que somente esse ano produziu no próprio país diversas obras, dentre elas “Ghoul – Trama Demoníaca“, “Quatro Histórias de Desejo“, “Quem Tem Carma Nunca Alcança“, “Jogos Sagrados” e “Contando os Segundos” resenhadas aqui pelo MetaFictions.

Em Rajma Chawal, conhecemos Kabir (Anirudh Tanwar), um jovem na casa dos 20 e poucos anos que acaba de perder a mãe e a casa, mudando-se com seu pai para uma daquelas típicas residências escondidas em meio a um amontoado de outras em Nova Déli. Abatido por ter perdido contato com sua banda, não ter o amor de sua mãe, de quem era muito próximo, e sem perspectivas de futuro, Kabir fica desanimado. Enquanto isso, seu pai, Raj Mathur (Rishi Kapoor), tenta se aproximar, mas é constantemente rechaçado por seu filho por motivos muito mais profundos do que uma falta de conexão.

Até que, “brilhantemente”, Raj acha que é uma boa ideia usar um catfish no filho. Ele pega fotos de uma bela guria, inventa uma história e passa a conversar com Kabir pelo Facebook para entender melhor sua prole e tentar se reconciliar, nascendo a personagem Tara. Não satisfeito, ele ainda envolve todos os seus amigos próximos para ajudar nos meandros da troca de mensagens repleta de signos e significados que fogem a sua compreensão.

Mas claro que o destino é irônico e o roteiro precisa fazer as coisas acontecerem. A dita Tara – que se chama Seher (Amyra Dastur) – coincidentemente encontra Kabir na rua, afinal são apenas 19 milhões de pessoas vivendo na mesma cidade. Daí pra frente começa um jogo de mentiras, traições, desencontros e chantagens daquelas comédias românticas bem típicas. Saiba que Rajma Chawal é uma obra bem água com açúcar com todos os clichês do gênero presentes, indo desde a má índole – contrastando com a personagem criada por seu pai – de Seher, passando pelo ex ciumento que não larga do pé e chegando na máxima de que “o amor supera qualquer obstáculo”.

Um dos artifícios usado pelo roteiro que mais me cansaram foi a já mencionada frequência com a qual diversos personagens se esbarravam na rua. Eu não parei para contar, mas certamente no mínimo umas 15 vezes isso ocorre e a cada encontro mais desacreditado eu ficava. Essa falta de criatividade para fazer a história andar faz um enorme desfavor ao longa, que poderia ter sido bem mais conectado. Além disso, o tempo de comédia e os efeitos sonoros são desconexos e retiram a imersão do filme, que, momento ou outro, até é divertido, mas não consegue se manter coeso durante suas quase 2 horas de exibição.

O gap cultural é um dos temas centrais aqui, focado no abismo da relação entre pai e filho. Enquanto de um lado temos Raj – ainda calcado na tradições indianas e MUITO defasado no que tange a tecnologia, lembrando aquela sua tia sexagenária que não sabe porque não consegue achar Djavan no e-mail para escutar e protagonizando as melhores cenas ao lado dos amigos que tentam explicar pra ele como tudo funciona – e do outro lado temos Kabir – desvinculado das tradições e apoiando-se fortemente nas novas ferramentas de comunicação. De fato, somos mais filhos do nosso tempo do que dos nossos pais.

Porém, mesmo com um acerto ou outro, Rajma Chawal é um filme arrastado e descompassado, não sendo uma pérola indiana nesse catálogo da NETFLIX que não para de crescer. Esperamos ansiosamente por mais produções bollywoodianas!

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