Garimpo Netflix: Brasil

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Indo na onda de alguns Garimpos já publicados aqui, nos quais a seleção foi feita pela nacionalidade da produção, os três indicados de hoje são escolhas desse vasto país chamado Brasil. No entanto, os títulos não são uma ilustração desta multiplicidade tão falada. Pelo contrário, são produções centradas no eixo Sul-Sudeste, tendo dois deles o mesmo universo temático.

Apesar da Netflix ainda estar engatinhando em sua produção original nacional, já temos em seu catálogos bons títulos tupiniquins, tais como os 3 aqui eleitos. Não deixem de comentar sobre quaisquer outros títulos brasileiros disponíveis e nem de nos falar o que acharam destes aqui!


– Beira-Mar, de 2015, dirigido por Filipe Matzembacher e Marcio Reolon.

Pegando carona no lançamento da semana nos cinemas – e no belíssimo texto do nosso Marco Medeiros – “Tinta Bruta“, a primeira indicação desta publicação é um filme da mesma dupla realizadora. Filipe Matzembacher e Marcio Reolon produzem uma tocante obra com pouquíssimos recursos, promovendo, de maneira louvável, o que eu gosto de chamar de “Cinema de Resistência”.

Um conto simples sobre dois amigos que, em uma viagem, começam a explorar sua relação de amizade, enveredando por outras descobertas ou auto-aceitação, traz consigo um dos elementos mais marcantes e poderosos do Cinema: o silêncio e a imagem que falam por si só. Através disso, os diretores conseguem tornar o espectador tão mais íntimo daqueles conflitos do presente que começam a se mesclar com memórias de um tempo de inocência.

O olho da câmera tal qual uma testemunha onipresente, com a sinceridade de um Cinema-Verdade, é o necessário para alicerçar de maneira firme a delicadeza de uma história cotidiana.

Saneamento Básico, O Filme, de 2007, dirigido por Jorge Furtado

Sempre que uma história traz um tanto de “metaficção”, a coisa fica gostosa de se ver. Meus olhos chegam a brilhar quando vejo o Cinema falando sobre a própria ação de se fazer Cinema. E Jorge Furtado traz muito disso nessa sólida obra chamada Saneamento Básico.

Aqui acompanhamos um grupo no Rio Grande do Sul que cobra as obras para o tratamento de esgoto local, reclamando incessantemente junto à sub-prefeitura, que não pode arcar com os custos, visto que o dinheiro público – obviamente – não é suficiente. No entanto, a administração tem em caixa 10 mil “cruzeiro” para a realização de uma produção audiovisual de ficção, enviada pelo Governo Federal, que tomará de volta a contribuição caso não seja utilizada. Sendo assim, uma equipe é formada, entre os citadinos, que apresentam o projeto para a captação do recurso. A ideia é que o filme seja protagonizado por um monstro que vive no tão visado “esgoto-problema”. O problema é que ninguém ali tem a menor ideia de como se fazer um filme.

A partir dessa trama, e de uma maneira fluida e divertida, Jorge Furtado consegue tecer suas críticas políticas, econômicas, sociais e culturais, fazendo um retrato firme desse mosaico maluco que é o Brasil e o brasileiro – e com o humor que lhe é demasiadamente peculiar.

 Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de 2014, dirigido por Daniel Ribeiro

Inspirado pelo sucesso do curta-metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho”, o diretor Daniel Ribeiro (conhecido pelo curta “Café com Leite”, já indicado por nós no quadro CinePigmeu) investe no aprofundamento da mesma história e personagens para a realização do longa Hoje Eu Quero Voltar Sozinho.

A simplicidade do conto e a forma sutil como é narrado são o sustentáculo desse bonito filme que faz suas considerações acerca da auto-aceitação. E esta auto-aceitação ganha camadas de profundidade tão maiores a partir do momento em que fala dos vários processos da formação da identidade de um adolescente. Nas sequências, vamos descobrindo Leonardo, juntamente com este adorável e dócil personagem cego, que conhece os sabores e dissabores da juventude ao lidar, em primeira vez, com cada um dos conflitos mais aflorados desta época: sua condição especial, suas relações de amizade, o primeiro amor e a sexualidade.

Acostumado a sentir e ouvir um mundo que, obrigatoriamente, lhe é excludente, o protagonista vai sendo acolhido por braços que, de certa forma, também encarnam um outro tipo de exclusão. E, a partir dessa relação, a auto-aceitação se faz cada vez mais visível.

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