Garimpo Netflix: Então É Natal

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


É com aquilo que acredito ser o título daquela música insuportavelmente chata da Simone que toca todo natal e com uma fotinha de um filme passado nesta data natal que eu venho aqui enganar vocês. Este não é um garimpo especial com filmes natalinos. Eu até tentei que fosse, mas filme natalino que presta ou vocês já conhecem ou não existe. Basta dar uma olhada em nosso artigo Os 12 Melhores Filmes de Natal (ou não) para saber do que eu estou falando ou digitar “natal” na busca da Netflix.

Então resolvi dar aqui uma de papai noel e ao invés e apresentar 3 títulos como de costume, esta semana teremos 5, até mesmo porque boa parte de vocês aproveitou para dar aquele migué no trabalho ou tá de férias da escola/faculdade, com bastante tempo para matar entre o cachaçal do natal e o do réveillon. São títulos bem diferentes entre si, para todos os gostos. Aproveitem e não deixem de comentar o que vocês acharam!


– Sexo, Drogas e Jingle Bells (The Night Before), de 2005, dirigido por Jonathan Levine

Seth Rogen tem uma prolífica e hilária parceria com seu melhor amigo de infância e maconheiro do peito Evan Goldberg. Foi com ele que Rogen escreveu e produziu filmes como “Superbad”, “Ligeiramente Grávidos” e tantos outros, seguindo aquela lógica da comédia edificante e bem escrita, porém suja, crua e real que foi meio que popularizada por Judd Apatow em seu “Virgem de 40 Anos”. Sexo, Drogas e Jingle Bells é mais uma nessa linha, desta vez pegando o já exaustivamente adaptado “Um Conto de Natal” de Charles Dickens e dando a ele uma repaginada e uma bela de uma sujada. Aqui, ao invés dos fantasmas do natal passado, futuro e aquela patacoada toda, temos traficantes e prostitutas, além da Miley Cyrus.

Seth Rogen, Joseph Gordon-Levitt e Anthony Mackie interpretam 3 amigos que todo ano, na noite da véspera de natal, saem para fazer as merdas inerentes à juventude. Mas agora, já mais velhos, eles decidem, sob protestos de um deles, que esta será uma despedida, a última vez que farão aquilo. Para tanto, querem se despedir com estilo numa festa lendária que acontecerá em algum lugar da cidade. Temos aqui então uma comédia escrachada, daquelas em que seus protagonistas se metem em enrascada atrás de enrascada, discutem, ficam de mal um com o outro e fazem as países em um final edificante (nem tanto aqui neste caso), em que todo mundo se redime e fica tudo bem. Trata-se de uma boa e bem atuada comédia, que vai te divertir ali pela sua hora e meia, tal qual é a sua proposta.

O Príncipe Dragão (The Dragon Prince), de 2018, 1 temporada, criado por Aaron EhaszJustin Richmond

Este ano a Netflix disponibilizou um diamante enorme em forma de série animada juvenil chamada O Príncipe Dragão. Infelizmente, este diamante não foi lapidado suficientemente para que se tornasse algo especial em um nível poucas vezes visto. Roteiro, arte, dublagem, direção… Todos estes aspectos são nota 10, porém a animação, que parece sofrer de alguma espécie de lag com menos frames por segundo do que o usual, prejudica bastante mesmo a série, impedindo que ela se torne uma verdadeira obra-prima. De todo modo, ainda se trata de uma série animada excelente, perfeita para ser vista com crianças e adultos.

Temos aqui uma história clássica, que parece ter sido retirada de uma aventura de RPG, em que 3 adolescentes carregam aquilo que pode ser a salvação daquele mundo de fantasia deslumbrante criado pelo mesmo pessoal responsável pela série Avatar. Aqui temos dragões, elfos, magia e uma fantasia ao mesmo tempo um tiquinho ingênua para nós adultos, mas também madura para as crianças. Neste natal, caso você esteja de saco cheio de ver aquele mesmo episódio dos Novos Titãs com seu filho, roube o controle da mão dele e assistam só ao primeiro episódio. Pode até ser que seu filho não queira continuar assistindo, mas você provavelmente vai.

Confiram a nossa crítica aquicaso queiram entender melhor a que me refiro.

– Office (Opiseu), de 2015, dirigido por Won-Chan Hong

Para aqueles que gostam de thrillers com um quezinho de terror, o filme coreano Office é a pedida. Nele acompanhamos a trainee Mi-Rye (Ko Asung) no opressivo, humilhante e sugador de almas ambiente do escritório de alguma multinacional qualquer na Coreia. A única nesga de carinho humano que ela tem naquele lugar é de um de seus chefes, o Sr. Kim (o ótimo Seong-woo Bae). Acontece que o Sr. Kim acaba de chacinar inexplicavelmente toda a sua família depois de voltar do trabalho e aquele ambiente corporativo que esmaga tudo que a pessoa é recebe um novo e bizarro elemento por causa disso.

Valendo-se da tensão por quase toda a sua totalidade, Office ainda conta com um jogo de câmeras e de iluminação de primeríssima qualidade, totalmente necessário para ilustrar corretamente não só os aspectos de thriller que tem, mas, principalmente, fazer a crítica à impessoalidade, competição extrema e putaria absoluta que é o ambiente corporativo, em especial em sociedades orientais pautadas pela subserviência como a coreana.

– Bon Cop Bad Cop, de 2006, dirigido por Erik Canuel

É meio estranho pensar isso, mas existe crime, assassinatos, tráfico de drogas e toda sorte de iniquidade também no Canadá. E lá, pior do que a rivalidade biscoito x bolacha (é biscoito), Brasil x Argentina ou direita x esquerda, é o fato de haver efetivamente dois países, com duas culturas diferentes, dentro de um só Canadá: o inglês/americano e o francês. Essa dicotomia faz parte da vida cotidiana de todos, mas, sendo isso aqui o Canadá, a violência é reservada basicamente para dentro do rinque de hóquei sobre o gelo.

Em Bon Cop Bad Cop, que é um trocadilho com aquela velha dinâmica do tira bom, aqui escrito em francês, e do tira mau, escrito em inglês, temos os excelentes Michel Beaudry, um policial de Quebec, e Colm Feore, um outro de Ontario, sendo colocados juntos para resolver um crime que ocorreu justamente na fronteira entre as duas províncias e que envolve a única coisa que une estas duas culturas: o hóquei. Este choque de cultura será um combustível hilário para este verdadeiramente acima da média filme do gênero chamado buddy cop, em que dois policiais, em geral de personalidades antagônicas, são obrigados a colaborar para servir e proteger.
– Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones), de 2009, dirigido por Peter Jackson

Caso você tenha lido Peter Jackson aí no cabeçalho e achado que conhecia este nome, isso ocorreu porque você conhece. Trata-se do idealizador e realizador da incomparável trilogia do Senhor dos Anéis e da lamentável trilogia do Hobbit, além de outros títulos excelentes em sua espetacular cinematografia. Sempre flertando com o fantástico e/ou o sobrenatural, Jackson adaptou para o cinema o romance Um Olhar do Paraíso, em que uma adolescente chamada Susie, aqui interpretada por uma ainda desconhecida Saoirse Ronan, é assassinada em circunstâncias – que hoje talvez causassem ainda mais incômodo do que causaram à época – que a fazem vagar por uma não-existência em uma espécie de purgatório enquanto assiste sua família tentando lidar com sua morte/desaparecimento.

Trata-se de um filme denso, sobre luto, sobre o desapego e sobre despedidas, contando ainda com um uso nada convencional de efeitos especiais que servem para abrilhantar a trama e dar ainda mais verossimilhança e profundidade a tudo que acontece na tela, contando ainda com uma performance indicada ao Oscar do sempre ótimo Stanely Tucci. À época de seu lançamento, talvez por causa das circunstâncias um tanto perturbadoras que cercam o desaparecimento de Susie, o filme recebeu muitas críticas justamente porque não há nada de comum nele. Esta é, contudo, sua maior virtude.

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