Crítica: High Society
“Os opostos se atraem”. Esta é uma regra científica específica que, tirada de seu contexto, é utilizada pelo senso-comum para definir algumas relações pessoais. A realidade é que, neste caso, os opostos se repelem. Não consigo ver alguém de bom caráter sendo atraído por um péssimo sujeito. Não vislumbro um altruísta se apaixonando por um egoísta decidido. Portanto, os opostos se repelem e os iguais se atraem. Nessa lógica, caminha a produção coreana High Society.
Somos introduzidos a um casal por demais igual em personalidade: Tae-Joon (Hae-il Park) e Oh (Soo Ae). Ele, um professor de economia aspirante a deputado. Ela, uma curadora de obras de Arte, que tenta brilhar em um mundo muito fechado e dirigido pela “high society” do país. Aparentemente opostos em seus afazeres, esses marido e mulher dão vazão plena aos seus desejos para conseguirem chegar ao topo de suas carreiras. E, para isso, a narrativa vai nos apresentando desenvolvimentos de cena muito similares para ambos. Até uma traição surge no mesmo momento para cada qual.

A história – como é comum nas produções coreanas – vai envolvendo os personagens em uma trama rocambolesca, que se joga para políticos, investidores, artistas e a própria concepção de Arte. A priori mundos diferentes, o diretor Hyuk Byun vai ligando a política ao universo artístico, de modo a englobar tudo em uma rede única de corrupção. Até mesmo o louvável país Coreia do Sul conta com esta prática que parece ser intrínseca à natureza humana. Dessa forma, vamos testemunhando a derrocada dos protagonistas, já que vão sucumbindo aos desejos e se entregando aos prazeres da carne, da fama e do dinheiro.
Como grande parte dos filmes coreanos, vemos, uma vez mais, as relações de poder se tornando presente de modo a ditar as vidas dos menos favorecidos. O uso de tragédias para enaltecer uma ação política; a compra de figuras políticas em troca do investimento na campanha; e a “escravização” daqueles que aceitam qualquer coisa por seus “15 minutos de fama”. “Somos escravos deles, porque permitimos”, define a protagonista, dirigindo sua crítica a toda a sociedade atual que tenta, a qualquer custo, justificar a corrupção do homem. Sempre tem outra saída, que não se corromper. Sempre há. No duro, no duro, é o indivíduo que escolhe o caminho a trilhar. E o corrupto fez sua escolha.

Desnudando as práticas humanas, subvertendo a própria noção de país-modelo e não escapando disso nem a Arte, High Society faz uma esboço da sociedade de hoje (ou de qualquer tempo), definindo o humano como corrupto, a política como um joguete inescrupuloso e a Arte como merda. Apesar da busca de redenção de seus personagens principais, Hyuk Byun apresenta uma perspectiva sem esperança em relação ao que vem dos homens.
Leave a Comment