Crítica: Sex Education - 1a Temporada

O que Dana Scully de “Arquivo X”, Stella Gibson de “The Fall“, Media de “Deuses Americanos” e Dra. Bedelia de “Hannibal” têm em comum? Todas foram interpretadas pela sensacional atriz e milf Gillian Anderson. Não há um geek punheteiro na face da Terra que tenha vivido os anos 90 e 2000 que não imaginou a presença imponente dela em suas fantasias masturbadoras. Seu ar posudo, elegante, exalando experiência e atitude marcou toda uma geração ao ponto de sua presença na 1a temporada da série inglesa Sex Education como a terapeuta sexual Jean fosse o suficiente para que eu me interessasse em assisti-la.

Embora esse interesse tenha surgido apenas quando comecei a assistir e eu tivesse feito a ressalva ao nosso editor-chefe que eu resenharia qualquer estreia da NETFLIX que não fosse britânica – vide meu preconceito babaca e infundado com as produções de lá-, foi o que acabou caindo no meu colo. Ao iniciar essa empreitada com enorme pesar, imaginei 8h da minha vida sendo torturado audiovisualmente com tons pastéis na fotografia, dias chuvosos, personagens com um inglês indecifrável e muita piada de Mr. Bean. Contudo, com apenas 30 minutos de exibição, enfeitiçado por Gillian e agraciado por uma fotografia viva, com uma paleta de cores intensa e variada, ambientes iluminados pelo Sol (sim, também faz Sol na terra da rainha) e um tom cômico muito maduro e pertinente, estava completamente investido na obra.

Para quem ainda não começou, Sex Education nos apresenta o seguinte cenário: Otis (Asa Butterfield), aluno de 16 anos do ensino médio, que por alguns traumas na vida não consegue bater uma punheta, começa a atuar como terapeuta sexual da escola, fazendo valer a máxima de “quem não sabe, ensina”. Ironicamente ele é filho da supracitada Jean e amigo de Eric (Ncuti Gatwa), abertamente gay e muito entusiasmado com a vida. Eric sofre bullying nas mãos de Adam (Connor Swindells), filho do diretor da escola, típico cara largado motivo de vergonha para seu pai, portador de uma piroca de 30 cm e que não consegue gozar. Numa daquelas conspirações do acaso, Otis dá um conselho à Adam, que consegue finalizar uma brincadeira com sua namorada, catapultando Otis ao status de guru do sexo. Com a ajuda de Maeve (Emma Mackey), sempre aquela garota maneira que é rotulada de piranha pela sociedade escolar, eles começam um empreendimento de conselheiro sexual/amoroso, enquanto o destino vai os posicionando para um desfecho previsível, mas guardando algumas surpresas ao longo do caminho.

Tirando a boa animação “Big Mouth” (veja as críticas da 1a Temporada e 2a Temporada), que trabalha a descoberta da sexualidade de forma bem galhofada e com muita liberdade criativa, carecemos de obras que trabalham essas temáticas importantes com a perspectiva de quem passa por isso na juventude, como a gravidez na adolescência, aborto, polução noturna (quando você dá aquela gozada dormindo), rejeição, masturbação, sexualidade, paixão platônica, medo de passar vergonha, cyber bullying, amizade, homossexualidade, traumas, virgindade, fantasias, nossas relações com nossos progenitores (e o quão difícil é falar sobre sexo com eles), de forma divertida e sensível.

A empatia criada a partir de relações bem construídas eleva a série muito além de uma simples comédia sobre sexo, apresentando personagens multidimensionais. Você não tem aquela impressão que relacionamentos homo afetivos, inter-raciais, imigração, feminismo e tantas outras bandeiras estão ali apenas para serem agitadas. Elas estão ali porque simplesmente isso faz parte da nossa sociedade. São nossos colegas de sala, família, pais dos nossos amigos e nossos vizinhos. Foi um enorme favor que Sex Education fez para a produção audiovisual, especialmente para para os jovens que agora estão a descobrir sua sexualidade.

Mesmo que tenha sido arrastado para cantos da minha memória que eu não gosto muito de visitar – me fazendo lembrar porque nunca era convidado para festas e quando era porque ficava parado num canto morrendo por dentro – era impossível não achar algum personagem para torcer com o qual você se identifica. O quanto eu me vi na pele de Otis e o quanto torci para ele ser deflorado por Maeve ficou estampado em meu rosto a cada cena dos dois juntos e isso é algo raro de acontecer comigo. Esse investimento emocional em personagens que datam de uma distante época do velho Fields me foi muito apreciado, sendo ao mesmo tempo gratificante e penoso de assistir.

Eu rogo para que você dê uma oportunidade a Sex Education e, caso você já tenha assistido e esteja só dando uma conferida na opinião dos outros, que diga aqui nos comentários quão boa é a série e qual situação constrangedora você já passou semelhante aos nossos aventureiros. No aguardo da 2a Temporada desde já.

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