Crítica: A Última Gargalhada (The Last Laugh)

Se você estava por aí nos anos 80 e tinha um aparelho de VHS em casa, os nomes Chevy Chase e Richard Dreyfuss devem ecoar na sua memória como protagonistas de alguns dos maiores clássicos do cinemão americano da época. Chase, que foi catapultado para a fama na primeira temporada de “Saturday Night Live”, veio a se tornar uma figura frequente nas TVs de CRT de todos os lares do mundo ocidental, estrelando filmes como a franquia “Férias Frustradas” e “Os Espiões que Entraram numa Fria”. Dreyfuss, que já trabalhava há uma década quando apareceu em “American Grafitti”,  primeiro longa de George Lucas, estourou em “Tubarão” e “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, tornando-se garantia de sucesso nas bilheterias na década seguinte. Ver esses dois nomes juntos nos créditos de um filme (com o adicional de Andie MacDowell, de Sexo, Mentiras e Videotape, Feitiço do Tempo e Quatro Casamentos e um Funeral) faz qualquer apreciador do bom cinema salivar. E foi com essa fome que sentei-me para assistir a A Última Gargalhada, lançamento dessa sexta-feira na Netflix.

A premissa é boa: Al Hart, um agente lutando para se adequar à aposentadoria (Chase num papel mais sério do que os fans de Clark Griswold estão acostumados, mas sempre engraçadíssimo quando precisa ser) é convencido pela filha a se mudar para um asilo de velhinhos na Califórnia e lá se encontra com Buddy Green, seu primeiro cliente (Dreyfuss, ao contrário, fazendo um papel mais cômico que de costume, e funcionando muito bem), um ex-comediante que virou médico e agora está acostumado com a vidinha pacata do asilo. Hart, ainda sedento por aquele último momento de glória profissional convence Green a retomar a carreira, 50 anos depois, e os dois embarcam numa turnê pelos clubes de stand up comedy dos Estados Unidos.

O reencontro dos velhos amigos rende momentos agradáveis, fazendo graça das mazelas da velhice e que parecem espelhar-se, possivelmente (ou imagina-se), na vida pessoal dos dois atores. Durante a viagem não apenas a velhice aparece como tema, mas o contraste entre a lembrança que os amigos tinham de quem eram versus quem se tornaram depois de tanto tempo. Al Hart virou um velhinho amargo e derrotista, apesar do grande sucesso financeiro ao longo da carreira, Buddy Green, ao contrário, apesar de nunca ter realizado o sonho de ser famoso, tem uma postura positiva, como um velhinho maconheiro boa gente.

O filme mistura humor, insights sobre a velhice e Road Trip, com imagens belíssimas dos cafundós dos Estados Unidos e piadas divertidas, sem ser abertamente uma comédia. No entanto tenta com uma certa insistência chata flertar com uma estética que lembra os quadros do Saturday Night Live, um tanto surreais e por vezes simplesmente maçantes visto que o filme não é uma comédia descarada. Há passagens inteiras que são dispensáveis (como quando Al Hart, um sinhôzinho careta experimenta drogas pela primeira vez e começa a alucinar) e me pareceram estarem ali apenas para encherem linguiça de um filme que seria curto demais (1 hora e 38 minutos contando os fillers). No entanto, há várias questões que seriam muitíssimo mais interessantes e são pouco ou mal exploradas. Andie MacDowell, por exemplo, entra na história como aquela coroa descolada que recita poesia no café hipster da cidade, e entra como contraponto do relacionamento dos dois amigos e parece mais uma participação especial, ou o relacionamento dos dois com suas famílias que poderiam render momentos ao mesmo tempo engraçados e sensíveis e aparecem apenas para criar tensão no fim do filme.

Não é ruim, em especial se você conhece Chevy Chase e Richard Dreyfuss, mas poderia ter sido muito bom. Fica-me o desejo de que essa não seja, de fato, a última gargalhada que daremos com esses dois incríveis atores.

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