Crítica: WiFi Ralph: Quebrando a Internet (Ralph Breaks the Internet)
Há algum tempo, a pessoa cuja fama e fãs mais me deixam completamente puto da minha cara, a sra. Kim Kardashian, “quebrou” a internet ao basicamente posar para uma reluzente foto de sua rabeta. De lá pra cá, qualquer coisa passou a quebrar a internet, inclusive aquela vez antológica em que Caetano Veloso atravessou a rua ali no Leblon. Felizmente, esta continuação de “Detona Ralph” veio para finalmente dar um novo significado a esta expressão tão esvaziada e ridícula, uma vez que, finalmente, alguém vem para quebrar a internet de verdade, expondo tanto para adultos e crianças a potencial toxicidade deste ambiente e, de lambuja, ensinando uma valiosa lição sobre amizade, sobre o amor e sobre os relacionamentos em geral.
Seis anos após os eventos de “Detona Ralph” em que Ralph (Tiago Abravanel na versão nacional), um vilão de um jogo de fliperama, salva toda a galera de seu arcade e faz uma amizade inquebrantável com Vanelope (Mari Moon na versão nacional), a menina do jogo de corrida meio amalucada, os dois passam seus dias trabalhando em seus jogos e não fazendo muito mais coisa. Para Ralph, um cara que sempre foi odiado por todos ao seu redor, aquilo é mais que suficiente, pois finalmente ele é amado por alguém, mas Vanelope está um tanto entediada com sua vida que tem só 3 pistas no jogo Corrida Doce.
Ralph, um amigo daqueles até meio assustadores de tão grudados, resolve ajudar a tirar sua amiga daquele marasmo e, no processo, acaba por contribuir decisivamente para que o jogo dela do fliperama venha a ser desativado permanentemente. A única solução é encontrar na internet a peça que consertará o jogo e, coincidência ou não, o fliperama acaba de instalar WiFi em toda a loja, permitindo a Ralph e Vanelope acessar a internet e naquele vasto mundo encontrar a solução para seus problemas.
E aqui, mais uma vez apelando para o que “Detona Ralph” tinha de melhor, temos uma enxurrada ABSURDA de easter eggs e referências desta vez não só da cultura pop e dos videogames, mas de praticamente da vida cotidiana de todos nós em nosso uso cada vez mais obcecado e incessante da internet, ainda que isto tudo seja tratado de forma obrigatoriamente branda, já que este ainda é um filme para crianças. Isto que dizer que há basicamente uma representação visual e normalmente fofinha para virtualmente (rá!) todas as atividades que praticamos na internet, deixando de lado, por óbvio, aqueles 85% da internet que você sabe muito bem para que serve e que jamais poderia aparecer num filme desses.
Isto, por si só, seria suficiente para fazer com que WiFi Ralph: Quebrando a Internet se elevasse acima de seu antecessor, entrando no seleto grupo de continuações melhores que os originais. Contudo, o roteiro de Phil Johnston e Pamela Ribon vai bem além, proporcionando ainda uma alegoria, também mais uma vez bem abrandada, para relacionamentos abusivos, sufocantes e opressivos. Ao acessar a internet, Ralph é um homem focado em sua missão, enquanto que Vanelope finalmente enxerga uma possibilidade de um mundo além daquele vidinha rame-rame que vem vivendo há anos, ainda que ao lado do melhor amigo que qualquer pessoa poderia querer.
Reeditando os melhores momentos de outras obras excelentes como “Divertida Mente” e “Monstros S.A.”, WiFi Ralph: Quebrando a Internet traz uma lição importante e relevante não só para a garotadinha que o assistirá, mas também para seus pais que talvez não entendam que seus filhos devem ser criados para o mundo e não para si mesmos, resultando nessa era de bolhas de super proteção de uma nocividade presentemente incalculável, cujos estragos e repercussões só descobriremos daqui a uns anos.
Nem tudo, contando, são likes de facebook ou seja lá qual for o equivalente da rede social que a garotada hoje tá curtindo mais. Mesmo contando com um roteiro cheio de camadas e com alguma densidade, os diálogos ainda são bobos e a dublagem, que apostou, assim como no original, em atores que não são dubladores profissionais na versão nacional, peca bastante. Meu sobrinho de 6 anos, tendo nascido mais ou menos na mesma época em que o primeiro filme foi lançado me fez a seguinte pergunta: “Tio Gustavo, já que você é a pessoa mais inteligente do universo, porque essa menina fala tão esquisito?”. Apenas uma dessas frases é verdadeira e acho que é óbvia qual para quem assistir a performance de Mari Moon como Vanelope, fazendo um infeliz contraponto ao trabalho excelente que Sarah Silverman faz na versão original.
Outra coisa que me chamou a atenção também foi o fato de que meu outro sobrinho, este de 4 anos, dormiu na cena final de ação, mesmo tendo tomado um milk shake gigante e ser uma criatura naturalmente ligada no 220. As cenas de ação deixam um pouco a desejar, ficando um pouco aquém das aventuras mais recentes da Disney, mas ainda são suficientemente divertidas para valer a pena levar a criançada ao cinema.
Os problemas de WiFi Ralph: Quebrando a Internet, contudo, não tiram dele a pecha de ser um filme perfeito para ser visto por toda a família, oferecendo diversão e reflexão tanto aos pequenos quanto aos maiores e apresentando momentos que vão fazer toda e qualquer pessoa que use a internet rir, apelando descaradamente para easter eggs e afins. Ahhh, não se esqueçam de ficar até a cena depois dos créditos, pois, a julgar pela risada gostosa de toda a criançada da minha sessão, seus pequenos vão adorar.
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