Garimpo Especial: 10 Filmes que Passaram Despercebidos em 2018
Seguindo a tradição iniciada no ano passado com o nosso Garimpo Especial: 10 Filmes Que Passaram Despercebidos em 2017,, voltamos em 2019 apresentando novamente 10 filmes que talvez tenham passado zunindo pela sua cabecinha no ano passado. E surpreendentemente a maior parte deles não é metida a besta, falada em farsi e/ou tem travestis brasileiros tentando a vida numa intolerante Líbia controlada pelo Estado Islâmico. Muito pelo contrário, temos aqui desde um filme infantil, filmes nacionais totalmente diferentes entre si e até mesmo um filme protagonizado por uma estrela de Wakling Dead em que ninguém come as tripas de ninguém.
Para esta lista deixamos de fora alguns dos melhores filmes do ano simplesmente porque eles já constam das listas publicadas na semana passada do nosso Top 10 – Os Melhores Filmes de 2018, em que o pessoal aqui do site votou diretamente, e na compliação As Obras Mais Bem Avaliadas de 2018, que contou com os filmes que receberam a maior nota do site no ano e dentre os quais muitos poderiam estar aqui neste garimpão especial do ano, tais como as verdadeiras obras primas que são Mudbound, O Amante Duplo, Pérolas no Mar, O Vazio de Domingo, Lazzaro Felice, Apóstolo e Tinta Bruta. Sei que acabei de te tirar qualquer motivo para clicar nos links das listas acima, mas seja uma pessoa melhor do que eu e confira!
Segue abaixo, portanto, a lista de 10 excelentes filmes, para todos os gostos, que, por uma razão ou por outra, passaram despercebidos do grande público. O que vocês acham que tá faltando aí? Já viram alguns da lista? Não deixem de nos falar nos comentários!
– As Aventuras de Paddington 2 (Paddington 2), dirigido por Paul King, lançado em 1º de fevereiro
O dia era 28 de Janeiro de 2018. Lá estavam eu, Gustavo, o editor-chefe aqui do site, e seu sobrinho participando de uma cabine de imprensa de As Aventuras de Paddington 2. A aventura mostra a jornada do urso mais fofo do planeta para recuperar o presente de sua tia, que foi roubado. Por causa das encrencas em que o coitado se mete, a família Brown terá de ajudá-lo mais uma vez. Este não se trata apenas de um filme de família divertido, mas também de uma sequência de qualidade, das raras que superam o original, tanto que é um dos poucos filmes a receber 100% de aprovação no site Rotten Tomatoes. Com uma boa dose de comédia e momentos de soltar lágrimas, essa produção subestimada merece mais reconhecimento e amor do público.
Por Valentina Schmidt
Leia a Crítica Aqui!
– Zama, dirigido por Lucrecia Martel, lançado em 29 de março
Zama é o coração de trópicos tão tristes quanto verdadeiros. A película retorce o espectador no encontro de um passado ainda vivo, onde os caudilhos são regurgitados pela selvageria e a suposta civilização ultrapassa toda e qualquer fronteira moral. Sem remorsos, sem meias palavras, com direção impecável e atuações magistrais, a obra é obrigatória na medida que expõe como poucas a foz dos esgotos abertos da América Latina.
Por Thotti Cardoso
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– Tully, dirigido por Jason Reitman, lançado em 24 de maio
Tully teve duas coisas que me atraíram. A primeira foi a Charlize Theron no papel de protagonista. A segunda foi o cartaz um tanto quanto intrigante. Mal sabia eu que estaria vendo um filme delicado e com muita qualidade. Tully fala sobre maternidade. Tully fala sobre dificuldade. Tully fala sobre felicidade. Com a atuação espetacular de Charlize Theron, a obra, que já é bem satisfatória pelo roteiro em si, é elevada a outro nível. Infelizmente passou debaixo de nossos narizes durante o ano, porém se arrependa e vá conferir esta simples obra, que ficará em minha memória de forma satisfatória.
Por Gabriel Eskenazi
– Nos Vemos no Paraíso (Au revoir là-haut), dirigido por Albert Dupontel, lançado em 5 de julho
Na nossa crítica falamos o seguinte: “Infelizmente, ninguém aqui voa ou solta raio laser pelos olhos, então ele não deve ter a distribuição que merece.” E foi exatamente isso que ocorreu. Esta super produção francesa tem absolutamente todos os elementos que fazem um filme ser épico e grandioso e, portanto, apelativo ao grande público. Contudo, sua distribuição foi limitadíssima e, com isso, poucos foram aqueles que tiveram o grande prazer de assistir às duas horas de virtuosismo cinematográfico da poderosíssima parábola de Albert Dupontel sobre o poder da amizade e das relações humanas na existência de cada um de nós, tudo enquanto presta uma evidente homenagem a tantas coisas maravilhosamente clássicas do cinema que não vou listar. Um filme refrescantemente nostálgico sem tentar ser e, principalmente, sem se valer disso como muleta.
Por Gustavo David
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– O Animal Cordial, dirigido por Gabriela Amaral, lançado em 9 de agosto
Ao mesmo tempo tributo aos grandes do cinema, comentário social e um tour de force de um elenco azeitadíssimo, O Animal Cordial é antes de tudo um filme que sabe o que quer – entreter – e o faz de forma despudorada, sem jamais atentar contra a inteligência do telespectador e enquanto critica de forma clara, ainda que indireta, as relações de poder em uma sociedade tão desigual quanto a brasileira. Sua principal força, contudo, é a alegoria sobre o ser humano e sua eterna busca por propósito e a elação absoluta e contagiante de quem o encontra, tudo aqui embalado em um thriller dos bons, com performances estelares dos três principais pilares do elenco (Luciana Paes, Murilo Benício e Irandhir Santos) e um apreço deliciosamente doentio pelo gore que raramente é visto no cinema nacional.
Por Gustavo David
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– Benzinho, dirigido por Gustavo Pizzi, lançado em 23 de agosto
Imagine um filme onde nada acontece mas tudo acontece como acontece nas vidas comuns. O diabo é que a gente não se dá conta de como acontecem coisas nas vidas comuns. Benzinho é isso. Uma sequência de acontecimentos comuns vividos por uma típica família classe média brasileira, cheia de sonhos, medos, partidas, conquistas e perrengues que fluem com uma naturalidade impressionante, a ponto de nos convencer que o diretor ligou a câmera e deixou personagens viverem suas vidas. Personagens autênticos vivem na pele de atores fabulosos que trocam diálogos extraordinários exatamente por serem tão ordinários e que soam como se não estivessem numa tela. Este é o valor de unicidade de Benzinho. Uma história comum que acontece como se acontecesse ali na esquina. E por ser comum é incomum, diante da enxurrada de roteiros esquematizados pelas melhores técnicas de prender o espectador com plots e viradas de storytelling que fazem Hollywood babar e as bilheterias transbordarem. Nada contra, adoro Hollywood, mas Benzinho é diferente. Quer ver? Passe um tempo numa família brasileira encontrada em qualquer bairro de classe média do Sudeste. Ou veja no Now. Você vai enxergar o Brasil num espelho. Talvez você descubra quem é Karine Teles, uma atriz fora do mainstream, que de tanta simplicidade dá uma lição de atuar, sem que ninguém perceba que está atuando.
Por José Guilherme Vereza
– Em Chamas (Beoning), dirigido por Chang-dong Lee, lançado em 15 de novembro
Do amor à relação pouco amistosa entre classes, tantas são as camadas que podem ser encontradas em Em Chamas, novo filme de Chang-Dong Lee e provável representante da Coreia do Sul no Oscar. A partir da história de um suposto triângulo amoroso, entramos no jogo de provocações que se faz concreto a partir da subjugação psicológica de quem se entende superior, devido às posses pessoais, levando o menos abastado ao seu limite, conseguindo , ainda, penetrar na esfera sentimental, que tampouco escapa à manipulação do opressor. Um conto feroz e direto sobre presunções, emoções e relações pessoais, que desnuda, a cada cena, mais e mais a ardente natureza humana.
Por Rene Michel Vettori
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– Tempo Compartilhado (Tiempo Compartido), dirigido por Sebastián Hofmann, disponibilizado pela Netflix em 30 de novembro
https://youtu.be/cnzpvJdFuuU
Sabe aquelas vezes em que você vai ver um filme, assistir a uma peça ou ouvir uma música sem a menor expectativa e então você é arrebatado de maneira tal que você passa a questionar suas certezas? Pois então, é exatamente o que acontece com este simplesmente imperdível Tempo Compartilhado. Contando com performances nada menos que magistrais de todo o seu elenco, uma cinematografia entregue totalmente à narrativa e uma trilha sonora que complementa de forma extremamente pertinente a história, Tempo Compartilhado começa como uma comédia familiar de situação e lentamente vai se transformando num drama com um viés de sci-fi de futuro distópico opressivo, desesperador e sufocante. O diretor e co-roteirista Sebastián Hofmann apresenta um conto cheio de alegorias da vida em sociedade e da condição humana em uma obra que já demonstra de cara todo o potencial de mais um brilhante cineasta mexicano.
Por Gustavo David
Leia a Crítica Aqui!– O Beijo no Asfalto, dirigido por Murilo Benício, lançado em 1º de dezembro
Vinícius de Moraes escreveu que “são demais os perigos dessa vida para quem tem paixão”. Estreando como diretor, Murilo Benício tinha alguns perigos grandes nas mãos. Mas, ela, a paixão, fez do seu O Beijo no Asfalto uma das mais agradáveis surpresas de 2018. O clássico de Nelson Rodrigues ganhou tratamento de luxo na versão de Benício: fotografia primorosa em preto-e-branco, elenco estrelado (quer um nome só? que tal Fernanda Montenegro?), edição estonteante e muita paixão pelo texto e pela arte. E, brilhando acima de tudo isso, a ousadia de experimentar no cinema. O filme é uma mistura de documentário das leituras da peça pelo elenco, teatro filmado e maravilhosas sequências cinematográficas. De quebra, ainda levanta reflexões pertinentes sobre fake news, homofobia e o papel do artista num mundo como o nosso. Um servição muito bem feito e que eleva lindamente o moral do cinema brasileiro. É, Nelson, se a Seleção não ajudou muito na Copa, acho que, com esse Beijo, encontramos um motivo para nos livrarmos do complexo de vira-latas em 2018.
Por Marco Medeiros
Leia a Crítica Aqui!
– Quando os Anjos Morrem (Cuando los Ángeles Duermen), dirigido por Gonzalo Bendala, disponibilizado pela Netflix em 28 de dezembro.
Com uma premissa muito simples, somos conduzidos por nosso protagonista, Germán (Julián Villagrán), em uma viagem de carro no afã de não perder o aniversário da filha, viagem esta realizada de madrugada e com o sujeito extenuado ao extremo. Numa daquelas piscadas de olho que demoram 3 segundos, nosso amigo aí acaba atropelando uma pessoa, tendo como testemunha Silvia (Ester Expósito), uma garota de 17 anos que estava foragida de casa e não sabe muito bem como reagir ao ocorrido, em choque. Contando com atuações sólidas, um ritmo bem equilibrado e um roteiro bem elaborado, Quando os Anjos Morrem me surpreendeu e certamente vai te conduzir por momentos de muita ansiedade. Não espere aqui por aquela película com um roteiro filosófico e profundo, contudo, o trabalho de Gonzalo transforma uma narrativa simples em uma noite que você não esquecerá tão cedo.
Por Ryan Fields
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