Garimpo Especial: 10 Séries que Passaram Despercebidas em 2018
A cada ano que passa parece que mais séries são lançadas. Se ano passado eu contabilizei 2 bilhões de séries novas em nosso Garimpo Especial: 10 Séries que Passaram Despercebidas em 2017, esse ano eu posso cravar que esse número pelo menos dobrou. Tivemos aí umas 4,2 bilhões de séries novas ou recebendo novas temporadas, vindas desde a nossa amada Netflix até de canais a cabo obscuros que a gente nem entende muito bem porque existem.
Mesmo sem Game of Thrones, o ano ainda nos trouxe boas temporadas de séries consagradas, como as amadíssimas “Better Call Saul”, “Demolidor” e “Vikings”, além de uma não tão excepcional, mas ainda muito boa, 2ª temporada de Westworld. Por outro lado, “House of Cards” veio para demonstrar que os anseios e caprichos sexuais de Kevin Spacey prejudicaram muito mais do que a sua carreira que foi para o caralho, mas principalmente o público que foi forçado a ver a lamentável e melancólica última temporada desta até então excepcional série. A Netflix, mesmo com essa falha, pelo menos não decepcionou os fãs de anime, lançando os espetaculares “DEVILMAN: crybaby” e a 2ª temporada de Castlevania, bem como algumas das séries que constam aqui desta lista.
Contudo, passando zunindo pela cabeça da maior parte da galera, tivemos algumas outras grandes obras que merecem ser assistidas. Nas próximas páginas nós listaremos 10 delas, sem qualquer ranking, e nos comentários vamos ficar esperando pelo hate de vocês nos dizendo que esquecemos de indicar alguma desgraça específica que só você gosta.
Aproveitem essa lista que tem praticamente de tudo e não deixem de falar o que acharam nos comentários!
– Sharp Objects, de 2018, minissérie criada por Marti Noxon
https://youtu.be/shCbERsFtSQ
Uma repórter retorna a sua cidadezinha natal para investigar o assassinato de uma garota e o desparecimento de outra. Só que os segredos de sua própria vida podem ser tão cortantes quanto o que ela busca. Isso é Sharp Objects, uma das melhores coisas da TV em 2018. Padrão HBO de qualidade, estrelada por Amy Adams em uma das maiores performances de sua carreira, dirigida pelo marcante Jean-Marc Vallee. Não tinha como dar errado. Cada reviravolta nos oito episódios leva o espectador a se ajeitar no sofá e dar uma respirada. Se o roteiro genial, com algumas das falas mais ácidas de todos os tempos, e todas essas qualidades já faladas não forem o suficiente pra te convencer a descobrir essa assustadora beleza, deixo mais uma tentação: Patricia Clarkson. Depois dela você vai repensar todas as suas questões com a sua mãe.
Por Marco Medeiros
– O Método Kominsky (The Kominsky Method), 1 temporada, 2018 – , criada por Chuck Lorre, série original Netflix
https://www.youtube.com/watch?v=fGjD2bkedlg
Michael Douglas como um velho professor de teatro, ator fracassado cercado de alunos esperançosos. Alan Arkin como um viúvo rico que se aconselha com a falecida, dono de uma agência de artistas, judeu relapso, que tenta emplacar o amigo professor em alguma produção, sem sucesso. Uma filha às voltas com os impostos devidos do pai. Outra filha viciada em drogas. Um garçom figuraça. Danny DeVito como um proctologista irreverente. Um amor de professor com aluna que não deslancha. Diálogos geniais. Humor da melhor fineza. Situações absurdamente desopilantes. Uma dose de sacadas dignas dos Irmãos Marx. Colheradas de amizade profunda e rabugenta, uma pitada de melancolia, humor brilhante a gosto. Misture tudo isso, estenda num tempo de 224 minutos e divida em 8 episódios de 20 e poucos. Sirva numa tela da Netflix de preferência acompanhada de uma pessoa de ótimo senso de humor. Esta é a receita de uma das séries mais deliciosas e despretensiosas já criadas, que recomenda-se rever tanto quanto necessário para descobrir sutilezas de alta criatividade. Rende Globo de Ouro de Melhor Série e Ator de Comédia para Michael Douglas. E lambam os beiços.
Leia a crítica aqui!
– Planet With, 2018 -, 1 Temporada, criado por Satoshi Mizukami, disponível no Crunchyroll.
Animes com robôs e monstros gigantes é praticamente o que consagra a produção audiovisual japonesa. Todo ano recebemos uma dezena de postulantes ao hall dos gigantes do gênero, e embora um “Neon Genesis Evangelion” da vida apareça muito raramente, obras como Knights of Sidonia (indicado em nosso Garimpo NETFLIX) costumam mostrar que ainda há esperança de vermos belas lutas enquanto cidades inteiras são destruídas. Chegando com esse espírito destruidor, Planet With foi uma agradável surpresa estreante no Crunchyroll. Seguindo uma linha batida em seus primeiros episódios, vemos duas facções alienígenas disputando entre si para direcionar o futuro da humanidade, nos brindando com ataques de naves gigantes, mechas saindo na porrada e transformações bem inusitadas. Contudo, em sua metade, a série despiroca brabo, mostrando como causar uma quebra de expectativa de forma competente e subverter os clichês. Das obras nipônicas que ainda não possuem reconhecimento de 2018, certamente essa é uma das melhores.
Por Ryan Fields
– Lutas Ancestrais, 2018 – , 1 temporada, criada por Frank Grillo e Padric McKinley, série original Netflix
https://youtu.be/ZKJdy1XGtK0
Não se deixe enganar pelo nome merda e genérico do título em português. Lutas Ancestrais é sobre pessoas que lutam e sobre entender a cultura que as levam a enxergar na luta oportunidades para respeito, reputação, fama e dinheiro. Sobretudo, é um estudo antropológico sobre as culturas que criaram algumas das mais fascinantes modalidades marciais do mundo. Conduzida por um apresentador que tem a medida certa de carisma e reverência por tudo aquilo que está sendo apresentado, a 1ª temporada de Lutas Ancestrais começa com um episódio um tanto mais ou menos no México, mas segue num crescendo até culminar em dois episódios incrivelmente fantásticos sobre as culturas senegalesa e israelense. Não só os amantes de luta, mas aqueles que amam o ser humano enquanto ser social têm em suas mãos um prato cheio e que passou zunindo pela cabeça de todo mundo este ano.
Por Gustavo David
Leia a crítica aqui!
– Cães de Berlim, 2018 -, 1 Temporada, criada por Christian Alvart, série original Netflix
https://youtu.be/-aSV1ccJA5g
Neonazistas, jogadores de futebol, um beagle, boas atuações, peitinhos, tráfico de drogas, apostas ilegais, máfia turca, máfia libanesa, máfia eslava, corrupção policial, homossexualidade muçulmana, excelente direção, mais um pouco de peitinhos e um roteiro que consegue amarrar tudo isso (e muito mais que eu me esqueci) são os elementos que fazem de Cães de Berlim uma das melhores estreias seriais do ano. Depois do assassinato do melhor jogador da seleção alemã, de ascendência turca, dias antes do jogo contra a Turquia, dois policiais com um passado completamente antagônico são colocados lado à lado para tentar resolver o crime e evitar a eclosão de protestos raciais por toda a Berlim. Só que ambos estão mais preocupados com absolutamente tudo que não o assassinato, fazendo desta uma série que tem uma pegada de Guy Ritchie dos bons tempos e entretém ao mesmo tempo que causa diversas reflexões sobre temas tão delicados hoje em dia como a imigração e o extremismo radical para ambos os lados.
Por Gustavo David
– The Deuce, 2017 – , 2 temporadas, criada por George Pelecanos e David Simon, série original HBO.
Hoje em dia babamos um ovo forte da NETFLIX e as suas produções originais, mas não é para menos. Toda semana somos soterrados por diversas temporadas novas e, em meio a essa avalanche, pérolas como as apresentadas hoje marcam a história da televisão. Contudo, vamos lembrar aqui quem produz o suprassumo das séries desde os anos 90, a gloriosa Home Box Office, vulgo HBO. Em The Deuce vemos o trato fino e polimento dado a uma obra em sua 2a temporada e que ainda não caiu nas graças do público. Acompanhamos durante os anos 70 e 80, em Nova Iorque, o surgimento da indústria da pornografia, indo desde o papel das prostitutas de rua e de seus cafetões, passando por cineastas fora do grande círculo hollywoodiano, chegando ao submundo da distribuição e a luta pela legalização da mídia. Com atuações primorosas de James Franco e Maggie Gyllenhaal essa é certamente uma das melhores séries da emissora nos anos 2010.
Por Ryan Fields
– Cobra Kai, 2018 – , 1 temporada, criada por Jon Hurwitz e Josh Weald, série original YouTube Originals.
https://youtu.be/h8UZMrtj99s
Cobra Kai, série original do YouTube Originals, recém-chegada ao Brasil com seu serviço pago, foi uma das melhores estreias em 2018 para a pessoa que vos escreve. Em uma jogada genial de inversão de perspectiva e subvertendo os personagens apresentados lá no clássico primeiro “Karatê Kid” de 1984, temos a história de Johnny Lawrence (William Zabka) – a quem fomos ensinados a odiar – contada de forma azeitada e com muitas inversões de valores. Mesmo estando evidente no longa supracitado, somente ao assistir a série que eu percebi quão babaca e cuzão é Daniel LaRusso (Ralph Macchio), mostrando as mais de 3 décadas desde seu último encontro e carregando as sequelas do fim do torneio de artes marciais. Com uma roupagem moderna, valendo-se da nostalgia do jeito correto, estamos diante de algo que merecia estar na boca de todos tanto quanto “Stranger Things” da vida. Façam o favor de assisti-la.
Por Ryan Fields
– Pose, 2018 – , 1 temporada, criada por Steven Canals, Brad Falchuk e Ryan Murphy, série original da Fox Premium
O time capitaneado por Ryan Murphy já pode ser considerado uma grife televisiva. Cada produção deles traz para o espectador a certeza de encontrar algo provocativo, sexy, irônico, reflexivo e atual. Pose junta todas essas qualidades e ainda insere nelas o quesito novidade. Abordando a cultura dos ballrooms da Nova Iorque do final dos anos 80, verdadeiras pièce de résistance da comunidadeLGBTQI+ no período, Murphy e seu time criam uma obra vibrante, nova, digna de maratona. No entanto, não furtam a contrastar o brilho e luxo das festas com o lado pesado da epidemia de AIDS que dizimou tantos no período e o peso do preconceito que ainda dizima tantos outros. A série, cuja segunda temporada acaba de ser confirmada, ainda ostenta o honroso e corajoso título de produção com o maior número de atores transsexuais em papéis principais da História. E, de quebra, você ainda descobre que Vogue, no clássico da Madonna, não é uma referência à revista.
Por Marco Medeiros
– Cara Gente Branca (Dear White People), 2017 -, 2 temporadas, criada por Justin Simien, série original Netflix
https://youtu.be/5zdX1ctXlH4
Se em sua primeira temporada Cara Gente Branca se concentrava em ser, antes de qualquer coisa, uma bandeira içada bem alto e pecava tecnicamente em vários aspectos, a sua segunda temporada veio para apresentar uma série primorosa, com floreios e virtuosismos técnicos em praticamente todos os seus aspectos, o que a eleva a um nível muito superior do que a sua primeira temporada e faz com que ela se torne absolutamente obrigatória. Nesta 2a temporada, Justin Simien apresenta um roteiro brilhante, não-linear e brinda seus personagens com diálogos irritantemente bem escritos, dando voz a praticamente todas as vertentes do ativismo negro americano, além de magistralmente exorcizar toda a questão da famigerada “culpa branca”, tudo isso enquanto vai e volta em inúmeros personagens e em várias linhas temporais diferentes. É, ao meu ver, obrigatória e certamente a melhor temporada de série lançada este ano.
Por Gustavo David
Leia a crítica aqui!
– Atlanta, 2017 – , 2 temporadas, criada por Donald Glover, série original da Fox Premium e com sua 1ª temporada disponível na Netflix
Já falei extensamente da minha absoluta paixão por esta série em nosso Garimpo Netflix: Hip-Hop. Se a primeira temporada da série é, sem exagero algum, a melhor temporada de série de comédia que já vi em toda a minha vida, a segunda temporada fica um nível atrás, mas, ainda assim, é inacreditavelmente brilhante. Mais uma vez contando com a direção inusitada (e foda) de Hiro Murai, com os roteiros geniais e Donald Glover e as atuações inspiradíssimas de absolutamente todo mundo, a 2a temporada se presta a desenvolver ainda mais os personagens, suas lutas enquanto negros do sul americano e sua busca por seus sonhos numa sociedade que não está muito interessada em ajudar. Toda essa densidade traz oportunidades para piadas fortes e relevantes, mas Glover não se coloca acima de rir de gente peidando ou de quebrar paradigmas ao meter um episódio praticamente de terror no meio da série. Trata-se de mais uma série obrigatória e eu não vou descansar enquanto não deixar isso claro para todo mundo que conheço.
Por Gustavo David
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