Garimpo Netflix: Argentina
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Não é nenhuma novidade que, considerando toda a América Latina, a Argentina é o país que traz mais usualmente grandes obras para o Cinema. Comparativamente ao Brasil, parece-me, por vezes, que a cinematografia argentina está anos-luz à frente. Roteiros muito bem escritos, direções impecáveis e atuações primorosas resultam em obras memoráveis que surpreendem cada vez mais.
O bom acervo da Netflix no que diz respeito às produções da Argentina talvez seja reflexo desta qualidade – e há muitos outros títulos, ainda, que não foram contemplados pelo streaming. Não deixando passar, portanto, essa oportunidade – já que muitos filmes excelentes foram retirados da lista atual (como “Um Conto Chinês” e “Elefante Branco”) – indicaremos três recentes obras do país vizinho neste Garimpo Netflix: Argentina.
– Cidadão Ilustre (El Ciudadano Ilustre), de 2017, dirigido por Gastón Duprat & Mariano Cohn.
Há pouco tempo, eu mesmo resenhei este belíssimo filme, quando da sua estréia nos cinemas. E pegando o gancho da Netflix – pela facilidade que o streaming nos dá em estar em contato com grandes títulos – volto a apresentá-lo aos nossos amigos leitores. Trata-se de mais uma produção da dupla Gastón Duprat e Mariano Cohn (conhecidos pelo fantástico – absolutamente fantástico! – filme “Querida, Vou Comprar Cigarros e Já Volto”, o qual procuro quase que mensalmente na plataforma).
Daniel Mantovani (pelo brilhante Oscar Martínez) é um escritor vencedor do Prêmio Nobel de Literatura que enfrenta um sabá longo sem produções. Vivendo há décadas na Europa, a celebridade (que rejeita todo e qualquer tipo de encontro) aceita um curioso convite: retornar à sua pequena cidade natal para receber o título de “cidadão ilustre” do lugarejo. Uma vez lá, o escritor encontrará uma série de situações envolvendo pessoas de antigamente, que o levará ao seu limite emocional e psicológico.
Com trabalho semelhante ao da obra supracitada, os diretores criam mais um enredo primoroso regado a metaficção, jogando o tempo inteiro com a dualidade – que flerta entre si intimamente – da realidade e ficção e fazendo uma interessantíssima análise acerca da prática artística e seu artesão.
Confira a crítica!
– Uma Noite de 12 Anos (La Noche de 12 Años), de 2018, dirigido por Álvaro Brechner.
Saído do Cinema há pouco, este filme tem estado na lista de melhores do ano de muita gente (inclusive foi muito votado no nosso Top 10 – Melhores Filmes de 2018, ainda que não tenha entrado no top final). Uma produção espanhola, argentina e uruguaia, a obra retorna à ditadura militar uruguaia para contar a história de três presos que se tornaram reféns efetivamente do Estado – entre eles, ninguém menos do que aquele que, muito tempo depois, veio a se tornar o melhor presidente que a América Latina já conheceu, José Alberto Mujica (um cidadão que manteve em todos os seus dias sua convicção, sem se vender ao poder ou à corrupção, ainda mais quando estava no topo deste poder – até nisso, eles são diferentes dos que os daqui).
Contando no elenco com Chino Darín (filho do ícone máximo do cinema argentino, Ricardo Darín) como um dos três prisioneiros, a obra vai apresentando diferentes momentos dos encarcerados ao longo dos 12 anos em que estiveram proibidos até de falar. Um conto sobre resistência, convicção e memória, que os amigos latino-americanos-hispânicos fazem questão de manter – mais uma vez, diferente dos daqui, que optam por esquecer em poucos dias aquilo que passou.
– Neve Negra (Nieve Negra), de 2017, dirigido por Martin Hodara
Passando de filho para pai, temos em Neve Negra um Ricardo Darín diferente. Mais silencioso do que nunca, ele encarna na pele de Salvador, um homem acusado de ter tirado a vida do próprio irmão durante a adolescência e que agora vive como um eremita no meio da Patagônia, rodeado pelo gelo branco da neve imponente e onipresente, tal qual suas memórias e sua misantropia. Porém, a chegada de seus outros familiares balança o universo solitário de Salvador, quando o outro irmão tenta convencê-lo da venda das terras da família que foram herdadas por eles.
O filme é um trhiller que se utiliza das locações, da fotografia e das deslumbrantes atuações para envolver o espectador no universo de Salvador, que revisita as memórias dos acontecimentos que o levou a lugares cada vez mais obscuros. O isolamento em contraste com a chegada do irmão; a frieza da paisagem e o sentimento que queima dentro de si; o silêncio quebrado pelas falas insistentes dos familiares. Em um filme de contrastes, as revelações vão surgindo inesperadamente.
Confira a crítica!
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