Garimpo Netflix: Psicopatas

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Sempre me despertou tamanha curiosidade a mente humana. Aquilo que o homem é capaz de fazer quando despido de toda e qualquer moralidade que tenta o conduzir por um caminho que o permita viver em sociedade. As pessoas se perguntam se alguém nasce com determinada índole ou se o meio o transforma. A mim, a natureza humana descrita por Machiavelli se apresentou como a mais sincera. O homem é ruim, em sua essência, de fato.

Histórias sobre psicopatas flertam intimamente com esse lado humano, ao mostrarem os lugares por onde andam aqueles que optaram – conscientemente ou não – por uma jornada à parte dos demais. Eles são os que, deliberadamente, se desnudaram de toda sorte de padrão social e, em muitos casos, com uma ironia vil, brincam – como em um jogo sádico de cabra-cega – com aqueles que tentam, de alguma forma, manter uma espécie de ordem para que um possa habitar ao lado de outro.

Garimpo Netflix da semana traz três contos que têm como foco as ações dessas pessoas que resolveram ser apenas humanos. Demasiado humanos.


– A História Verdadeira (True Story), de 2015, dirigido por Rupert Goold

Jonah Hill e James Franco, conhecidos por suas obras divertidas e de comédia, estrelam esse drama de suspense que conta a história de Michael Finkel (Jonah Hill), um renomado jornalista do New York Times, que ficara desempregado após uma suposta falta de comprometimento com a realidade em um artigo seu. Tentando se reerguer, mas sem conseguir, Finkel descobre, por outros, que sua identidade havia sido usada por Christian Longo, um homem acusado de ter tirado a vida de toda a sua família.

O jornalista investigativo resolve lidar diretamente com o prisioneiro, acumulando material que, em sua ideia, poderia vir a se tornar um livro. Longo aceita conversar com Finkel, caso este o ensine a escrever bons textos. Esses encontros e trocas pessoais íntimas começam a revelar o lado manipulador e sedutor do criminoso, que faz com que Michael se veja em um jogo de gato e rato, preso a uma armadilha – talvez – auto-imputada.
– O Guardião Invisível (El Guardián Invisible), de 2017, dirigido por Fernando González Molina

Uma excelente inspetora da polícia espanhola, Amaia Salazar (Marta Etura), entra em um caso de adolescentes desaparecidas que são encontradas de maneira ritualizada: nuas, no bosque, em posição quase angelical, devidamente cuidadas e com um doce em cima da vagina. Os casos, que passam a ser cada vez mais recorrentes, apontam para sua cidade natal. Amaia, portanto, é indicada para liderar as buscas, retornando às suas origens. Uma vez lá, ela terá que lidar com os vestígios do psicopata em série, à medida em que revisita seus fantasmas de infância.

Um conto de suspense policial que envolve dramas pessoais e o medo do que está por vir, encarnado por alguém que carrega uma dicotomia bastante intensa e antagônica, tal qual todo e qualquer ser humano: ao passo em que tirar a vida de um inocente é algo demoníaco, o autor parece, através de suas ações, resgatar o que de inocente está sendo perdido naquele vale. A mesma inocência que Amaia perdera dentro de sua casa, por conta de um histórico nada divino de sua progenitora.
– A Louva-a-Deus (La Mante), de 2017, criado por Alice Chegaray-Breugnot, Grégoire Demaison & Nicolas Jean

Tal qual a indicação anterior, temos aqui mais uma história do velho continente a tratar sobre família e psicopatia. Nesse caso, o flerte é mais intenso. Vindo da França, A Louva-a-Deus é uma minissérie de apenas 6 episódios que narra os passos de um jovem detetive, Damien (Fred Testot), à procura de um psicopata que está reeditando os crimes de uma criminosa de anos e anos atrás, conhecida pela alcunha de “A Louva-a-Deus”. Trata-se de Jeanne (Carole Bouquet), atualmente prisioneira, que atacava homens que abusavam de mulheres, deixando para polícia uma cena quase sempre inspirada no lendário e inimitável Hannibal Lecter. Para conseguir encontrar o culpado, Damien deverá manter um contato próximo com Jeanne, que tentará entender a mente de seu copycat.

Resulta, no entanto, que Damien é filho de Jeanne e seu afastamento em relação à sua própria mãe – a psicopata de anos atrás – é quase um dogma em sua vida (bem como o drama pessoal de nunca querer ter um filho, para que os genes dela não sejam perpetuados). Dessa forma, a história ganha um escopo ainda maior ao tratar das relações familiares sob a ótica de quem quer se ver o oposto de sua própria origem: policial e criminoso; cidadão modelo e psicopata; mãe e filho. Os tons de preto e branco, aqui, vão se mesclando e formando uma enorme mar de tonalidade cinza em uma tela única.

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