Crítica: Boneca Russa (Russian Doll) - 1a Temporada
Boneca Russa é uma série da Natasha Lyonne feita por ela e para ela. E mesmo que ela divida os créditos com outros profissionais, percebemos o seu nível de controle criativo quando os seus dedinhos estão no roteiro, criação e direção, além de ser a protagonista. Caso você não esteja familiarizado com seu nome, talvez você lembre de Nicky Nichols, personagem mais importante até então de sua carreira, que rendeu inclusive uma indicação ao Emmy 2014, na badalada série “Orange Is The New Black“.
Agora ela interpreta Nadia Vulvokov em seu aniversário de 36 anos, naquela manjada história de looping temporal que sempre se reinicia com sua morte. Contudo, há aqui uma pequena diferença em relação aos demais que usam da mesma premissa. A sua morte não é regulada por um evento programado e nem ocorre da mesma forma e hora, o que permite que a série explore cenários diferentes constantemente com alguns tropeços ao longo do caminho.
Talvez aquele que mais pese seja a sua busca em entender o porquê de ela estar voltando constantemente quando morre e o que fazer para interromper o ciclo, o que é meio confuso e joga contra a própria premissa, uma vez que só morrendo para descobrir, então não faz diferença alguma ela conseguir quebrar o ciclo ou não, bastando não morrer para que tudo fique ok. Além disso, há um excesso de mortes por qualquer motivo que claramente não levaria alguém ao óbito, misturando desde fatalidades bizarras até uma falta de atenção que beira algum problema cognitivo. Embora esses ciclos tenham durações bem diferentes, alguns durando literalmente segundos e outros dias, todo o seu desenrolar era repetitivo demais.
Eu sei que a ideia de ficar preso em um looping temporal envolve repetição, mas muitas obras conseguem driblar isso muito bem, como o subestimado “No Limite do Amanhã”, com uma edição que considera a memória do telespectador. O que poderia ter amenizado essa repetição fica subdesenvolvido com apenas mudanças muito sutis e buscas de significado em detalhes que pouco contribuem para a narrativa, criando uma barriga enorme e cansativa. A impressão que fica é que Boneca Russa poderia ser um bom filme de 2h em vez de uma série mediana de 4h.
Apesar de Natasha ser uma boa atriz e entregar uma boa performance, ela lembra, e muito, a Nicky, mas parecendo que está louca de cocaína constantemente. Funciona para a série, mas parece um prequel de Nicky antes de chegar ao presídio, sendo uma sensação difícil de se libertar caso você tenha assistido pelo menos 1 das 6 temporadas de “Orange”. Contudo, quando ela morre com Alan (Charlie Barnett,), em um evento bem interessante, é que a série melhora consideravelmente e começa a fazer jus ao título, mostrando que há uma Nadia nova a cada morte, cada vez mais íntima e real. É uma pena que isso demore tanto a acontecer.
E não se deixe enganar pela classificação da NETFLIX em seu catálogo. Mesmo sendo marcada como comédia, Boneca Russa não é engraçado, mas apresenta um drama bem decente. Não sendo um espetáculo que te envolve com violência, a obra entrega bons momentos e apresenta uma boa produção. Agora é curtir essa repetição.
Leave a Comment