Crítica: Dear Ex
A experiência de assistir ao recém lançado na Netflix “Dear Ex” foi um tanto intrigante, dadas as expectativas que o título imediatamente me trouxe. Apressada, não li a sinopse e acreditei no que meu inconsciente construiu: alguma história de recuperação pós-decepção amorosa.
Não estava eu inteiramente errada. Após a morte do marido, Liu Sanlian tenta se recuperar de sua ausência física (e financeira), na medida em que a emocional já há muito deixava a desejar. Após 14 anos de casamento, Song Zhengyuan, o falecido, se descobre gay (ou, melhor dizendo, decide encarar o fato) e tem um caso com Song Chengxi, para quem deixa sua herança.
É ao redor desse elemento que o filme gira e traz alguns debates que envolvem desde paternidade até o casamento em si. Contado da perspectiva de um adolescente fruto desse casamento, podemos ver a leitura simplista, dramática e imatura que um moleque tem sobre aquilo tudo.
Na verdade, é isso que impede que o filme seja mais razoável. Não fosse a derrapada em direção ao dramalhão, que chega ao insuportável por vezes pela inconsequência adolescência e mimo, a obra teria potencial para tratar honestamente de um assunto que é ainda um tabu em todas as sociedades, configurado diferentemente na cultura asiática inclusive, já que a preocupação com a “honra da família” é algo levado ainda mais a sério.
O moleque chato pra caramba decide lidar com a perda extravasando toda a desavença que tem com a mãe. Tal é a determinação de confronto que ele chega ao cúmulo de fugir para a casa do amante do pai, em uma desesperada e esquisita tentativa de figura paterna além de tudo.
A trama se desenrola e descobrimos mais da história de cada personagem, praticando empatia com sujeitos que no início do filme pareciam não serem dignos de qualquer gasto enérgico – obviamente nós, telespectadores, somos um pouco infectados pela visão irremediavelmente maniqueísta do adolescente. O filme termina entregando uma conclusão aceitável mas não faz seu nome pela infeliz escolha de tempero, que fez derramar muita pimenta em um prato tirando seu sabor original e fazendo com que queiramos urgentemente um copo d’água. Gelada, por favor.
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