Crítica: Dumplin'
Padrões de beleza sempre foram um dos principais agentes destruidores de adolescentes e criadores de adultos com baixa autoestima que possuem visões distorcidas sobre sua aparência. Sem sombra de dúvida, o padrão chefe e mais desgraceiro é o do peso, que há décadas fomenta uma gordofobia crescente em revistas, séries, filmes e o que mais você pensar dentro do entretenimento e mídias visuais. Apesar de não sofrer nada perto do que as pessoas acima do peso sofrem, eu sofria na outra ponta do espectro, por ser magro demais. Eu literalmente era raquítico, com meus 180cm e 58kg. A gordofobia é tão cruel que eu, hoje em dia com 75kg, completamente dentro dos padrões aceitáveis na estética masculina para peso, eventualmente me pego achando que estou acima do peso e fico constrangido em situações que deveriam ser corriqueiras. Fico imaginando o sofrimento psicológico infligido pelos meios de comunicação às mulheres que, somado a uma sociedade machista, são muito mais exigidas visualmente.
Eu recordo vividamente de assistir lá com meus 19 anos o filme “O Amor É Cego” com o casal Gwyneth Paltrow e Jack Black, no qual o personagem de Black, um cara que só aprecia a beleza de pessoas que pesam o mesmo que um frango, começa a enxergar Paltrow, que no longa é muito obesa, como uma pessoa magérrima e atraente. Apesar de ter entendido a mensagem do filme, não pude deixar de pensar o quanto obras assim me deixam indagando se leituras desse gênero fazem um desfavor ou não para a sociedade, já que cai na armadilha de criticar algo e ao mesmo tempo que reforça a leitura que critica. Isso sem mencionar que o próprio Jack Black não é nada esguio.
Embora tenha alguns acertos, Dumplin’ é um desses longas que validam um tanto aquilo que critica. Nele acompanhamos Willowdean (Danielle Macdonald) – que você certamente reconhecerá do sucesso “Bird Box” – convivendo com sua mãe Rosie (Jennifer Aniston). Willow é uma jovem obesa que cresceu com a sua tia Lucy (Hilliary Begley) afagando seu ego e elogiando sua beleza, sempre enaltecendo suas qualidades que estão além da física. Já Rosie é uma ex-miss de algum lugar esquecido por Deus no Texas, EUA.
Cansada de ser alvo de comparação com sua mãe e do tratamento que recebe na escola, Willow entra no concurso de beleza que consagrou sua mãe e do qual ela é uma das juradas. Acompanhada por sua melhor amiga, que vive dentro do padrão de beleza feminino, uma outra guria gordinha que não liga para como é tratada e uma guria daquelas inconformada com a sociedade e fã de heavy metal, elas começam a desafiar as convenções sociais desse tipo de concurso. Se há algo que o filme acerta em cheio é no tratamento ao diferente e rejeitado por ser exótico, mas que não tange muito ao peso, como por exemplo as Drag Queens que compõe uma parte importante da história.
Contudo, os diálogos rasos e sem discussão mais densa sobre obesidade e beleza deixam a obra muito vazia e, eventualmente, constrangedora. Não ajudando nem um pouco, os laços emocionais divididos entre os personagens são pueris, não carregando tensão emocional em quase nenhuma cena. Nesse quesito, somente a tia Lucy se salva. Infelizmente, Dumplin’ se dispôs a uma tarefa árdua e difícil, que é fazer um longa com tema sensível e que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Embora como drama ainda consiga apresentar um bom momento ou outro, como crítica social e comédia ele falha miseravelmente.
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