Crítica: Yucatán

Quero pegar na mão de vocês e ser seu guia por grandes clássicos da cinematografia mundial passados em navios de cruzeiro. Mas esqueçam, por favor, “Titanic”, “Os Homens Preferem as Louras” ou “O Destino de Poseidon”. A ideia aqui é focar nos grandes clássicos do cinema merda que o pessoal aqui do MetaFictions gosta de chamar de guilty pleasures, que nada mais é que uma expressão que tenta (em vão) salvar um resquício de integridade numa pessoa metida a intelectualizada mas que admite a duras penas gostar de toda a filmografia do Leandro Hassum (que é excelente dentro de seu propósito, diga-se de passagem). Eu estou falando aqui de atrocidades como os inesquecíveis “Cruzeiro das Loucas”, “Velocidade Máxima 2” ou o incrível “Ir ao Mar”, o primeiro e pior filme de Adam Sandler. Sério. É o pior filme do Adam Sandler. Sim, do Adam Sandler. Nota 1.9 do IMDB. Pior filme do ADAM SANDLER!

Foi com essa expectativa de ter a minha inteligência insultada que eu comecei a ver Yucatán, este novo filme original Netflix diretamente da Espanha. E não foi para menos, minha inteligência foi insultada o tempo todo, uma vez que as situações criadas pelo roteiro de Jorge Guerricaechevarría e Daniel Monzón, sendo este último o diretor também, são nada menos do que patéticas e inverossímeis em níveis que fariam a trilogia “Senhor dos Anéis” parecer um documentário sobre a 2ª Guerra Mundial. E, mesmo assim, eu ri, eu me emocionei, eu vi boas atuações e me diverti.

La pieza firme.

O filme segue 3 filhos da puta, daqueles que vivem de dar golpes nos outros, em um cruzeiro que sai de Barcelona com destino ao México, a tal península de Iucatã, aqui mantida com seu nome original em espanhol. São eles o pianista do barco, Clayderman (Rodrigo De la Serna), a corista (a peça firme peruana Stephanie Cayo) e um cara que não sabemos muito bem quem é até lá pela metade do filme chamado Lucas (Luis Tosar, um maluco feio de doer, mas que de alguma forma consegue ser galã). Depois de uma espécie de prólogo em que os personagens são desenvolvidos e passamos a torcer por eles, mesmo sendo eles aquele tipo de filho da puta bem filho da puta mesmo, o plot principal do filme se revela. No barco está Antonio (Joan Pera, em uma atuação surpreendentemente acima da média para um tipo de filme como esse), um velhinho gente boa que acaba de ganhar 160 milhões de euros na loteria e está no cruzeiro com suas 3 filhas, uma solteira maluquinha e duas casadas com dois genros inúteis que só querem saber da grana do velho.

A partir daqui vamos ter um monte de situação estapafúrdia e inacreditável em que os 3 filhos da puta (eu já disse que eles são filhos da puta, não disse?) vão tentar manipular o velho de modo a sangrar dele o máximo que puderem de toda essa grana. E é isso. Esse é o filme. Há uma reviravolta ou outra que deixam as coisas divertidas o tempo todo e, talvez eu seja mais idiota que a maior parte da população, há também situações de humor pastelão que me fizeram rir de verdade, em especial as que envolviam gente se enfiando a bolacha na cara igual ao Bud Spencer.

Rodrigo de La Senra, Luis Tosar e Stephanie Cayo são dos mais populares e famosos atores da Espanha atualmente e, a julgar pelo tom e pela direção do filme, fiquei com a impressão de que esta é uma versão espanhola das nossas comédias Zorra Total daqui, só que sem estereótipos ofensivos, mesmo que lotada de clichês. Eu queria muito ter tido alguém do meu lado quando vi este filme para poder comentar os verdadeiros e insultantes absurdos que o roteiro comete nas soluções que dava às situações esdrúxulas que criava e queria muito também poder comentar sobre isso aqui, mas não posso fazer isso sob pena de dar spoilers.

O que eu posso dizer, contudo, é que, mesmo com esse monte de problema, Yucatán é um filme divertido, bem-feito, com uma excelente produção, atuações seguras dentro do contexto e que cumpre aquilo que se propõe cumprir, fazendo rir ao mesmo tempo que te chama de idiota, além de apresentar uma liçãozinha de moral daquelas que dá pra ouvir um arco-íris sendo formado de tão ingênuas. É um entretenimento barato, besta e imbecil, alguns até chamariam de guilty pleasure, mas estes acho que nem admitiriam que viram o filme.

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