Garimpo Netflix #7: Ryan Gosling

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana 3 bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


Poucos são os atores que eu gosto tanto quanto Ryan Gosling. Não é tão somente por ele ser um dos homens mais bonitos do mundo e por parecer muito comigo na opinião de mais de 20 pessoas (Nota do Editor: Dentre as quais eu não me incluo e vocês também não depois de ler o nosso “quem somos). Mas Ryan Gosling é o tipo de artista que consegue atuar em diversas áreas e fazê-las todas muito bem. Ele não é simplesmente um ator. Ele é músico, com álbum lançado, e também diretor de Cinema. E em seu ofício principal, Gosling é deveras flexível. Ainda jovem – tendo sido indicado para o Oscar, apesar de merecer muito mais, sendo “esnobado” pela Academia em alguns momentos – ele já fez títulos de comédia, filmes violentos, românticos, musicais e autorais. É extremamente versátil. O garoto tem estilo.

De um professor de História drogado a um androide, Ryan Gosling é tudo a partir de seus protagonistas. A força de sua atuação é tão grande que ele cabe em personagens verborrágicos, engraçados, tímidos, calados. Seu grito, seu diálogo e seu silêncio são igualmente expressivos. Dê qualquer coisa para ele e ele fará da melhor forma. Não à toa, se há uma obra com ele, lá estou eu (e minha mulher, que também o ama) assistindo e me deleitando com sua presença definitivamente marcante (por isso, temos camisas, quadros em casa, livros para colorir – tudo do Ryan Gosling). E é isso que quero para você. Compartilho aqui três grandes obras presentes na Netflix que têm a participação desse garoto brilhante vindo do Canadá e que não têm o reconhecimento devido.

Nos três títulos apresentados, poderemos segui-lo em uma narrativa mais densa, com um drama sobre relacionamentos que transforma seu personagem; uma comédia bastante divertida e inteligente; e, para concluir, sua estréia na direção de Cinema, com um filme poderoso, mas que gerou pesadas críticas por parte daqueles que se acham maiores do que uma peça artística e utilizam as letras de seus textos como armas destruidoras para tentar apagar o brilho de artistas.

Aproveitem e se tornem também fãs de Ryan Gosling!


Namorados Para Sempre (Blue Valentine), de 2010, dirigido por Derek Cianfrance

Raramente se deve olhar para a sinopse de um filme na esperança de encontrar algo realmente diferente. Todas as histórias que você imaginar já foram contadas. Nada parecerá original ou digno de interesse por cerca de 2 horas. Mas o que nos permite seguir vendo filmes é como essa história é contada. Em Namorados Para Sempre, temos mais um conto de um casal que enfrenta dificuldades e que tenta redescobrir o relacionamento, resgatando antigas mágoas que foram incorporadas, de alguma forma, a um dia-a-dia que impõe seus problemas cotidianos fazendo a essência de uma relação minguar ao longo dos anos.

Dean e Cindy (em inspiradas atuações de Ryan Gosling e Michelle Williams) vêm de famílias abaladas pelas figuras progenitoras. Nenhum dos dois carrega memórias que poderiam servir de exemplo para um ideal de família. No duro, Dean nunca se imaginou constituindo uma, mas sua paixão avassaladora por Cindy, logo quando eram muito novos, o fez optar por esse caminho. Como na maioria dos relacionamentos, porém, este casal vai conhecendo um afastamento que se torna cada vez mais presente, deixando um vazio de cada lado. Os conflitos se tornam mais e mais frequentes, enquanto Dean luta pelo retorno do que, uma vez, sua mulher o fizera sentir.

Um drama profundo sobre o familiar caminho que os relacionamentos insistem em trilhar, o qual modifica cada um dos envolvidos física, emocional e psicologicamente.

Amor a Toda Prova (Crazy, Stupid, Love), de 2011, dirigido por Glenn FicarraJohn Requa

Ainda no campo dos relacionamentos amorosos, temos em Amor a Toda Prova a história de uma família modelo, que sofrerá com a separação dos pais (Steve Carell e Julianne Moore). O longo casamento, as figuras bem-sucedidas em seus empregos, com filhos lindos e bem educados não foram os elementos suficientes para manter a relação dos dois. Mais uma vez, a chama da paixão parece minguar e cada um segue o seu caminho. A decisão, dessa vez, veio da mulher e ao marido, agora solteiro depois de décadas, resta afogar suas mágoas em caros copos de álcool em um estabelecimento para granfinos. É nesse local que o coroa encontra aquele que promoverá um turning point em sua vida: trata-se do malandro mais boa pinta do lugar, o pegador, o brocador, o galudo da night. Trata-se, amigo, de Ryan Gosling com super estilo.

O pegador, portanto, fará de seu objetivo a transformação do coroa meio nerd em homem experiente comedor. Ensinando suas técnicas, impondo sua marca, remodelando seu “objeto” estética e psicologicamente, ele não descansará até que o ex-marido se torne uma espécie de Gene Simmons wannabe, no melhor estilo Pigmalião. Em paralelo, porém, o jovem garotão que tem uma mulher por noite começa a se apaixonar por uma dessas escolhidas (Emma Stone). Cada personagem vai caminhando para lados opostos, mas esses caminhos voltam a se encontrar, mantendo-os sempre muito próximos um do outro.

Para longe de ser uma comédia romântica bobinha, este filme diverte com suas tiradas inteligentes e seus personagens carismáticos (encarnados por um elenco maravilhoso; além dos citados, ainda temos a lindíssima Marisa Tomei e o grande Kevin Bacon), envolvendo o espectador nas próprias armadilhas não intencionais de seus protagonistas.

Rio Perdido (Lost River), de 2014, dirigido por Ryan Gosling

Como expresso na introdução, o filme em questão, que marcou a estréia de Ryan Gosling na direção cinematográfica, não teve um caloroso recebimento por parte da crítica. Guardando suas devidas proporções, é bom lembrar que as maiores obras de Stanley Kubrick (e que, por consequência, são algumas das maiores obras da História do Cinema) também conheceram palavras pouco convidativas quando de seus lançamentos. Assim como neste caso, estas opiniões não podem ser definitivas quanto à realização apresentada em Rio Perdido.

Ryan Gosling produz um filme de impecável estética e cheio de simbologias ao falar de forma alegórica do momento atual (ou de sempre) pelo qual atravessa a humanidade. Cidades afogadas por rios represados, locais abandonados por seus antigos habitantes, demolição de lares de outrora agora em ruínas são os elementos que criam o clima anestesiado apresentado por seus personagens, que carregam apelidos ou referências animais no lugar de nomes. Em meio a uma voraz crise econômica, uma família tenta se manter em casa, enquanto faz de tudo para pagar a hipoteca e lutar diariamente contra as investidas de pessoas de péssima índole.

Revê-lo logo após o incidente de Brumadinho (tragédia que se repete) ou após o estouro da bolha imobiliária norte-americana faz com que Rio Perdido se apresente como um daqueles títulos necessários – lá ou cá, ou em qualquer lugar, estamos à deriva lutando por pedaços de escombros onde possamos nos escorar e boiar em um rio de forte correnteza.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.