Crítica: Crazy Trips - Budapeste (Budapest)

Há algum tempo aqui nesse site eu tive o (des)prazer de resenhar o lamentável filme francês “A Mansão“. Lá discorri longamente sobre duas falácias: a primeira é que o cinema brasileiro é uma porcaria porque é feito feito exclusivamente de comédias merdas e popularescas com o Leandro Hassum e a segunda é a de que o cinema francês é super culto e sofisticado. A verdade é que na França, como nos EUA, como aqui, como em qualquer outro lugar, há uma produção artística e uma produção popular. Se aqui temos “Os Farofeiros” e “Se eu Fosse Você 8”, na França eles têm suas próprias merdas como o tal “A Mansão” e agora este Crazy Trips – Budapeste. O que acontecia é que, até o advento da Netflix, as merdas francesas (e as de outros países) ficavam por lá, mas agora elas chegam pra gente e o malandrão (eu) que resolveu criar um site sobre resenhas de filmes se obriga a assistir para falar delas pra você.

Contudo, também assim como as comédias merdas brasileiras (e aqui falo disso como um gênero e não como juízo de valor), nem tudo é realmente aquele cagalhão que se monta. Há poucos meses, o Leandro Hassum magro lançou um surpreendentemente aceitável “O Candidato Honesto 2” e este Crazy Trips – Budapeste, apesar de estar abaixo do filme do Hassum, tem lá seus momentos de brilhantismo que vão conseguir tirar do espectador de boa vontade algumas gargalhadas. O problema é que em proporção muito maior ele também tem momentos de absoluto constrangimento, trazidos largamente por um roteiro que é no mínimo porco e uma direção qualquer nota.

Em Crazy Trips – Budapeste, dois amigos – que o filme faz uma força do caralho para que não pareçam mauriçolas (mas eles vão pra noitada de gravata, porra!!!) – são barrados numa boate numa despedida de solteiro. Isso faz com que um deles, o metido a porraloka Arnaud (Jonathan Cohen), tenha a genial ideia de montar uma empresa que vai levar pessoas para Budapeste para despedidas de solteiro regadas à muita putaria, drogas, álcool e mais um pouco de putaria. Tudo porque uma prostituta de 54 anos contou que lá a sacanagem rola solta e é tudo muito mais barato.

Pronto, está dada a largada para um filme recheado de clichês, situações inverossímeis e uma liçãozinha de moral no final. No meio do caminho vamos ter os dois amigos mandando seus empregos pro caralho para poderem se dedicar a essa nova empreitada, peitinhos húngaros em profusão, problemas óbvios nos relacionamentos dos dois e, principalmente, um esculacho com a histórica, belíssima e riquíssima Budapeste e com o povo húngaro.

Aqui Budapeste é reduzida à uma espécie de Vila Mimosa (ou qualquer outra zona de baixo meretrício de sua cidade) da Europa e tão somente isso. É uma cidade na qual só há mulheres maravilhosas, prostitutas, drogados e gente completamente piroca da cabeça, tudo, é claro, envolto naquele ambiente de oba-oba que tenta fazer o espectador crer que é legal que tudo aquilo seja assim, como se uma sociedade assim pudesse ser preferível à ordem da sociedade francesa. É um filme que vai forte contra o politicamente correto ao zoar de forma agressiva e exagerada o povo húngaro, mas que encontra nesses exageros praticamente a única coisa que o salva.

As piadas aqui funcionam quase que exclusivamente quando eles tiram sarro da diferença econômica entre a Hungria e a França, muito mais com as gags que envolvem o guia Georgio (Monsieur Poulpe ou Senhor Polvo em tradução livre) e o ofensivamente escroto Gabor (Arthur Benzaquen), um húngaro que parece uma mistura de redneck americano com pedófilo belga e sobrevivente de algum desastre nuclear. Para não dizer que é só, há aqui também um oásis de qualidade na pessoa de Alice Belaïdi, que interpreta a esposa de um dos sócios da empresa e que conseguiu empregar alguma profundidade dramática até mesmo num roteiro com a densidade do vácuo.

Crazy Trips – Budapeste se gaba no seu início de ser baseado na história real de uma empresa parisiense, dando o CNPJ dela e tudo mais. A agência realmente existe (e pode ser acessada aqui: www.crazy-trips.fr/), mas tudo leva a crer que essa seja a única âncora com a realidade que o longa tem, sendo que ele termina em uma cena de uma inverossimilhança que me impressionou mais do que o número de gostosas na tela nessa tentativa fracassada de se fazer um “Se Beber Não Case” francês.

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