Crítica: F1: Dirigir para Viver (Formula 1: Drive to Survive)
Aqui no MetaFictions são poucos os que acompanham a categoria mais cobiçada entre os pilotos de ponta, mas o que não impede de lançarmos especiais como o Filmes Emblemáticos Sobre Automobilismo – sinta-se convidado a conferir e deixar seu pitaco – e o Assista! Especial: Senna, ambos escritos com muita paixão. E não é para menos. Os autores desses artigos viveram durante a época de ouro da F1, quando os carros chegaram ao seu auge em velocidade, as regras não limitavam tanto a condução durante as corridas e os pilotos eram arrojados e extremamente talentosos, tendo como expoente máximo a maior rivalidade da história do esporte mundial, Ayrton Senna versus Alain Prost. Estamos há 2 semanas do início da temporada 2019 de F1 e, com um timing perfeito, a NETFLIX liberou nesse final de semana seu documentário original sobre a temporada 2018. Servindo como retrospectiva para entender o ponto de partida da nova temporada e como porta de entrada para uma nova geração de fãs do automobilismo, F1: Dirigir para Viver é um prazer de acompanhar do início ao fim.
Essa minissérie de 10 episódios coloca em evidência 5 características que sustentam o esporte há décadas, começando pela grandiosidade em diversos âmbitos que requer a realização de um grande prêmio. A logística de cada equipe, os esforço de desenvolvimento dos carros e a proporção de uma vitória ou de um simples ponto são o foco da obra, que, com uma cinematografia de tirar o fôlego (com um 4k fabuloso), consegue entregar um dos mais espetaculares produtos audiovisuais sobre automobilismo. E, claro, para existir grandiosidade é preciso de MUITO dinheiro. É sem sombra de dúvida o esporte mais elitista e caro do planeta, movimentando bilhões de dólares com apenas 20 competidores e 21 corridas anuais (em 2018). As disputas dos dirigentes e chefes de equipes por pilotos, patrocinadores e fornecedores não ficaram de fora e compõem uma parte importante da narrativa, protagonizando momentos de tensão e rupturas que permearam toda a temporada passada.
Claro que o ponto alto não poderia deixar de ser o talento, a coragem e a competição entre os pilotos. Se eu não soubesse que é um documentário e não tivesse acompanhado todas as corridas e bastidores da categoria, ficaria tão fixado em descobrir o desfecho de cada piloto e chefe de equipe quanto numa série dramática. E de fato a obra é conduzida dessa forma, como uma edição e um roteiro tão bem concebidos que nada deixam a desejar a um “Making a Murderer“, com cliffhangers tão bons quanto. Acompanhamos esses dramas com diversas entrevistas muito honestas (até demais) de pilotos, especialistas, mecânicos, engenheiros, representantes de montadoras e chefes de equipe. Diálogos que não vão ao ar durante a prova entre os engenheiros de corrida e os pilotos, recheados de ofensas e putos da vida, reuniões na vitória ou derrota e intrigas de todo tipo possível conduzem a história de forma magnética, tornando a série mais do que maratonável.
Caso você seja um aficionado como eu, sabe que existem dois 2 tipos de competição dentro da F1. As 2 ou 3 equipes que disputam o título de construtores e todo o resto que disputa ponto para conseguir uma fatia do bolo no final do ano das premiações financeiras. Esse desnivelamento ocorre, essencialmente, pela diferença entre orçamentos, que nas grandes equipes pode chegar a 600 milhões de dólares, enquanto nas menores gira em torno de 160 milhões. Embora isso possa deixar a competição desinteressante, temos quase sempre uma inversão de papéis que foi possível de ser vista claramente na temporada passada. Equipes como a Force India e a Haas, relativamente novas, conquistando posições que equipes com grandes montadoras por trás não conseguiram, como a Renault, geraram cobrança nos bastidores e as brigas internas, envolvendo contratos milionários, que só aumentavam a tensão a cada corrida, com pilotos sendo cobrados e chegando ao seu limite. Somos jogados do céu ao inferno em intervalos curtíssimos, com os competidores sob forte pressão cometendo erros bobos e novatos conseguindo operar verdadeiros milagres.
Cada episódio é conduzido por uma dualidade. Começamos com a perspectiva entre uma equipe grande e consagrada e outra pequena e sem muitas pretensões, e seguimos dentro do esperado (e sabido) para a categoria. Temos os dramas nacionais, com os pilotos de mesma nacionalidade disputando atenção em GPs em casa, como Alonso e Sainz; a saga da Red Bull com a disputa interna entre seus pilotos e que sempre foi marcante na última década, especialmente pela participação de Christian Horner nos bastidores; a luta da Haas, Sauber e da Force India para permanecer na categoria e conseguir pontos, protagonizando as melhores rivalidades caseiras, como a de Sergio Pérez e Esteban Ocon num duelo que foi além do ético; os dramas de equipes como a Williams e McLaren que dominavam os anos 80 e 90 e que agora disputam para ver quem não vai largar na última fila; dramas pessoais, como o de Romain Grosjean lutando contra ele mesmo; e a eterna dança das cadeiras, com pilotos se aposentando, pilotos novos chegando e outros ficando sem equipe.
Em suma, F1: Dirigir para Viver é drama, emoção e competitividade. Curtindo ou não automobilismo, tendo acompanhado ou não a temporada 2018, garanto que após assistir esses 10 episódios, marcará em seu calendário as 21 corridas nos próximos 9 meses, que começa dia 17 de março na Austrália e termina 1 de dezembro em Abu Dhabi.
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