Crítica: Juanita
Você alguma vez se perguntou se a vida somente se resume a nascer, crescer, ter responsabilidades e, então, partir? Passamos cerca de um terço de nosso tempo dormindo e acredito que muitos nesse momento sonham em sair da sua realidade e fazer algo diferente, buscando uma alternativa e um porquê para tudo isso. Porém, quase ninguém tem coragem de colocar seus desejos mais profundos em prática. Vivem como engrenagens executando as tarefas pré-definidas pelo funcionamento dessa máquina maior. Juanita, novo lançamento da Netflix, traz uma história simples e existencial de quem resolveu buscar algo além da rotina, numa jornada de autoconhecimento.
Juanita (Alfre Woodard) é uma mulher negra, auxiliar de serviços gerais, mãe de três filhos (dois deles com tendências marginais), avó de uma netinha sem pai, e, como ela mesma se define no filme, é “um clichê do gueto”. Cansada do comodismo dos filhos, que vivem sob o mesmo teto provido por ela, resolve fugir dessa vida frustrada tendo dois objetivos em vista: a redescoberta de si própria e o amadurecimento obrigatório de seus rebentos. Decidida, Juanita compra uma passagem de ida para um local pouco conhecido (para o qual a funcionária da empresa de ônibus nunca vendeu um bilhete) que ela descobrira naquele momento analisando o mapa em mãos: Butte, Montana.
Nesse novo destino, Juanita irá se reinventar, construindo novas relações pessoais – em especial com a comunidade local de descendentes indígenas – e dando um novo sentido à sua vida, sem, no entanto, abandonar por completo o que ela deixara. O diretor Clark Johnson, mais experiente por projetos em TV do que no Cinema de uma forma geral, propõe constantemente a quebra da quarta parede, isto é, a protagonista volta e meia se dirige diretamente ao espectador, buscando uma interação ainda maior, visto que toda e qualquer pessoa, em um mínimo instante que seja, já vislumbrou seguir passos semelhantes aos dela. No entanto, toda essa tentativa de empatia e identificação esbarra na forma em como a narrativa se desenvolve.
Os conflitos da personagem surgem e se desenvolvem, encontrando a solução de maneira muito rápida, sem dar ao espectador a menor ansiedade acerca dos embates estabelecidos ao longo da narrativa. Esses confrontos mantêm um caráter episódico na trama geral da história; uma característica percebida em produções de TV, o que nos leva a crer ser parte da experiência do diretor em seus trabalhos anteriores. Não que isso desqualifique a obra como uma produção cinematográfica, mas essa forma de desenvolver um tema tão delicado e impactante gera o oposto, tornando a obra menos marcante do que poderia.
Mas, apesar da realização ter seus problemas e falhas, o filme nos relembra que a busca pelo autoconhecimento é constante e incessante, sendo imprescindível a presença da rotina que se impõe naturalmente. O ponto mais importante deste leve drama, porém, vem da representatividade da mulher negra e seus companheiros indígenas, ao colocar um tema assim universal na voz de grupos minoritários, tirando deles o fardo de sempre representarem os mesmos estereótipos em histórias que os aprisionam em momentos específicos da História.
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