Crítica: Megalo Box - 1a Temporada

Provavelmente 2018 foi um dos melhores anos para os animes na história da mídia. Esse gênero da animação nos brindou com uma diversidade de obras com temáticas, direcionamento de público e estilos de animação que produziram mais de 20 temporadas de novas séries de alta qualidade, com umas 10 obras que facilmente poderiam ser o anime do ano. E apesar de não existir um “Oscar” dos animes para coroar um vencedor, o Anime Awards é uma das premiações mais respeitadas e aguardadas da indústria e que serve como um bom indicativo do quanto evoluiu e amadureceu o público que assiste e produz essas maravilhosas animações.

Em 2018 tivemos uma variedade sem precedentes de indicados em suas 13 categorias, com 5 produções aparecendo inúmeras vezes em algumas delas. “Violet Evergarden“, com 6 indicações e vencendo 1; a 3a Temporada de “My Hero Academia“, com 6 indicações e vencendo 5; “Zombie Land Saga”, com 5 indicações; e “Devilman Crybaby“, com 8 indicações e vencendo 2, sendo uma delas o anime do ano (de forma bem merecida), foram os grandes destaques. E chegando à NETFLIX agora, Megalobox foi indicado em 8 categorias, revelando o esmero técnico de uma obra equilibrada e instigante, mesmo não vencendo nenhuma delas.

Durante seus 13 episódios acompanhamos Joe, um lutador de ringues ilegais que forja lutas com seu treinador para fazer dinheiro para a máfia japonesa. Sentindo o seu potencial desperdiçado, já que ele é daqueles lutadores ambiciosos e acima da média, Joe sai com sua moto cortando a cidade até que entra numa rodovia/canteiro de obras e quase atropela Yukiko, líder de uma poderosa corporação e que está promovendo o torneio Megalonia, no qual somente os 4 melhores da associação de lutadores serão convidados a participar. Só que junto a ela, está Yuri, o atual número 1 do ranking, que prontamente pula em defesa de sua chefe. Joe reconhece Yuri, os dois começam a bater boca. Joe chama a mãe de Yuri de coxinha e fala que come no recreio, desafiando o lutador picão a aparecer lá na favela dele pra tomar uns socos na cara, onde “homi” de verdade luta.

Eis que Yuri de fato aparece lá no dia seguinte, janta Joe na porrada de forma espetacular, sai falando que vai pra zona comer a mãe dele e que se quiser uma revanche teria que ser dentro do Megalonia. Começa aí a saga do nosso lutador para conseguir entrar no torneio, já que agora entregar as lutas num ringue não oficial deixa de ser uma opção, em uma cena no melhor estilo “Snatch” – e caso você não tenha entendido a referência veja esse filme o quanto antes -, com seu orgulho e vida na balança. Só que para ter sucesso nessa empreitada em 3 meses, Joe precisará lutar muitas vezes, tornando sempre a próxima luta contra lutadores mais fortes e com seu corpo exaurido da luta anterior mais dramática.

Adicionando ao drama, para conseguir visibilidade, seu treinador e ele adotam uma tática perigosa, mas que dá certo. Joe luta sem gear – tipo uma armadura mecânica que protege o lutador e potencializa seus golpes – ganhando a alcunha de Gearless Joe. E o que deveria ser uma jogada promocional para atrair o público e lutadores com ranking elevado, acaba se tornado algo muito mais relevante, levando a série para rumos emocionalmente densos, com a habilidade como lutador mais em evidência do que o uso do gear.

O uso desse aparato vai permitir diversos comentários pertinentes durante os episódios, além, claro, de tornar o esporte muito mais violento e perigoso. As lutas são brutais, com massacres que nem o Rocky aguentaria e que acabam, obviamente, muito rápido. Além de proporcionar essa selvageria, o uso do gear sendo promovido no Megalonia por uma empresa que fabrica diversos modelos diferentes – tendo um dos herdeiros da empresa lutando com um gear com inteligência artificial e no campeão Yuri seu símbolo máximo de sucesso usando um gear integrado ao seu sistema nervoso – torna o confronto com Gearless Joe um embate não apenas de interesses corporativos, mas também filosófico. Como conciliar a demanda de um público que se empolga com um lutador sem gear com a venda de uma imagem de lutador com o gear perfeito? Quem é mais talentoso nesse caso? O último episódio é um dos mais espetaculares de 2018 e plenamente satisfatório, respondendo a pergunta prévia te dando um soco (com gear) na cara.

E que antagonista carismático é o Yuri. Luta como o Ivan Drago, com uma frieza e precisão cirúrgica, mas com o carisma e senso de justiça do Rocky. Confesso que torcia pra ele tanto quanto para nosso protagonista, mas em uma relação construída com o passar dos episódios que o molda além do clássico arquétipo de vilão. Além dele, os outros adversários que Gearless Joe enfrenta também são multidimensionais, com histórias e particularidades que acrescentam a discussão sobre o talento versus equipamento. Os personagens de apoio – especialmente o seu treinador Nanbu e o garotinho adotado pela equipe, Sachio – criam uma relação de amizade, devoção e superação – já que todos são uns fudidos na vida – que dão substância ao anime quando não estamos assistindo lutas. Diga-se de passagem, menos da metade do total do tempo do anime se passa em um ringue.

Embora seus primeiros 6 episódios sejam um pouco arrastados e a subtrama da máfia indo atrás da equipe de Joe não ganhe a proporção devida até seus momentos finais, pouco tenho a falar de negativo sobre a obra, que se sobressai tecnicamente, vide suas 8 indicações no Anime Awards. Contando com uma proposta artística oitentista muito bem concebida e uma dublagem nacional que deixa a desejar, mas dá pro gasto, Megalo Box é uma opção de entrada para os iniciantes em animes, de deleite para os otakus de plantão e para fãs de boxe/lutas no geral.

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.