Crítica: A Ordem (The Order)

Pegue o que de mais rentável se produziu no Cinema e na TV, de poucos anos para cá, e separe alguns de seus assuntos centrais. Repita a fórmula em seus modelos e que dessa mistura saia algo que agrada a todos. De crianças a adultos, passando por adolescentes, temos nas salas escuras o grande fenômeno que foi Harry Potter, com seus bruxos e magias e todo um universo a ser descoberto e vivido. Nas poltronas e sofás, por quase uma década acompanhou-se, em especial por adolescentes, os dramas juvenis de meninos e meninas que eram vampiros, no campeão de audiência “The Vampire Diaries”. Os mundos fantásticos de ambas as produções poderiam gerar, em associação, uma nova fonte de renda aos estúdios. Mas, tirando o brilhantismo de J. K. Rowling e o carisma dos atores e personagens de TVD, nada sobraria além de migalhas que não conseguiriam sequer se tornar um aperitivo para passar o tempo. É isso que nos parece ser a nova série lançada na Netflix, A Ordem.

Jack (Jake Manley) é um misto de nerd com descoladão, menino lutador e desenvolto nos lances com as meninas (tudo isso em uma só personalidade, amigo). Ele é aceito em uma universidade, na qual há uma sociedade secreta cujos membros realizam – supostamente – magia negra. Ele e seu avô, Peter (Matt Frewer), fazem de tudo para que Jack entre no tal grupo, pois o “mestre dos magos” (não o fabuloso velhinho do “Caverna do Dragão”) é seu pai – o qual nunca conheceu – e alvo principal deles, desejosos por uma vingança pessoal, já que o grande mago foi responsável pela perda da mãe/filha dessa dupla de personagens. Uma vez lá dentro, nosso protagonista terá que agir com muito cuidado para não ser descoberto em seus planos. Mas tudo fica pior ainda quando a Entidade de um Lobo o escolhe para ser um lobisomem. Atuando, portanto, como agente infiltrado no clã dos feiticeiros – elementos caçados pelo clã dos lobisomens – Jack passará por muito perrengue na tentativa de alcançar seu objetivo.

O nosso menino.

Meia temporada se passa e os conflitos que surgem não inspiram muito o espectador. Alguns episódios são gastos na auto-aceitação do menino principal em relação a sua nova natureza de lobisomem. Uma interessante alegoria se apresentaria para os conflitos de um ex-adolescente tomando seus primeiros rumos de adulto nessa dicotomia lobo versus homem, ou besta versus humano. O problema é que nem nisso a série consegue dar a devida atenção, de modo a tornar o embate do personagem como algo minimamente mais significativo. E não só para essa questão especificamente. Tudo na série parece seguir esta mesma onda (ou seria melhor dizer “marola”). As contendas vêm e vão sem o menor impacto ao espectador e tampouco aos seus personagens. E o tema central, até boa parte desta temporada, é relegado a segundo, quiçá terceiro plano, perdendo nosso protagonista em caminhos que não agregam à narrativa.

Como se não bastasse um roteiro fraco, a direção pesa na rédea solta com a qual segura seus atores. Atuações que não despertam, diálogos que disputam profundidade com uma poça d’água de uma esburacada calçada do Rio de Janeiro pós-chuva de verão e confrontos que tampouco se desenvolvem satisfatoriamente vão conspirando para fazer desta série uma produção um tanto quanto enfadonha. Se, de início, a sinopse e uma cena ou outra até ensaiavam algo minimamente legal de se acompanhar – em especial para os saudosista de TVD – ao longo dos episódios os erros de seus realizadores se apresentariam mais e mais eloquentes, fazendo-nos olhar, de tempos em tempos, quanto tempo ainda faltava para aquele episódio acabar.

Na vida real, os amigos aí sairiam correndo dessas máscaras.

Se Harry Potter contou com uma criação certeira e segura, fazendo-nos mergulhar em um universo de fantasia para esquecermos, por um instante que seja, as mazelas do mundo real; se “The Vampire Diaries”, apesar de seus erros grotescos e traições constantes à sua própria mitologia, conseguia criar uma relação do público com seus personagens, que encarnavam conflitos realmente dignos; A Ordem mostra que uma mistura louca de bons ingredientes não necessariamente resulta em uma produção de gosto. Essa realização, portanto, nos faz consentir com uma fala de um dos personagens mais legais da série em discussão: “lamento por essa geração”.

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