Crítica: The Promised Neverland (Yakusoku no Neverland) - 1a Temporada

O gênero do terror sempre encontrou enormes dificuldades em conseguir criar uma boa ambientação dentro do mundo dos animes. São raros os casos que uma atmosfera tensa e horripilante se estabelece e segue durante a maior parte dos episódios. No Garimpo Crunchyroll 1 e Garimpo Crunchyroll 2, indiquei duas obras que conseguiram criar bons momentos de tensão: “Erased” e “Another”. Contudo, elas acabam – por uma série de fatores que o maravilhoso vídeo abaixo explica didaticamente – se perdendo e caindo em momentos visuais chocantes, mas despidos de terror. Eis que então chega a adaptação de The Promised Neverland no serviço do Crunchyroll, que instantaneamente passou a figurar entre meus animes favoritos do gênero (o que é uma tarefa fácil) e, provavelmente, estará entre os 10 melhores de 2019 (essa sim, tarefa árdua)

Correndo o risco de estragar essa surpresa – e já aviso que o texto conterá spoilers do 1o episódio -, somos levados a compartilhar o dia-a-dia em um orfanato no campo com inúmeras crianças de 0 a 12 anos de idade. Essas crianças compartilham um ambiente saudável ao ar livre, com muito estudo, testes constantes e uma “mãe” carinhosa e atenciosa. Contudo, coincidentemente, a partir dos 6 anos de idade, as crianças com um intelecto menos favorecido começam a arranjar lares adotivos, enquanto as mais inteligentes vão ficando até completar 12 anos e serem “compulsoriamente adotadas”. Todas essas crianças adotadas nunca enviam correspondência e, na noite de sua saída do orfanato, a despedida é feita dentro da casa, sendo terminantemente proibido acompanhá-las até o portão, além de sair da propriedade, que é delimitada por uma cerca baixa.

Porém, contrariando as regras de Isabella (mãe), Norman e Emma – duas das três crianças mais velhas e mais inteligentes – correm ao portão para entregar a Conny, criança de 6 anos adotada da vez, seu ursinho de pelúcia. Então elas descobrem algo que transforma completamente o cenário montado: o corpo de Conny sendo embalado para envio como uma iguaria por seres demoníacos. Na verdade, eles descobrem que o orfanato é uma espécie de fazenda de alta qualidade de crianças inteligentes para consumo pelo alto escalão desses seres que aparentemente dominam o planeta. Começa aqui a saga que nos conduzirá por momentos de tensão absoluta. Com a ajuda de Ray – a outra criança de quase 12 anos – Emma e Norman começam a tramar para escapar de lá com todas as crianças antes do próximo envio, enquanto Isabella tenta descobrir quem estava no portão naquela noite.

Com essa fabulosa premissa, esses 3 protagonistas nos arrastam por filosofias completamente diferentes, mas com o mesmo objetivo: sobreviver. A química entre eles, as manipulações, dissimulações e parceria levam a série nas costas, que, com uma antagonista com a qual conseguimos criar empatia, nos arrasta para um jogo de gato e rato que me fez lembrar do saudoso “Death Note“. A ambientação, alternando momentos idílicos na fazenda durante o dia e macabros durante a noite, mostra a capacidade técnica e controle total que os produtores tinham do material fonte. A qualidade técnica da animação, com enquadramentos inovadores e que criavam tensão, fluidez nos movimentos e, especialmente, constância durante todos os 12 episódios, colocam o estúdio CloverWorks – produtor em 2018 de Darling in the FranXX e Seishun Buta Yarou wa Bunny Girl Senpai no Yume wo Minai, ambos sucesso de crítica – no hall das grandes promessas nipônicas para os próximos anos.

O refinamento do roteiro, especialmente considerando as circunstâncias na qual eles se encontravam de total desamparo e ignorância do mundo lá fora, conseguiu traduzir elementos do mais puro terror e medo da morte. A dosagem em que as informações além do portão eram apresentadas, os obstáculos que surgiam e os sacrifícios necessários para conseguirem fugir contribuem para uma narrativa coesa e crível, o que falta em muitos animes de terror. Talvez os únicos pontos que a obra pequem sejam no abrupto corte de tempo em seu penúltimo episódio, que mascarou elementos importantes entregues em seu final e que seriam interessantes de acompanhar, e a história de nossa antagonista Isabella, em um dos momentos mais emocionantes da série.

Com sua 1a temporada escancarando as portas do terror e do suspense, The Promised Neverland roga por uma segunda entrada o mais breve possível. Sendo você ou não um fã de animações japonesas, essa é uma obra que transcende gênero e será lembrada futuramente como um dos grandes junto ao “Death Note” e cia. Ele está disponível gratuitamente na plataforma Crunchyroll (clique aqui). Aproveite!

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