Crítica: Santa Clarita Diet - 3a Temporada
Santa Clarita Diet chega à sua 3a temporada na NETFLIX, o que, para muitos que já estão saturados com a temática zumbis, é um feito e tanto. Contudo, a obra em questão só consegue prosperar justamente por se apoiar nas dezenas de filmes e séries dos últimos 15 anos que inundam o mercado cinematográfico e a cultura popular. Já abordei o assunto em nosso Garimpo Netflix: Zumbis! e na crítica da 2a temporada da série, então recomendo fortemente que você os leia, pois me apoiarei neles para fundamentar alguns dos argumentos sobre essa nova entrada – vulgo, spoilers.
Continuamos exatamente de onde fomos largados na temporada anterior, com Sheila (Drew Barrymore) e Joel (Timothy Olyphant) escapando com vida da explosão na fazenda de criação de ostras infectadas que a transformou em zumbi e com sua filha Abby (Liv Hewson), acompanhada por seu vizinho Eric (Skyler Gisondo), escapando também de uma explosão – dessa vez feita por eles – numa atividade industrial que estava acabando com o lençol freático local.
Santa Clarita já havia flertado discretamente com um lore próprio envolvendo uma história de séculos de manifestações zumbis na Sérvia, com referências encontradas em manuscritos quase sagrados. Dessa vez a série mergulha de cabeça em sua própria identidade e nos apresenta os cavaleiros sérvios, uma ordem de bravos combatentes que defenderam o mundo desse mal e possuem um rígida estrutura e tradições. E é claro que um dos seus representantes está em Santa Clarita atrás de Sheila, que também desconhece que na embaixada local da Sérvia militares estão tentando encontrá-la antes dessa ordem de cavaleiros, motivados por aqueles manjados propósitos de se aproveitar das circunstâncias para ganhar vantagem bélica (ou assim achamos).
Velhos conhecidos deixados de lado na 1a temporada voltam e introduzem novas questões bem interessantes, como a saída de Ron (Jonathan Slavin) do hospício e seu desejo de se tornar um zumbi, que além de ser divertidíssimo, ajuda a fechar um ciclo importante ao final dessa temporada, talvez o final mais satisfatório e conclusivo até aqui da obra. Seu aparecimento também acrescenta pressão em Joel, que está em um dilema com sua esposa zumbi sobre se tornar ou não imortal, deixando Sheila transformá-lo em um morto-vivo. Embora não seja uma grande discussão filosófica, as dúvidas que ela suscita são um frescor num mar de galhofadas.
Falando em novidades, há aqui uma mudança no direcionamento do roteiro. Enquanto nas duas temporadas prévias os episódios giravam em torno da sobrevivência de Sheila, tanto a nível biológico, com a família tentando criar meios sustentáveis para alimentá-la, quanto a nível social, evitando serem pegos pelos crimes que cometem e de terem seus segredos revelados, nessa temporada o foco está em encontrar um propósito e seguir com a vida. Isso fica mais evidente na postura de nossa protagonista forçando uma barra em Joel em aceitar ser seu parceiro eterno ou na sua relação com Anne (Natalie Morales), que a idolatra como representante de Deus na Terra ou até mesmo com sua visão de Ron como um mal a ser parado justamente por ele querer o que ela quer, dar vida eterna para pessoas que estima. É antagônico e tão humano e verdadeiro como quase tudo que fazemos.
Surpreendentemente, dessa vez a dupla Abby e Eric é que brilha mais. Eles já vinham orbitando a história principal sempre com bons momentos, mas dessa vez eles protagonizaram as melhores discussões – no caso sobre ecoterrorismo – e cenas de humor. Puta quiu pariu! Eu ri demais com os dois tentando escapar do FBI e fazendo de tudo para não se entregarem ao nítido tesão que ambos sentem um pelo outro. Uma pena eles não terem sido mais aproveitados anteriormente.
Santa Clarita Diet é comédia galhofa e propositalmente mal atuada e que bom que seja assim. Ao fazer isso ela permite tecer críticas sociais que acertam bem no âmago do seu ser e te deixam aquele sorriso amarelo no rosto por você saber que talvez não devesse estar rindo daquilo. A sua 3a temporada fecha um ciclo importante, adiciona tradição em um lore moderno e arranca boas risadas. Posso dizer com segurança que foi sua melhor entrada e que cumpre a promessa de entreter de forma descompromissada.
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