Especial Dia da Mulher - 10 Personagens Femininas Subestimadas
8 de março. Data celebrada desde o final do século XIX que “relembra as lutas sociais, políticas, e econômicas das mulheres”, de acordo com a Wikipedia. A descrição faz sentido se utilizada para resumir o contexto da data, mas vai muito além disso. Anos de batalha para conquistar oportunidades e igualdade nesse mundo maluco em que vivemos. Porém, sejamos sinceras, ela continua.
É de se admirar que meios de comunicação como o Cinema e a televisão tenham nos dado uma voz que ganha cada vez mais volume a cada história feita, seja na frente ou por detrás das câmeras. Uma variedade sem fim de pioneiras da realidade e ficção. Desde artistas como Shirley Clarke, Sofia Coppola, Oprah Winfrey e Lucille Ball até personagens como Ellen Ripley, Clarice Starling, Daenerys Targaryen e Midge Maisel, temos uma lista extensa nos dois lados da câmera. Mas, ao mesmo tempo, encontramos nomes que, aparentemente, não recebem o grau merecido de apreciação.
Homenageando alguns desses mulherões da porra, preparamos uma lista com 10 personagens femininas, de filmes e séries, subestimadas pelo público, pela narrativa da obra ou por ambos. O critério para a formação da lista não poderia ser mais simples. Se não ganharam a atenção e amor dos espectadores quando surgiram, aqui estão.
Então, sem mais delongas (e ordem específica), aqui vão nossas homenageadas!
– Peggy Olson (Elisabeth Moss) – Mad Men
Antes de conquistar os corações da crítica e do público ao dar vida a June Osbourne/Offred na aclamadíssima “The Handmaid’s Tale”, a excelente Elisabeth Moss interpretou a redatora Peggy Olson na série Mad Men. Caso tenham assistido, é notável que várias personagens não tem uma “fanbase” tão grande quanto a de seu principal protagonista, Don Draper (Jon Hamm). Claro que são muito poucas mulheres com seu próprio arco, mas nenhum deles se destaca como o de Peggy. Ela não é sua típica mulher dos anos 60: objetificada, submissa, bela, recatada e do lar. Diria que, implicitamente, está além do seu tempo. A jornada de Olson é turbulenta no início, mas, com muito trabalho e perseverança, a jovem se tornou a primeira mulher da agência Sterling Cooper a ter sua própria sala e a primeira a conseguir um emprego que não seja vinculado à função de secretária ou telefonista. Apesar de uns desvios pelo caminho e ser considerada “sonsa” por uma parte dos espectadores, devemos concordar que Peggy é um ótimo exemplo de pioneira.
– Maeve Millay (Thandie Newton) – Westworld
Talento é algo que corre nas veias da família Nolan. O irmão caçula de Christopher, Jonathan, e sua cunhada, Lisa, criaram o sucesso Westworld, inspirada na obra do falecido Michael Crichton. Por mais que a série tenda a focar nos bastidores do parque e na relação entre Dolores e outras figuras (além de sua própria crise existencial), acredito que a história mais intrigante e tensa é a de Maeve, a prostituta e anti-heroína da série, papel que rendeu um Emmy merecido para Thandie Newton. A moça tem uma personalidade bem forte e persuasiva, domina toda cena em que aparece com seu carisma único e sedução irresistível, além de representar a expressão deus ex machina de forma competente. Talvez não seja tão lembrada quanto a Mãe dos Dragões de “Game of Thrones”, mas não há dúvidas de que é a rainha dos androides do velho oeste.
– Janine (Madeline Brewer) – O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale)
The Handmaid’s Tale traz uma excelente representação dos lugares do feminino durante toda a narrativa por meio da história distópica que conta, reforçando a forte crença de que o que faz uma distopia brilhante são os (absurdos) traços de realidade. Mostra a mulher revolucionária, a mulher condescendente e, quase que a todo tempo, exibe o lugar comum de ser mulher: a repressão. Seja entre as Esposas que indiscutivelmente são as do “topo da cadeia” no núcleo social de Gilead por sua classe – mas que, vale lembrar, só existem por ter um homem poderoso ao seu lado e são troféus -, seja entre as Marthas, que nada mais são que a representação da mulher não-branca como empregada doméstica ou seja pelas Aias, que existem para procriar e nada mais. Dentro dessa última categoria, temos Janine (Madeleine Brewer), que, além de representar um estereótipo claro de “mulher existe pra ter filho e acabou”, representa outro: o de mulher louca. Taxada de louca pela maior parte de suas semelhantes por ser um “pet” dentro do sistema e uma “verdadeira crente” daquele circo de horrores. Taxada como louca pelos canalhas do sistema por ainda ter dentro de si a velha e boa Janine, e não só a persona inventada Ofwarren. Mas Janine é na verdade uma das personagens mais incríveis da série, que mostra estar viva ali dentro e por vezes inteiramente sã, infelizmente, quanto às atrocidades que lhe cercam e afetam. E que seus momentos de insanidade são, na verdade, uma hedonística forma de entrega à liberdade: os loucos não precisam ter compromisso algum com a sociedade que lhes escarra.
– Van (Zazie Beetz) – Atlanta
Donald Glover sabe bem como englobar assuntos importantíssimos e promover críticas sociais com uma pitada de humor satírico no estilo Irmãos Coen. O resultado dessa mistura é a brilhante comédia Atlanta. Dentre seus personagens marcantes, temos a namorada de Earn, Van (Zazie Beetz). Infelizmente, seu tempo de tela é limitado e é evidente que, na maior parte das vezes, não recebe o mesmo destaque que o trio protagonista, apesar de ser uma personagem encantadora. Van, na visão generosa de Donald Glover, teve episódios dedicados inteiramente a si tanto na primeira quanto na segunda temporada. E, em cada momento em que ela aparece, podemos ver sua fascinante personalidade e como é bem construída.
– Wendy Carr (Anna Torv) – Mindhunter
Imagino que criarei uma baita polêmica ao dizer isso, mas Mindhunter foi a melhor série de 2017. Pronto. Falei. O suspense de Joe Penhall, David Fincher e Charlize Theron conta a história de dois agentes do FBI que desenvolvem um método de investigação de psicopatas durante a década de 70, além de imortalizarem a expressão serial killer. Exercendo um papel fundamental no processo, temos Wendy Carr (Anna Torv), professora de uma faculdade em Boston. A moça comanda algumas etapas da investigação e ajuda em quase todas, mas é injustamente desvalorizada a ponto de ser esquecida pelos fãs da série e rebaixada a um mero detalhe do enredo. Wendy é tão badass: que ela assume uma posição altíssima para mulheres, numa época em que o movimento feminista cresceu nos Estados Unidos, e ainda assim sendo menosprezada. Para os fãs e novatos interessados, sugiro que revejam a temporada e prestem atenção na complexidade presente em sua trama.
– Summer (Zooey Deschanel) – (500) Dias com Ela ((500) Days Of Summer)
Um fato curioso desse filme é ele ter estreado nos cinemas justamente quando eu estava lá no meu primeiro amor de todos, naquele namorinho de ir ao cinema, comer pipoca, juntar moedas pra comer no McDonalds, brigar por coisas inimaginavelmente idiotas e achar que íamos casar, etc, etc. Esse fato é curioso por que o filme traz a história de um amor desses que parece irreplicável e que, vamos lá, é bastante idiota – não tem como não ser, Pessoa já alertou que cartas de amor são ridículas e por isso são de amor. A história de amor (unilateral) de Tom (Joseph Gordon-Levitt) para com Summer (Zooey Deschanel) já foi alvo de discussão e polarização. Quero, portanto e de uma vez por todas, evitar grandes maniqueísmos: os dois são meio bostas de formas distintas. Mas não quero entrar em suas personalidades em si e sim na verdadeira injustiça cometida com Summer em relação ao julgamento dela enquanto namorada do cara. A história a pinta, e acho que intencionalmente para causar essa reflexão, como uma coração de gelo que usa um menininho apaixonado para curtir a vida e depois mete o pé na bunda dele sem dó. No entanto, a garota só é bem resolvida pra cacete e sabe, e deixa CLARO, que não ama aquele cara. E é só isso. Apenas. Isso. E ele sabe disso também, mas é tão tomado por expectativas e ilusões infantiloides que sua mente distorce o romance dos dois e o transforma numa verdadeira tragédia quando chegado ao fim. Por fim, é um cara que se mostra incapaz de lidar com o fato de que não foi amado por uma menina (como se alguém tivesse culpa nessa história) e fica irritado ao vê-la amando e vivendo após o fim dos dois. Summer, você saiu de uma fria imensa.
– Olive Penderghast (Emma Stone) – A Mentira (Easy A)
Depois do sucesso “Superbad”, que lançou Emma Stone nas telonas, a vencedora do Oscar estrelou A Mentira, comédia subestimada e de protagonista mais ainda. Olive Penderghast é uma estudante do ensino médio que recebe a fama de “fácil” quando um boato falso de que transou com um universitário (inexistente) se propaga pela escola. Ela é objetificada em toda maneira disponível, sendo as mais “leves” uma comparação à protagonista de “A Letra Escarlate” e acusação de adultério (que ela nem cometeu), assim como Hester Prynne. Até a tradução do título em Portugal a objetifica (Ela É Fácil)! Felizmente, Olive dá a volta por cima de seus haters e seu monólogo final deveria servir de exemplo para todos que se sentem patéticos quando uma pequena mentira abala sua imagem ou algum imprestável quer te botar pra baixo. Escolhas questionáveis à parte, a moça é forte, parcialmente realista, percebe seus erros e conquista os espectadores.
– Frances Halladay (Greta Gerwig) – Frances Ha
Já escutaram o nome Greta Gerwig antes, não é mesmo? Pois é. Antes de garantir aclamação mundial no maravilhoso “Lady Bird”, Gerwig nos presenteou com o papel que talvez seja o seu principal como atriz ao protagonizar Frances Ha, comédia dirigida por seu namorado, Noah Baumbach, e roteirizada pelo casal. A personagem titular é uma jovem carismática tentando a vida como dançarina, apesar de suas habilidades “limitadas”. Óbvio que isso não a impede de viver com toda a felicidade e otimismo possível, o que a deixa cada vez mais próxima da realidade. Ao mesmo tempo em que consegue ser realista e absurdamente ilógica, tem momentos em que a vejo e penso “Aí! Eu sei bem o que ela tá passando”. Essa é a beleza tanto de Frances como do filme em si. A mensagem transmitida é algo que todos nós deveríamos almejar e sua manifestação via Frances não poderia ser melhor, além de contar com a fofura e carisma sem fim de Greta Gerwig. Não há uma maneira sutil de dizer isso, mas Frances Halladay, eu te venero!
– Megara (voz de Susan Egan) – Hércules (Hercules)
Sinto muito por decepcionar os fãs de “Lérigou” (Frozen) e “Aiêmoanaaaaa” (Moana), mas a princesa que, de fato, inseriu o feminismo no universo Disney foi Megara, leading lady e heroína da animação Hércules. Pra quem esqueceu, ela é a jovem que vende sua alma para Hades (isso mesmo!) com o objetivo de salvar um namorado. O plano dá certo? Não. Depois dessa furada, Meg perde a confiança em homens e rejeita o herói titular, mas se apaixona, como esperado. Além disso, tenta mentir para si mesma sobre a paixão através de um hino da música e ainda comenta que não vale a pena sofrer por homens e que já passou por isso. Quem nunca? É uma situação comum. Assim como Frances, Megara traz uma proximidade com a qual todas podemos nos identificar, o que é tocante. Talvez a plateia de 22 anos atrás não tenha percebido a genialidade por trás de Meg. Assistam mais uma vez, prestem atenção e reflitam.
– Cindy Pereira (Michelle Williams) – Namorados para Sempre (Blue Valentine)
Namorados para Sempre é um dos filmes mais depressivos sobre relacionamentos que já vi na minha vida – ironicamente, já que o título pode sugerir algo fofo e não há nada, nada de fofo no filme inteiro, acredite. A relação entre Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) é doente, podre e de maneira profundamente triste chegamos à essa conclusão. Não é razoável imputar a culpa em algum dos dois já que ambos tomaram a péssima decisão de estarem juntos (por mais cruel que isso soe), apesar de cheirar a cilada por se conhecerem há pouco tempo e de maneira extremamente superficial ainda. No entanto, o que me leva a pensar que Cindy é subestimada não é por exatamente suas ações dentro do relacionamento (já que os dois fazem merda), mas pelo fato de que seu grande e irremediável erro foi o de ter um bebê e isso por si só já leva o telespectador e os ao seu redor na trama a subestimarem, uma vez que a decisão de tê-lo estaciona sua vida numa área cinza. Ela mesma se subestima, também, por falta de amor numa relação que perde o brilho rapidamente, mas se mantem por necessidade; por não alcançar sonhos nutridos desde tão cedo; por ser incapaz de sair do redemoinho que sua vida se tornou. Cindy é uma personagem que carrega muito pesar e que deveria ser olhada com mais cuidado, já que retrata o destino de tantas vidas e mostra uma fragilidade resultado de um assunto que ainda é muito tabu na sociedade: preterir a escolha de uma vida que pode mudar o rumo da sua para sempre.
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