Garimpo Netflix #10: Alemanha
O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.
Parece-me bastante justo considerar que, seja lá no que for, a Alemanha é destaque no que faz. Futebol, política, reestruturação, educação, carros, filosofia, Arte em geral. Mais especificamente – já que é sempre nosso objeto de interesse aqui – no Cinema. Os alemães sempre me despertaram sincera curiosidade pela força que parecem guardar em seus espíritos inquebráveis, com sua frieza determinante. O alemão – costumo dizer – é um tipo que precisaria ser estudado.
Deste país de unificação tardia, se comparado às demais potências do velho mundo, muitas foram as contribuições deixadas para todos. Dentre elas, algumas que são referência em seus universos particulares, ad aeternum. Por isso, fazer um Garimpo Netflix: Alemanha, após tantas outras nações terem sido contempladas por este nosso quadro, se tornou imperativo.
Revirando o acervo do streaming à procura de obras menos conhecidas – apesar de uma ter tido maior visibilidade – encontramos três títulos que, em algum momento, dialogam entre si em relação a certos temas, mas que trazem narrativas e gêneros completamente diferentes. Um drama violento, uma série misteriosa e um romance doce-amargo são as bolas da vez para nossa homenagem aos amigos germânicos, capazes de atravessar crises e mais crises e se reerguerem de forma, por vezes, inexplicável.
– Amok (Amok), de 2014, dirigido por Zoltan Paul
Fuchs (no tom por Tilo Nest) é um funcionário de uma empresa prestes a fechar as portas. Em questão de semanas a maior parte de sua equipe será demitida e a busca por novas opções de emprego é uma constante entre aqueles empregados na corda bamba. Ele, porém, tenta administrar sua ansiedade juntamente com outros problemas pessoais: a separação de sua mulher, que o traíra, e a mãe que vive em um asilo. Tudo isso gerou nele uma personalidade extremamente fechada e fria para lidar com qualquer assunto que se refira a um mínimo de emoção. Ao ser chamado pelo presidente da empresa, Fuchs recebe uma notícia inesperada: ele é um dos poucos convidados a continuar, recebendo, além disso, uma promoção. É o que faltava para que ele coloque para fora os seus desejos mais obscuros.
Amok, por definição, é uma síndrome na qual a pessoa acometida tem um rompante de destruição de toda forma de vida que atravesse seu caminho, quase sempre concluindo com um atentado à própria vida. Se o título do filme é esse, você já deve criar uma expectativa do que advirá a partir dessas novidades na vida de Fuchs.
Um filme silencioso, que recria o cotidiano de seu personagem movimento por movimento, vai nos levando, aos poucos, vagarosamente, para dentro de seu universo pessoal de caos, frustração e um apetite incontido pela destruição.
– Dark (Dark), de 2017, criado por Baran bo Odar & Jantje Friese
https://www.youtube.com/watch?v=BohSL5T_4ss
Dark foi uma das séries percussoras não americanas a receber atenção da NETFLIX em sua produção e distribuição na plataforma, abrindo caminho para tantas outras que se passam espalhadas pelo mundo. Aqui acompanhamos diversos acontecimentos misteriosos e violentos que ocorrem numa pequena cidade na Alemanha, que envolvem tanta coisa e com um tom de mistério tào onipresente que é melhor nem explicar. Pode parecer que ao almejar muito em temas densos a obra possa deixar a desejar, mas não se engane.
Dark consegue entregar tudo isso com maestria, contando com uma ambientação nostálgica, roteiro amarradinho, um elenco azeitado e uma direção firme. Ela é a versão para adultos de Stranger Things, com uma 2a temporada já em produção e que deverá estrear ainda esse ano.
– Love me! (Liebe mich!), de 2014, dirigido por Philipp Eichholtz
Sarah (com grande naturalidade por Lilli Meinhardt) é uma garota que busca o amor; busca desenvolver suas relações amorosas da forma mais pueril. No entanto, é conhecida por seu temperamento intempestivo e sua paixão avassaladora que a faz sugar o parceiro que está do seu lado. Após levar um fora, ela tenta novas formas de relações, buscando o que faltara em outras pessoas. Sua necessidade por um par acusa uma espécie de vazio interior, provavelmente causado pela relação delicada que tem com o pai e a madrasta. Tudo piora quando, precisando de dinheiro, Sarah mora uns tempos na casa do pai.
No estilo comédia romântica, mas com um flerte leve pelo drama, Love me! nos coloca no universo da personagem, muitas vezes causando distanciamento do espectador para com ela, devido às suas atitudes levianas e demasiadamente afetadas. Deixando o julgamento prévio de lado, porém, percebemos que estamos de frente para uma pessoa machucada sentimentalmente pelas circunstâncias, perdida, a buscar uma espécie de acolhimento pessoal.
Completamente diferente da primeira indicação (Amok) em gênero, o filme pincela sentimentos semelhantes de seus personagens: raiva, medo, frustração e um resgate ao passado por seus protagonistas.
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