Garimpo Netflix #11: Terror vol.2

O Garimpo é um quadro do MetaFictions no qual indicamos toda semana bons títulos disponíveis nas maiores plataformas de streaming. Clique aqui para conferir os anteriores.


O gênero Terror talvez seja aquele que conta com o nicho mais fiel dentre todos. Para alguns, porém, o Terror (ou Horror) surge como de importância secundária. Basta passar rapidamente o olho em festivais de Cinema, por exemplo: quase nunca (quiçá nunca) um filme com essas características sobressai dentre os demais. Muitos acusam este gênero de ser pobre em temática, construção e desenvolvimento. É verdade que há muito do mesmo. Mas isso não é o bastante para se fechar os olhos em relação a todos os seus títulos.

Existem diferentes formatos de se fazer terror: as narrativas adolescentes – que contam com festas, bebidas e nudez – nas quais surge um assassino serial; os contos mais sobrenaturais, colocando espíritos e/ou entidades que levam os protagonistas ao limite; filmes cujas casas demarcam o território, pois são nelas que os acontecimentos vão levando a história; entre muitos outros, que contam com possessões, exorcismos e até figuras monstruosas. Cada qual com seu sabor, seu estilo, seu pavor a ser passado ao espectador.

Tendo em vista esses vários tipos, o Garimpo Netflix Terror vol. 2 traz uma linha específica do gênero, mas não no formato ou em sua linguagem. Em todos os três títulos indicados dessa vez, o elemento principal da história está relacionado a ele – e sempre ele: nada mais, nada menos do que o cramulhão, o sinteco gelado, o mochila de criança, o chifrudo, o capiroto, o sete pele, o bafo de enxofre, o diabo, ele mesmo. Com narrativas bem diferentes entre si, e propostas que se distanciam, as três obras tem em comum a “simpatia pelo diabo”.


February (The Blackcoat’s Daughter), de 2015, dirigido por Oz Perkins

Duas meninas ficam em um internato religioso um feriado porque os pais de cada uma não foram buscá-las. Tratam-se de Rose (Lucy Boynton), uma adolescente destemida no que diz respeito à seguir regras, e Kat (em macabra atuação de Kiernan Shipka), uma menina nova e carente, levemente frágil em seu modo de se portar e sentir o ambiente ao seu redor. Porém, durante esse período em que a instituição está quase que completamente vazia, Kat começa a sentir a presença de algo obscuro, que levará cada um dos que ali ficaram a uma jornada de tensão, pavor e condenação.

February (que é o nome que consta na Netflix, mas o filme tem o nome em português de A Enviada do Mal e outro título original como The Blackcoat’s Daughter) é um filme com roupagem de terror, mas que trabalha profundamente os dramas psicológicos de seus protagonistas. Sua narrativa é extremamente lenta e o desenvolvimento da história se dá aos poucos, por meio de uma costura pouco didática, na qual o espectador tem que fazer um pouco do papel de tecelão. A partir do momento em que quem assiste imerge na obra (e não espera que a obra venha até ela), o conto vai se intensificando e se tornando cada vez mais assustador. Não deixando, porém, de manter a profundidade emocional e psicológica sobre a qual trata em todo seu desenrolar.

Lindamente atuado, narrado e dirigido, February é definitivamente um filmaço!

A Chave Mestra (The Skeleton Key), de 2005, dirigido por Iain Softley

Caroline Ellis (em atuação firme de Kate Hudson) é uma enfermeira cansada de seu trabalho em hospital. Ela aceita a oferta para ser cuidadora de um homem velho, Ben Deveraux (muito bem por John Hurt) que, por problemas de saúde, não consegue se comunicar, ficando basicamente parado em uma cadeira a maior parte de seus dias. Muito diferente de sua mulher, a senhora Violet Deveraux (em grande presença de Gena Rowlands), que se apresenta como a verdadeira dona do local, identificando o que Caroline pode ou não fazer. Em seu primeiro dia, a senhora entrega à cuidadora uma chave capaz de abrir todas as portas de sua enorme e nada convidativa casa. Ao longo de seus dias de trabalho, que parecia deveras simples, a jovem mulher se verá frente a frente com segredos sinistros, presenças estranhas e práticas assustadoras.

O que parece ser um mero filme de terror, daqueles para preencher os lançamentos da semana no cinema – e o que para muitos, de fato, é – na verdade, se mostra como uma obra que amedronta, que provoca tensão em diversas cenas e que traz, para além do simplório terror pelo terror, um olhar racial extremamente interessante, já que se passa no Sul dos Estados Unidos e abraça elementos como a relação entre negros e brancos, desde décadas atrás até aquele momento atual.

Apesar de não ser o clássico garimpo, já que teve alguma visibilidade à sua época, este filme de mais de uma década traz os elementos necessários para amedrontar qualquer espectador: casa sinistra, voodoo e um pentagrama com velas ao redor.

Aterrorizados (Aterrados), de 2017, dirigido por Demián Rugna

Antes que aquele espectador que gosta de tudo dado em um filme inicie seu rebuscado palavreado para me elogiar em público nos “comentários” do site, devo ressaltar que este título argentino não é para o seu gosto. A obra começa já no universo aterrorizante dos personagens, sem explicações ou sem introduções acerca do assunto. Estas questões vão sendo pinceladas ao longo das sequências, mas nada que justifique muito como tudo aquilo acontece, suas motivações ou algo que o valha. Tal qual seus protagonistas, somos abandonados às cenas de horror que imperam a cada lance desta produção envolvente.

Um policial, que já teve experiências inexplicáveis (as quais chamamos sobrenaturais), começa a investigar o caso de uma mulher jogada um sem-número de vezes contra a parede de seu banheiro, quando da companhia de seu marido. Evidentemente, tudo apontaria para ele, mas a noção de que há algo paranormal na casa faz com que o policial se utilize de pessoas/meios pouco usuais no ambiente criminal para desvendar este incidente que parece estar ligado com outras casas da vizinhança.

O filme pode até falhar por não dar um mínimo de explicação (não toda ela, porque isso é completamente desnecessário) ou contextualização em relação às atividades sobrenaturais que seus personagens experimentam, assim como sua conclusão, que se apresenta um tanto brusca. Além disso, também poderia ter aprofundado as situações que cria com bastante vigor. Apesar disso, há nesta obra uma atmosfera definitivamente aterrorizante.

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