Crítica: Alguém Especial (Someone Great)
Quase como uma tradição, assim como no Cinema em que praticamente toda semana há um lançamento de terror, a Netflix parece seguir a mesma lógica com as comédias românticas. E tal qual o outro gênero, o que observamos, não raro, são produções que embarcam em uma mesma fórmula, revelando-se muito pouco inspiradas, insistindo nos velhos clichês, apostando única e exclusivamente em um mesmo modelo, sustentado apenas pelo estilo cinematográfico em questão. A bola da vez é Alguém Especial, a compor a fila de estréias do streaming.
Na véspera de sua mudança para o outro lado do país, a hispânica Jenny (Gina Rodriguez) é obrigada a se ver sem o namorado que tinha desde a época da faculdade; isto porque o desgaste do relacionamento foi o bastante para o rapaz não querer seguir em frente. Tendo que lidar com, muito provavelmente, o pior dia de sua vida (administrando, além disso, a ausência que terá de suas melhores amigas, por conta da mudança), ela decide curtir a noite de Nova York com as bests Blair (Brittany Snow) e Erin (DeWanda Wise). Nessas horas de pura diversão, as meninas bebem, se drogam e aproveitam os poucos momentos que ainda dispõem juntas, revelando os dramas pessoais de cada uma.
Nessa mini-jornada de um dia, Jenny amadurecerá sua relação com o amor, vendo na quebra do namoro os lados positivos e negativos que sobressaíram de longos de anos ao lado de um mesmo par. Em paralelo, vê suas amigas também mudando a forma como lidam com o sentimento, seja na pele de Erin, que mantém pés e mais pés atrás no que concerne mergulhar em definitivo em um relacionamento; seja na ilustração de Blair, que mantém um insosso namoro com um insosso homem, traindo-o de tempos em tempos com um mesmo camarada. As três personagens, portanto, representam as diferentes formas de convívio amoroso: aquele que parecia ser o ideal, mas não deu certo; o outro que demora a andar, devido ao medo; e o que vive de mera aparência ou uma simples comodidade. Além disso, as três protagonistas conseguem, de uma só vez, trazer os principias arquétipos em voga nas produções atuais: uma americana hispânica, uma negra gay e uma branca hétero, sendo todas elas aparentemente feministas (nenhuma bandeira levantada durante as sequências, porém; a não ser por uma xícara escrito “feminista” nas mãos de Blair).
Como também em voga nas principais produções atuais de comédia romântica, temos o nada bom e velho modelo deste gênero, que apresenta as mesmas tiradas, os mesmos conflitos, personagens rasos, soluções rápidas e, por vezes, pouco verossímeis, tornando a exibição cansativa ao não trazer nada minimamente diferente. Não é necessário sequer fazer algo original, mas daria tranquilamente para fugir, nem que seja um pouco, do roteiro já tão batido e visto em tantos e tantos outros exemplos. Além disso, no caso específico desse filme, o desenvolvimento das situações pelas quais as personagens passam parecem um apanhado de banalidades em um dia de mera curtição: bebedeira, drogas e shows, sendo entrecortados por lembranças de seu tão novo ex-namorado. Se por um lado as memórias traziam alguma empatia à história, por outro a falta de conteúdo para motivações tão determinantes ao rumo da narrativa faziam cair por terra a tentativa dessa construção.
Em mais um esforço de abraçar as minorias, com a composição anteriormente descrita de seus personagens, parece que não há preocupação em se criar uma história minimamente atraente, e sequer os assuntos referentes a estes grupos são tratados como mereceriam. O resultado é mais um filme vazio em conteúdo, levantando falsas bandeiras sem nenhuma representatividade efetiva ou eficiente, falhando também na forma como desenvolve o roteiro pura e simplesmente.
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