Crítica: A Maldição da Chorona (The Curse of La LLorona)

Einstein uma vez disse que duas coisas eram infinitas: o universo e a estupidez humana. Se vivesse em nossos tempos, o mestre da Física teria de acrescentar um terceiro item à sua lista: as franquias cinematográficas. Embora, no caso delas, a criação de universos (hello, Marvel) e a estupidez (oi, Velozes e Furiosos, turu bom?) andem juntas. Dessa vez, quem chega para encostar na lista dos infinitos de Einstein é A Maldição da Chorona, de Michael Chaves, que estreia nas telas expandindo o universo do excelente e bem-sucedido “Invocação do Mal” (2013), de James Wan, e adicionando a ele uma boa dose de nada.

A assistente social Anna (Linda Cardellini) se depara com um caso bastante esquisito de sua carreira. Uma imigrante mexicana (Patricia Velasquez) é acusada de maus tratos contra os filhos. Anna encontra as crianças cheias de marcas, queimaduras e outros sinais claros de abuso. No entanto, a mãe e os próprios filhos afirmam que a autora de tudo aquilo é a Chorona, uma entidade mítica do México que, após matar os dois filhos para se vingar do marido no século XVII, vaga pelo mundo aterrorizando e afogando crianças alheias. Quando tudo parece não ter como piorar, Anna vê o horror entrar em sua própria casa na hora em que a Chorona decide ir atrás dos filhos da assistente social. Para livrar-se do encosto, ela apela para Rafael Olvera (Raymond Cruz), um ex-padre que, agora (e por agora leia-se 1973), dedica-se ao ofício de curandero e piadista para alívio cômico de filmes de terror.

O maior problema da produção é a sua absoluta falta de originalidade. Nada no filme soa novo, mas, sim, um emaranhado de clichês que chegam a transformar momentos tensos em motivos de risos. De orações pomposas em espanhol a cenas clássicas envolvendo banheiras e sótãos, além de nuvens negras emoldurando torres de igrejas, tudo é mais do mesmo. Até a fotografia, com seus ambientes escuros, e a direção de arte, em versão anos 70 de Feira Escolar, se contaminam pelo lugar comum.

No quesito roteiro, a coisa não anda também. Apostando no tradicional artificio das cenas de susto, ele se vale de truques à exaustão, permitindo que o espectador já antecipe o que acontecerá. Não há, também, um desenvolvimento de personagens. Por exemplo, os motivos que levaram Rafael a abandonar a Igreja não são explorados em nenhum momento. Por outro lado, há um excesso de explicações que beira o didatismo bizarro em situações que o uso de dois neurônios já permitiria pleno entendimento.

O longa também deixa vários furos de verossimilhança. É impossível não se perguntar, por exemplo, como as crianças ficam tanto tempo sozinhas. Alô, Conselho Tutelar? O problematizador em mim também não deixou de se incomodar com algumas interpretações possíveis do ethos. Por que a Chorona só ataca filhos de famílias sem pai? Viúvas e mãe solteiras deixam as famílias mais vulneráveis? (Oi, Mourão). E, em tempos de Trump, demônios mexicanos atacando nos Estados Unidos podem ser usados como justificativa para o muro?

Em suma, A Maldição da Chorona (que título ruim, misericórdia) não faz muito pelo universo no qual se insere. Aliás, a ligação mais direta, além da ambientação nos anos de 1970, é uma aparição deTony Amendola retomando seu Padre Perez, de “Anabelle (2014). No mais, caso decida sair de casa no feriadão, leitor Metafictions, um combo pipoca, cinema, um ou outro susto e algumas risadas já é alguma coisa.

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