Crítica: O Date Perfeito (The Perfect Date)
Você certamente conhece a famosa frase: “nada se cria, tudo se copia”. Pois é exatamente nessa linha que seguem, para a infelicidade do espectador exigente, a maioria das produções do gênero comédia romântica. Seguindo um padrão narrativo já manjado pelo público, seja em termos de perfil dos personagens e desfecho de acontecimentos, posso afirmar que O Date Perfeito é apenas mais um na enorme fila de filmes que não acrescentam nada em nossas vidas. E afirmo isso categoricamente porque durante os 90 minutos do filme tive vontade de abandonar o barco diversas vezes devido à monotonia e superficialidade da trama, além de atuações dignas de Malhação.
O jovem Brooks Rattigan é vivido por Noah Centineo, que parece ser um dos queridinhos teen da Netflix após estar em outros dois originais da plataforma, que aliás abordam temas também relacionados ao mundo adolescente/estudantil – “Para Todos os Garotos que Já Amei” e “Sierra Burgess É Uma Loser“. Aqui, Noah assume o perfil típico do garoto pobre cujo sonho é ser rico e bem-sucedido, o que, em sua visão capitalista e sexista de mundo, inclui dirigir um carrão (estaria ele tentando compensar alguma coisa aqui?) e pegar a mocinha mais padrãozinho da área. Para isso, Brooks acredita fortemente que o começo de sua ascensão social está na Universidade de Yale, que lhe parece inalcançável pela falta de grana.
Para sua sorte, nosso herói conta com a ajuda de seu amigo Murph (Odiseas Georgiadis), que cria um app de encontros no qual as mulheres podem escolher a personalidade que seu date irá assumir. Formando os outros dois núcleos de interação de Brooks estão seu pai, Charlie Rattigan (Matt Walsh), escritor/professor fracassado por quem o garoto obviamente não tem interesse ou afinidade, e a jovem Celia (Laura Marano), que acaba por fazer parte do cotidiano de Brooks após um encontro arranjado pelo primo da garota.
Dito isto, encontramos no longa os elementos-padrão de qualquer comédia adolescente que se presta a alcançar seu público: o garoto ambicioso, que abre mão de ser quem ele é para agradar os outros, tentando chamar a atenção da mina mais bonita da escola, enquanto não percebe que sua verdadeira alma gêmea é a garota chata pra cacete e implicante, cuja personalidade é geralmente passivo-agressiva.
Não há em O Date Perfeito uma gota de originalidade, o que se nota nos diálogos e situações mais clichês apresentados ao longo de uma trama superficial e, como disse, repetitiva em sua temática. As cenas em que Brooks conversa com seu pai, seu melhor amigo ou mesmo a garota de personalidade forte com quem ele aprende a se relacionar apresentam questões até relevantes para o universo adolescente, mas que já foram abordadas de tantas formas que acabam por se tornar óbvias demais.
Ao contrário de produções incríveis, como por exemplo a recente e bem aceita “Sex Education” e o longa adorado pelo público em 2012, “As Vantagens de Ser Invisível“, que de maneira bem-sucedida apostam em personagens profundos, cujos dramas/questões também típicos da fase juvenil são abordados sob uma ótica narrativa desenvolvida, sensível e criativa, em O Date Perfeito se realiza a escolha por personagens sem história pessoal ou personalidade desenvolvidos, o que faz com que não criemos vínculos. Nem mesmo a história pessoal do protagonista merece melhores explicações, sendo contada ao espectador de forma rasa e breve.
A meu ver, o filme peca ainda em duas questões: primeiramente, na forma como aborda a questão da homossexualidade, usando a identidade sexual do personagem Murph de maneira “solta”, o que confere a impressão de que tal identidade apenas foi colocada ali por uma questão de interesse midiático em relação ao tema – ou seja, o bom e velho uso de pautas de minorias para “arrecadar like” – sem o compromisso de apresentar a experiência real de pessoas gays; em segundo lugar, na construção de estereótipos, particularmente incômodos, de personagens femininas – a mulher padrão, mais “feminina” e amável, mas que se revela fútil, e a mulher de personalidade forte, inteligente, porém menos atraente e “difícil”, cujo comportamento se justifica pura e simplesmente pela sua insegurança emocional – leia-se, medo de ser rejeitada pelos boyzinhos. Em ambos os casos, a narrativa não chega nem perto de apresentar uma bagagem de constituição de personagem minimamente verossímil.
Antes de encerrar a minha rejeição absoluta contra esse filme merda, é necessário lhe conceder o benefício da dúvida: o longa é claramente uma proposta direcionada ao público pré-adolescente e juvenil (familiar, em geral), o que talvez justifique suas escolhas narrativas, enquanto entretenimento livre e descompromissado. Nesse caso, queira o leitor desconsiderar a opinião raivosa desta adulta.
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