Crítica: Quem Você Levaria para uma Ilha Deserta? (¿A quién te llevarías a una isla desierta? )

Todos tivemos a oportunidade, mesmo que desperdiçada, de participar de uma dessas festinhas universitárias em que há um encontro de tensões sexuais de jovens e drogas que permitem que elas sejam extravasadas. É comum nesse turbilhão sexual aqueles joguinhos do tipo verdade ou consequência, eu nunca, eu já e afins, todos direcionados a uma eventual putaria. Uma versão mais leve acontece entre adolescentes do ensino médio, por exemplo, e é ainda mais tenso pelo fato de o sexo ser mais tabutizado ainda entre a pirralhada de 16 anos.

Quem Você Levaria para uma Ilha Deserta não se passa numa roda de universitários sedentos, tampouco numa de adolescentes curiosos; mas poderia. Fazendo uso da tensão (não só sexual) e de drogas na vida, ele explora os caminhos possíveis dessa combinação num grupo de adultos jovens. Infantil? Sim. Uma trama imatura, eu diria.

Paciência. Não é necessariamente um problema uma narrativa ser infantil. Há duas possibilidades: entrar na onda boba, e conseguir entender e avaliar o filme pelas lentes que ele oferece, ou simplesmente revirar os olhos. Escolhi a primeira. No entanto, mesmo com esse esforço, o filme tropeça feio, quase caindo, numa segunda característica: o drama.

A história é de dois casais de amigos que dividem apartamento em Madri há muitos anos. Suas vidas foram entrelaçadas de uma maneira que, não fosse a co-habitação, um não teria o outro como querido. Todos ali são diferentes e amigos por conta daquele espaço. E chega o momento em que todos deixarão o espaço; será que se deixarão, também? É interessante a atenção que o filme volta às permanências ou partidas na nossa vida, pelas coisas fazerem ou deixarem de fazer sentido. Os quatro se veem repensando nisso. No que fica e no que vai, tal qual as dezenas de caixas espalhadas por um espaço quase vazio e a um fio de se tornar estranho para todos.

Uma bela proposta. Tangível em especial quando sou alguém de idade compatível com aquele grupo e que tem essas reflexões com frequência. Os que me cercam, me cercarão por quantas fases da minha vida? Onde vivo será familiar até quando? O futuro que almejo comporta quem sou e quem me faz ser quem sou? Questionamentos de uma construção, que acredito não findar nunca, de uma alma ainda jovem e boba também. Mas, voltando ao filme, não basta uma boa proposta para fazer boa arte.

Inspirado em “Deus da Carnificina”, este longa faz uso do elemento de explosão entre pessoas num cômodo que, por algum motivo, deu espaço para uma carnificina psicológica acontecer. Os quatro se chocam. Revelam-se segredos, afirmam-se verdades que eram ditas baixas ou subentendidas; tudo isso, infelizmente, carregado de dramalhão sem delicadezas, sem tempero balanceado, sem cuidado da parte do roteirista. Estragou o prato. Não se sentia o gosto de mais nada que não dessa mão exagerada de tempero verbal.

Não fosse isso, o longa traria uma ideia interessante que, bem executada, apresentaria uma bonita imersão no próprio eu. Mas a identificação se esvai quando se torna impossível não achar patéticas as cenas dramáticas, por maior que seja o esforço, e aí o telespectador já se perdeu do filme, se desconectou e é difícil apreciar o resto sem impaciência.

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