Crítica: Suzzanna: Enterrada Viva (Suzzanna: Bernapas dalam Kubur)

A família MetaFictions é grande. Aqui na redação somos 13 com idade, credo, formação acadêmica, orientação sexual e política, etnia, dieta e gênero muito diversos, produzindo as mais variadas combinações possíveis. Contudo, mesmo com o cinema sendo o expoente de nossas paixões, esbarramos em certos nichos que costumam ser cativos de um ou outro colaborador. Dentre as diversas predileções, existe um “filão” que une os 3 membros sócios do site: o de filmes merdas de terror do outro lado do mundo que ninguém mais quis assistir. Eu, Gustavo e Renê fizemos quase 100% dos longas do sudeste asiático, especialmente os indonésios (clique aqui para conferir), e, meu caro leitor, que jornada tem sido essa experiência. Nos bastidores do Meta, existe um bordão repetido pelo supracitado Renezinho, citação de Giuseppe Tornatore, que é zoado a exaustão: “Eu gosto de todos os filmes. Mesmo quando um filme é ruim, eu gosto dele. Eu gosto dos filmes simplesmente pelo fato de eles existirem”. Sempre que escuto/leio isso vindo dele, eu imagino a quantidade de merda que Giuseppe assistiu e fico me indagando se ele mudaria de opinião caso tivesse assistido alguns filmes que nós 3 tivemos e (des)prazer de resenhar.

Dito isso, apresento Suzzanna: Enterrada Viva, um filme ruim que MUITO talvez você venha a gostar. Nele, acompanhamos a dita cuja (Luna Maya), recém grávida em sua casa enquanto o marido está no Japão a trabalho, com seu retorno muito em breve. Mas nem tudo é alegria nessa vida, a sua mansão é assaltada por 4 funcionários mal pagos e de má índole que trabalham para seu marido e, em meio a uma confusão durante o ato criminoso, o que deveria ser apenas um roubo, vira latrocínio. Suzzanna morre (enterrada viva, claro), mas acorda em sua cama no dia seguinte… pera, que?! Na verdade, ela se torna a mítica criatura sundel bolong, que no folclore local se refere à alma de uma mulher que morre grávida de um homem que não é seu marido. Geralmente, pelos pré-requisitos, prostitutas costumam ser associadas à lenda, com o significado da expressão sendo “prostituta com um buraco”, que fica sempre nas costas pelo nascimento do feto bastardinho. No geral é bem perturbador e envolve muita informação sensível, mas o longa adota um tom que torna difícil a empatia com o tema.

Tecnicamente ele tem algumas qualidades, a começar pela trilha sonora que em muitos momentos me lembrou os saudosos anos de bons filmes de Tim Burton. Além disso, a fotografia granulada bem oitentista e personagens caricatos me remeteram ao clássico e ótimo “Os Fantasmas se Divertem”, com aquele tom cômico e a temática no terror. Incrivelmente, vide que esses obras tendem a ser formulaicas e genéricas, a história guarda algumas surpresas. A principal é a capacidade de nossa entidade habitar ambos os mundos – o dos mortos e vivos – manifestando-se fisicamente e manipulando tudo e todos ao seu redor. Mesmo sem ser original, o roteiro que busca vingança apronta algumas contigo no seu terço final, adicionando muita maluquice mística que deve fazer mais sentido para os entendedores do folclore local.

Porém, o que estava prometendo ser uma experiência pouco sofrível, se torna uma das maiores torturas audiovisuais pelas quais passei recentemente. O nível de atuação – que era nitidamente direcionado para ser ruim – é tão baixo, tão amador, que parecia aqueles testes para elenco com os piores candidatos possíveis. Além disso, a maquiagem tirou qualquer possibilidade de imersão, sendo tão ruim tanto a Suzzanna em vida, quanto na morte. Eu tive a sensação de estar assistindo um episódio especial do “Chapolin”encontrando o “Zorra Total”, com tudo muito precário e feito nas coxas.

Os poucos momentos de alívio que tive não conseguiram apagar o tormento que foram essas duas horas. Pode ser que você curta algo trashão assim para rir com seus amigos ou queira somente desligar seu cérebro? Talvez. Mas, que me perdoe Giuseppe, definitivamente eu não gosto de todos os filmes.

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