Crítica: Ultraman - 1a Temporada
Lá em 1966, quando meu pai tinha 11 anos de idade, estreava no Japão a série tokusatsu Ultraman, que só chegou a terras brasileiras durante os anos 70, transformando um jovem punheteiro adolescente na casa dos seus 15 anos em um fã incondicional. Aquele moleque maroto, conhecido hoje em dia como Ditão, ficou tão marcado pela aparição desse gigante em 39 episódios que em toda oportunidade que ele tinha de usar infame expressão “na minha época…” – usada por mim falando com meus alunos atualmente – a fazia para enaltecer o quão foda era acompanhar Hayata, Capitão Muramatsu, Arashi e cia. Claro, como bom filho, nunca dei bola para as séries “primitivas” dos anos 70 que meu pai admirava – tirando “Os Herculóides” e “Space Ghost” que são realmente boas – e, até os dias de hoje, ainda viro os olhos quando ele começa a retórica de como os desenhos de 50 anos atrás eram melhores do que os de hoje. Mas eis que vivemos um mar de falta de criatividade, remakes e soft reboots que inunda os estúdios de todo mundo, resgatando clássicos esquecidos e dando uma nova roupagem no intuito de conquistar uma geração que vive num mundo radicalmente diferente daquele que nossos avós/pais viveram.
Adicionando o nome à lista do EJA das séries nipônicas, Ultraman ganha sua 1a temporada na NETFLIX com um soft reboot. Vamos deixar logo claro aqui de cara que, como você pode deduzir pelo parágrafo acima, eu nunca vi um episódio que seja de Ultraman, mas como todo geek outcast crescido nos anos 80/90, eu tenho uma noção básica do seu lore.
Dito isso, essa repaginada manteve o formato serial clássico, mas trocou o gênero tokusatsu pela animação. E convenhamos, quase a totalidade de fãs de anime odeia animação de 3D. Eu já discorri inúmeras vezes sobre isso e não ficarei te perturbando o juízo, basta catar qualquer crítica minha sobre animes que sejam desenvolvidos com essa técnica ou a usem em determinado momento para você conferir. Até bons animes – leia-se roteiro e argumento – perdem e muito por serem 3D, basta ver como isso é medonho em “Zombie Land Saga”, “Baki” e “Forest of Piano” em trechos de ação ou “High Score Girl“, todo concebido dessa forma.
Para a minha surpresa, a animação em Ultraman foi além de ser tolerável, ouso dizer, inclusive, que é um atrativo… talvez seu único, infelizmente. Mas antes de esculhambar com o roteiro, preciso deixar registrado o quão fluido são os movimentos dos personagens, parecendo naturais, com rostos expressivos. Isso era algo que eu nunca havia assistido antes dentro do 3D japonês e, confesso, fiquei impressionado. Não somente pela animação em si, mas pelo trabalho espetacular de câmera em suas cenas de ação, com enquadramentos inovadores e planos sequência de tirar o fôlego. Tecnicamente, o design e animação não deixam a desejar durante seus 13 episódios.
Porém, todo o resto deixa. Até o 4o episódio ia tudo dentro dos conformes com a apresentação dos personagens e ambientação da história. Seguimos o filho do Ultraman original, Shinjiro, que herdou poderes do pai, aprendendo a ser o novo defensor do Japão contra forças alienígenas. De forma até interessante, depois de muitos anos sem o Ultraman em atividade, uma organização formada por humanos e aliens pacíficos passa a policiar seres de outros planetas que buscam viver na Terra sem causar problemas, a Patrulha Científica – sim, uma cópia descarada de MIB -, ocasionalmente tendo que botar ordem na casa com seus agentes, incluindo agora o novo Ultraman e uma penca de genéricos dele que aparecem sem muita explicação.
E é isso. Todo o desenvolvimento para no 4o episódio e caímos em um ciclo interminável de repetição, com o novato aprendendo a aceitar seu destino e os agentes genéricos dando lição de moral matando aliens a torto e a direito. A cada ciclo, uma queda vertiginosa nos diálogos e circunstâncias iam transformando um bom anime em algo que beirava o inassistível, culminando em um 8o episódio que causa vergonha alheia e que me deu vontade de largar a série. Diferente de animes como o já citado “Baki”, que caga para seu argumento descaradamente com o único intuito de ter porrada e sangue de forma desmedida, em Ultraman as coisas acontecem sem explicação ou motivação. É completamente tedioso acompanhar personagens sem um norte – tanto vilões quanto heróis -, salvo as cenas de luta quando eles não estão medindo o tamanho do pau mecânico deles.
Mesmo tendo um final que fecha um ciclo, com um desfecho abrupto e forçado para amarrar as pontas soltas largadas desde o 4o episódio, a conclusão que eu chego é que ou a série original é uma bosta e o Ditão me enganou a vida inteira ou os criadores dessa versão NETFLIX não souberam captar a essência da obra. Estou inclinado a acreditar na 2a opção… só conversando com meu pai pra saber.
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