Crítica: Entre Vinho e Vinagre (Wine Country)

Eventualmente, umas 2 vezes por ano quando muito, eu me reúno com meus amigos do ensino médio. São 21 anos de amizade de uma época de felicidade que dificilmente retornará, quando gozávamos de tempo disponível, nenhuma responsabilidade financeira ou com terceiros e portando uma saúde de ferro. A gente se via todos os dias da semana dentro e fora da escola por 3 anos seguidos, até que, infelizmente, tivemos que optar por caminhos diversos. Conforme os anos foram passando, responsabilidades diferentes caíam em nossas costas, espaçando cada vez mais nossos encontros diários, tornando-os semanais, depois mensais e agora anuais. Hoje em dia, conseguir juntar todos é quase um façanha e o que não falta quando nos encontramos é ficar falando as mesmas merdas que falávamos com 16, 17 anos e o quanto estamos ficando velhos. Considerando que estamos na casa dos 35 anos, ainda temos muito o que envelhecer, mas me pego imaginando como serão essas reuniões quando atingirmos os 50, com filhos (dos meus amigos e não meus, por favor) na idade de quando nos conhecemos.

Entre Vinho e Vinagre tenta celebrar essa amizade duradoura com um grupo de mulheres muito amigas que se conheceram trabalhando em uma pizzaria perto dos 30 anos e que agora estão chegando aos seus 50. O evento que as reúne é a comemoração do quinquagésimo aniversário de Rebecca (Rachel Dratch) que será celebrado no Vale de Napa – uma região famosa por seus vinhos e de beleza idílica na Califórnia – por todo o final de semana em uma casa alugada.

Considerando a temática e o elenco excelente e essencialmente feminino, esperava muito mais do que recebi. A impressão que tive foi de estar assistindo um trailer de 1h40min que não quer mostrar muito, escondendo as melhores partes, para causar surpresas ao telespectador. Essa é uma obra onde absolutamente nada acontece, o que não seria problema se ela tivesse substância, como boa parte da escola francesa de cinema tem, que utiliza diálogos bem escritos que dão profundidade aos seus personagens. O que temos aqui é um elenco inchado, com 6 amigas contemplando vários estereótipos esperados – a workaholic, a gay divertida, a controladora, a porra-louca, a paradona e a “normal” – que não são divertidas e que apresentam questões a serem trabalhadas, mas que não influenciam tanto a história ou não são do nosso conhecimento até os momentos finais.

Inchando ainda mais o elenco, outros 3 personagens funcionaram muito melhor do que as nossas protagonistas. Tammy (Tina Fey), dona da casa alugada que é sempre divertida quando em cena, a garçonete/artista Jade (Maya Erskine), que cria uma relação que arranca algumas risadas com a Val (Paula Pell), que é a amiga do grupinho mais interessante, e o sempre carismático Devon (Jason Schwartzman), que cuida da casa e de seus hóspedes. Quando temos os coadjuvantes roubando a cena num filme de reencontro de amigas, definitivamente o roteiro deixou a desejar. Não temos transformações significativas, fortes rupturas, personagens mergulhadas na crise dos 50 ou situações que forcem algum tipo de engajamento além do habitual (tirando uma já bem no final do filme que, cá entre nós, foi bem ruim). Tudo isso embalado por uma direção sem pulso e conduzido por diálogos fracos e rasos. Tecnicamente, se há algo que se destaca, é a fotografia que se aproveita de um cenário rural de propaganda de caixa de leite.

No mais, ficamos com a impressão de potencial desperdiçado. Atrizes de grande calibre como Amy Poehler (que também assina a direção), Rachel Dratch, Tina Fey e Paula Pell poderiam ter protagonizado diálogos memoráveis e criado situações divertidíssimas, mas acabaram por ficar subutilizadas num filme engessado. Eu substituiria facilmente o “Vinho” do título por “Água” para representar minha imersão; zero.

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