Crítica: Fim do Mundo (Rim of the World)

Sempre que um filme recebe um trailer enaltecendo um caráter apocalíptico eu fico interessado, especialmente se o fim da humanidade vier pelas armas de uma civilização alienígena. Esse é o caso da estreia do final de semana da Netflix, Fim do Mundo, que, além de ter essa temática, apontava para um ambientação a la “Stranger Things“, com meninos na casa dos seus 13 anos andando de bike e salvando o mundo.

A história é simples e batida. Uma invasão alienígena ocorre enquanto 4 crianças com perfis diferentes estão no seu primeiro dia de acampamento. Com o caos instaurado, elas são deixadas para trás na evacuação e encontram uma astronauta numa capsula ejetada da estação internacional que entrega uma chave misteriosa pra eles que é a ÚNICA coisa capaz de salvar a Terra. Cabe aos 4 meninos andar 110km até o centro de comando, evitando de serem mortos, para conseguir entregar a chave ao responsável.

Logo de cara o longa deixa claro para que veio: prestar uma homenagem à cultura pop do cinema. Você será bombardeado a cada instante por referências, indo desde frases icônicas e nomes de séries e filmes, até situações que personagens passam em clássicos da telona. Caso você não seja um grande consumidor do audiovisual, Fim do Mundo não terá a menor piedade e mais da metade das piadas passarão voando por cima de sua cabeça.

E mesmo que você pegue todas as referências, ainda assim você terá dificuldade em entender o motivo do seu emprego. Eis aqui o grande problema do longa, ele tenta ao máximo fazer alusão a outras obras e esquece de criar algo próprio. Diferente de uma das melhores odes do cinema, “O Segredo da Cabana“, que utiliza referências visuais e situações genéricas para explorar o gênero do terror, criando algo muito fora da curva, Fim do Mundo é apenas uma colagem sem qualquer liga.

Isso fica muito evidente com Dariush (Benjamin Flores Jr.), que dispara uma piada a cada 10 segundos, mas que acerta apenas 1 em 20 tentativas. É cansativo e faz um enorme desfavor a película ao roubar tempo de desenvolvimento desses personagens, que se tornam caricatos e rasos. Inclusive, alguns deles apresentam questões que afetam seu comportamento que são revelados apenas no final e de forma tão descompromissada que te fazem ter saudades da 8a temporada de “Game of Thrones“. A atuação galhofada até ameniza essa falta de comprometimento do roteiro e arranca uma gargalhada ou outra, mas não ajuda nem um pouco na imersão.

É uma pena que seja assim. O filme conta com alguns personagens muito promissores que são abandonados assim que começa a invasão, como os monitores negros do acampamento, ou que ficam sem motivo de ser, como uma das protagonistas, a chinesa ZhenZhen (Miya Cech). Qual o sentido de desenvolver porcamente a origem dela se em nenhum momento isso é relevante? Por que a chave salvadora está na estação espacial? Como não se pode operar os satélites da Terra em outro centro militar? São questões banais que incomodam muito, mesmo que você tenha apenas 12 anos de idade, que é mentalmente o meu caso.

O que poderia ser um salva-vidas nesse caso, bons efeitos visuais, também deixa a desejar. Além dos aliens serem referenciados em outros filmes sci-fi, o CGI que dá vida vida a eles é grotesco e com lag, fora que as atitudes desses seres não têm sentido algum do ponto de vista de uma invasão.

Em suma, Fim do Mundo, mesmo direcionado para um público infantil (mas com referência de “John Wick” e “A Hora do Rush”), é genérico, sem conteúdo e carece de qualquer traço de identidade. Esse é um daqueles longas que assim que você acaba de assistir já não lembrará do seu nome.

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